Isaura Daniel
São Paulo – As economias do estado do Rio de Janeiro e da Argélia são complementares. Essa foi uma das conclusões do encontro que ocorreu ontem (30) entre empresários brasileiros e argelinos, na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), na capital fluminense. Os argelinos estiveram no Brasil até ontem para uma missão comercial.
"Existe um potencial de comércio muito grande a ser explorado", diz o gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Firjan, Caio de Mello Franco, que participou como palestrante do seminário sobre as economias da Argélia e do Rio de Janeiro.
De acordo com Franco, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio é cerca de 65% atrelado ao setor de serviços, a Argélia tem o mesmo percentual ligado ao setor industrial. A indústria representa em torno de 34% para o estado do Rio de Janeiro, similar ao peso que o setor de serviços tem na economia argelina.
O encontro, que reuniu cerca de 40 empresários brasileiros, além dos integrantes da delegação estrangeira, encerrou a visita dos argelinos ao Brasil. Os contatos comerciais feitos durante a missão devem gerar cerca de US$ 50 milhões em negócios entre os dois países nos próximos seis meses, de acordo com o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), Michel Alaby. "Os negócios devem ocorrer principalmente na área de alimentos", afirma Alaby.
Os empresários da Argélia estabeleceram contato com cerca de 200 empresas brasileiras em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na Firjan estiveram presentes empresários brasileiros de setores como alimentos, mármores e granitos, equipamentos e construção. José Carlos Jovine, engenheiro-chefe da Construtora Rabello Internacional, que já construiu duas universidades e um aeroporto no país, participou do encontro.
"Os argelinos apresentaram possibilidades de parcerias e importações em várias áreas, como construção civil, carnes, peixes, celulose e papel. Eles também nos propuseram a participação na Feira de Argel, o que há possibilidade de ocorrer", diz Franco.
Mercados
Além de fazer contatos comerciais, os empresários ouviram palestras sobre as potencialidades de comércio entre o Brasil e a Argélia. O Brasil exportou para a Argélia cerca de US$ 170 milhões entre os meses de janeiro e julho deste ano. No próximo ano, as exportações brasileiras para o país árabe deverão chegar a US$ 500 milhões, de acordo com o secretário-geral da CCAB.
Os argelinos puderam conhecer um pouco mais sobre o Rio de Janeiro. O gerente do CNI discorreu sobre as principais regiões produtivas do estado, como a Bacia de Campos, motor nacional do setor de petróleo e gás, Nova Friburgo e Petrópolis, referências nas áreas de têxteis e turismo, além do sul fluminense, conhecido pela indústria metal-mecânica, e o oeste, forte em petroquímica e química.
Franco acredita que o Rio de Janeiro poderá ajudar a reforçar as vendas brasileiras para a Argélia com produtos que ainda não são tradicionais na pauta de exportações. Hoje, os produtos mais exportados pelo Brasil para a Argélia são o açúcar, o trigo e as carnes. O Rio de Janeiro, porém, como tem apenas 0,5% do seu PIB atrelado ao setor agrícola, deve tentar vender produtos manufaturados para os argelinos.
"Temos uma indústria de transformação importante no setor de alimentos", lembra Franco. As exportações do Rio de Janeiro para a Argélia ainda são pequenas, mas vêm crescendo. Nos sete primeiros meses do ano, o estado faturou US$ 5,7 milhões com vendas para os argelinos, US$ 1,5 milhões a mais do que no mesmo período do ano passado.
Cuscuz
No encontro, os argelinos também apresentaram interesse em vender os seus produtos no país. Um dos principais itens oferecidos foi semolina para fazer cuscuz, prato tradicional na Argélia. Na rodada de negócios que ocorreu em São Paulo, na quinta e sexta-feira, a empresa Sarl Capac Azzouz conseguiu fechar a venda de dois contêineres do produto para um empresário brasileiro.
Também participaram do seminário no Rio de Janeiro como palestrantes o vice-presidente da Firjan, Mário Ramos, o embaixador da Argélia no Brasil, Lahcène Moussaoui, o diretor-geral para as Américas do Ministério de Relações Exteriores da Argélia, Dani Benchaa, o presidente da Comissão de Cooperação da Câmara de Comércio e Indústria da Argélia (CACI), Hadjan Hussein, o chefe da divisão de Investimento Direto Estrangeiro da Agência Nacional de Desenvolvimento de Investimento, Zeriguine Djamel, e o secretário-geral da CCAB.
No próximo ano devem ocorrer novas iniciativas de aproximação comercial entre os dois países. De acordo com Alaby, além da participação na Feira de Argel de 2005, deverá ser organizada uma missão comercial para o país com o intuito de apresentar os produtos brasileiros.
Os argelinos passaram o final de semana no Rio de Janeiro, onde fizeram alguns passeios pelos pontos turísticos mais importantes da cidade, como o Corcovado e a praia de Copacabana. "Eles ficaram impressionados com a beleza do Rio", diz Alaby.

