São Paulo – Representantes de empresas brasileiras que participaram nesta quinta-feira (12) de reunião na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, declararam que suas companhias pretendem manter as exportações para os países árabes mesmo com a crise política que atinge parte do Oriente Médio e do Norte da África. A reunião, conduzida pelo CEO da entidade, Michel Alaby, apresentou aos executivos um panorama do cenário econômico e político no mundo árabe.
Segundo Alaby, uma das consequências comerciais da crise política foi a quebra de monopólios e oligopólios que dominavam grandes setores nos países afetados pelas revoltas populares. “Vocês terão novos players no comércio exterior, tanto na área de compras quanto na de vendas”, apontou.
De acordo com o CEO da Câmara Árabe, as empresas devem buscar por oportunidades de vendas diretas para os países árabes. “Muitas operações de comércio são feitas triangularmente”, destacou. Ele citou a região do Curdistão, no norte do Iraque, como exemplo de lugar que compra produtos brasileiros por meio de outros países, como Turquia e Paquistão.
Djavan Biffi, coordenador da Unidade de Negócios Internacionais da Brasil Foods, conta que as exportações da empresa ao mundo árabe não tiveram grandes alterações após o início das manifestações populares. “No inicio, as crises geraram um pouco de incerteza, se isso afetaria a demanda ou não, mas nós não tivemos impactos significativos na demanda e nas exportações para os países árabes”, destaca. Ele revela ainda que a BR Foods, que é dona das marcas Sadia e Perdigão, vai continuar participando das feiras realizadas no Oriente Médio.
Já Raoni Cruz, trader do grupo JBS, diz que, apesar das exportações da empresa terem sido afetadas pela crise, a companhia mantém as previsões de exportação de carne bovina para o mercado árabe. “Com todo o cuidado possível, a gente está tentando manter a previsão (meta de exportação para 2011) e, com a estabilização dos países árabes, a previsão é aumentar”, conta. “O preço da carne, mundialmente, está em tendência de alta, então nossa expectativa é de manter a exportação em um nível sempre crescente”, explica.
Segundo Cruz, as vendas para Tunísia, Egito, Síria, Argélia e Líbia foram prejudicadas, mas ele ressalta que isto não deve afetar significantemente as exportações da companhia, já que ela possui uma atuação global.
No setor de calçados, o trader da Grendene, Artur Bonoto, revela que sua empresa está aguardando uma definição da situação política nos mercados do Egito e da Líbia, países nos quais a companhia vinha expandindo sua atuação. No entanto, ele aponta que, para outros mercados árabes, a expectativa é de continuidade nas vendas. “Nós esperamos uma manutenção [do nível das exportações] nos mercados em que atuamos hoje, como por exemplo, Marrocos e Argélia, assim como Kuwait, Emirados Árabes e os demais países do Golfo.”
Para Fabio Chalita, da Foreign Trade Consulting, apesar da crise, existe um potencial de crescimento muito grande no comércio entre o Brasil e os países árabes. Sua trading auxilia empresas a exportarem produtos como alimentos, calçados, confecções e utensílios domésticos para o mundo árabe. “Tivemos problemas com Egito e Tunísia, por questões óbvias, mas conseguimos manter uma estabilidade com Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuwait”, detalha.
O evento contou ainda com a presença do vice-presidente de Marketing da Câmara Árabe, Rubens Hannun. Ele falou sobre os serviços da entidade e a colocou à disposição dos empresários para auxiliar nos negócios com o mundo árabe. “A tendência é de estabilidade [no mundo árabe] e de aceitação mais forte dos produtos brasileiros nesses países”, destacou.

