Cláudia Abreu
São Paulo – Os tons amarelados sempre fizeram parte da paisagem do Nordeste do país, região banhada por sol quase o ano inteiro. E agora esse cenário ganha reforço com as lavouras de melão amarelo, que se espalham por estados como Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Bahia. Só uma das empresas produtoras da fruta, a Itaueira, deve aumentar a área plantada em cerca de 45%. Atualmente a companhia produz melão em 380 hectares – 11,4 mil toneladas. "Em 2006 queremos aumentar para 550 hectares cultivados", afirma José Roberto Prado, diretor comercial da Itaueira.
O aumento da área plantada está ancorado no crescimento do consumo, principalmente no mercado externo, que é da ordem de 40% ao ano. Segundo Prado, metade da produção da empresa é exportada. Atualmente, os principais compradores são países da Europa, como Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha e Holanda. As nações árabes estão na pauta da Itaueira para os próximos anos. "São novos mercados que pretendemos trabalhar. O clima de lá é quente, o que, com certeza, favorece a venda do melão brasileiro", afirma Prado.
A plantação de melão da Itaueira nasceu pequena – apenas oito hectares no município de Itaiçaba, no interior do Ceará. O ano era 1999. O objetivo da empresa era produzir melão amarelo doce, segundo Prado. "Nós já produzíamos caju e um cliente, que gostava do nosso produto, disse que estava muito insatisfeito com o melão que comprava de outros produtores. Falou que a fruta não tinha gosto e perguntou se nós tínhamos interesse em produzir melão", afirma Prado. O desafio estava lançado.
A empresa então começou um trabalho de pesquisa para conseguir "melão sem gosto de pepino", como conta Prado. Foram três anos de erros e prejuízos. "Numa das tentativas, tivemos de passar o trator em 30 hectares por causa de uma praga", afirma. Os experimentos serviram para identificar fatores que contribuíam para o sabor das frutas, entre eles a colheita na hora errada e o transporte inadequado, feito, quase sempre, em caminhões sem refrigeração, debaixo de lonas plásticas escuras.
O segundo passo foi investir na colheita e no transporte das frutas. Os colhedores foram orientados a recolher somente os melões maduros, não importava se tivessem de deixar fruta no pé. "Não tem essa de colher para madurar depois. É aí que se perde o sabor", explica Prado. "Os trabalhadores da Itaueira foram autorizados a cortar o melão na plantação para experimentar. Se estiver saboroso, continuam a colheita", completa.
O transporte também foi modificado, passou a ser feito somente por caminhões refrigerados. O resultado tem sido positivo. "Apesar de ser mais caro na ponta, o melão da Itaueira tem uma boa saída também no mercado interno", afirma o executivo.
Pioneira
Outra empresa que contabiliza bons resultados com o melão é a Nolem (do inglês Melon, lido de trás para a frente), pioneira no cultivo da fruta em Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde gera cerca de 11 mil empregos diretos e indiretos. A Nolem cultiva uma área de 3.400 hectares da fruta, a maior do Brasil, e espera aumentar as vendas externas em 15% em 2006. "A previsão é de exportar sete milhões de caixas de melão", afirma Sérgio Abreu, gerente da companhia.
O crescimento também está baseado na ampliação do mercado externo. "No ano que vem, vamos buscar novos mercados e consolidar os que já trabalhamos", afirma Abreu. Os países da União Européia são os principais compradores da fruta da Nolem. Lá, o melão brasileiro concorre com o produto espanhol, mas, em geral, sai na frente por causa do sabor mais adocicado. Além de melão, a empresa produz melancia, caju, coco, abacaxi e abóbora.
Produção semi-árida
Para produzir melão no semi-árido, as empresas usam a agricultura irrigada durante a fase de crescimento planta. A água é conseguida por meio da perfuração de poços. Para 2006, a Itaueira vai investir cerca de R$ 150 mil nesse setor. Na época da colheita, o semi-árido faz a diferença. "O melão é muito sensível à chuva nesse período, prefere o clima seco", afirma Prado.
O ciclo da fruta é curto, entre 65 e 90 dias. No Rio Grande do Norte, a maioria é colhida em agosto, a data coincide com a entressafra espanhola, fornecedor importante da União Européia.
No entanto, o Brasil tem a fruta, praticamente, o ano inteiro. No ano passado a produção foi de cerca de 350 mil toneladas. O motivo: a diversidade do clima brasileiro. "Quando uma fazenda termina o período ideal de produção, vamos para outra", explica Prado. A Itaueira mantém mais duas áreas produtoras – além de Itaiçaba. Uma em Canto do Buriti, no Piauí, e outra em Cipó, na Bahia. E assim o melão amarelo vai colorindo o Nordeste.