São Paulo – O uso da energia solar no Brasil vem ganhando força nos últimos anos. De 1.160 gigawatts de potência instalados em 2017, o País saltou para mais de 11.000 gigawatts neste ano. A marca histórica foi atingida no último mês. O número soma a energia fotovoltaica produza por usinas de grande porte e em sistemas de pequeno e médio portes instalados em telhados, fachadas e terrenos. A informação é da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Na foto acima, usina solar em Pirapora, em Minas Gerais.
A fonte solar ocupa, agora, o quinto lugar na matriz elétrica brasileira. Os dados da Absolar apontam que as grandes usinas lideraram o avanço do setor até 2019. “O ano de 2020, apesar da pandemia, foi um recorde de crescimento para energia solar no nosso País, e pela primeira vez a geração de pequeno porte (distribuída), cresceu mais do que as grandes usinas e assumiu a primeira posição”, relatou Rodrigo Sauaia, presidente da instituição.
Em entrevista por telefone à ANBA, Sauaia, explicou que até poucos anos o preço da instalação da energia solar afastava consumidores, mas essa realidade vem mudando. Fatores como o aumento no número de fornecedores, o acesso a linhas de financiamento voltadas para o sistema solar e, por outro lado, o encarecimento da conta de energia elétrica, têm contribuído com a boa fama da energia fotovoltaica.
O incentivo sentido no bolso
A perspectiva é de que a procura pela energia solar até abril de 2022, quando a bandeira de escassez hídrica ainda estará em vigor, cresça. “O impacto da crise hídrica foi muito grande. A média do preço da conta subiu 20%, muito acima da inflação. Já o preço da energia solar, nos últimos dez anos, caiu 80%. Isso aumentou o interesse da sociedade em gerar a própria energia. A projeção é que este seja um ano histórico”, concluiu o presidente da Absolar.
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No estado do Paraná, também foi o fator financeiro um dos motivos para o incentivo no uso de energias limpas no campo. O Programa Paraná Energia Rural Renovável (RenovaPR), feito pela equipe do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR), já soma 1.198 projetos acatados desde agosto deste ano, quando começou a operar.
Segundo Herlon Goelzer de Almeida, coordenador do RenovaPR, além do incentivar energias limpas, o programa surgiu para contribuir com a sustentabilidade no bolso dos produtores paranaenses. “O preço da energia [gerada por hidrelétricas] rural vai perder subvenção até 2023. Vai chegar ao equivalente ao preço da energia urbana industrial, então o objetivo é que todos os agricultores tenham energia limpa até lá”, alertou.
Há duas modalidades propostas pela iniciativa, a energia solar fotovoltaica representa 98% dos pedidos, e o restante é para instalação de biodigestor. O foco inicial é em produtores de proteína. “Até dezembro de 2030 a meta é chegar em 100 mil unidades produtivas com energia limpa. É altamente viável do ponto de vista econômico”, disse Almeida.
Guillermo Louis produz no estado paranaense culturas em hidroponia como alface, salsinha e rúcula, e há quatro anos utiliza um sistema próprio para gerar energia fotovoltaica. “O consumo de energia é importante para essas produções e, crio tilápias também. A conta de energia era em torno de R$ 800 por mês. Depois que instalei as placas de energia solar, isso caiu para R$ 40”, afirmou o agricultor.
Na propriedade de Louis, a energia é gerada em sistema on grid, ou seja, ligada à rede da companhia elétrica local. “A vantagem é que o que não consumimos [do sistema solar] vai para a companhia elétrica. Fazemos pouca manutenção, e a limpeza das 13 placas solares é feita a cada três a quatro meses. E o melhor é que temos emissão de carbono zero”, explicou ele, que pretende investir mais. “Tenho dois caminhos, ou duplicar com mais placas, ou comprar um aerogerador [energia eólica], mas ainda preciso avaliar o custo-benefício”, concluiu.
Focando justamente no campo, a Valmont Solar é uma das empresas que aumentou os negócios neste ano. De janeiro a outubro, a marca registrou crescimento de 130% frente ao mesmo período de 2020. “Aumentamos a presença e capilaridade no Brasil. Entramos na região Norte e Nordeste”, relatou Fabio Yanagui, diretor-presidente da América Latina da Valmont Solar.
Os projetos da marca são personalizados por propriedade. “Temos viabilizado a produção de alimentos em regiões que até então não tinham energia e, consequentemente, irrigação. Estamos instalando projeto no interior de Goiás, por exemplo, onde só chegaria energia solar daqui a quatro anos”, afirmou.
O retorno do investimento até anos atrás, segundo Yanagui, girava entre sete e oito anos. “Hoje o tempo de retorno caiu para quatro anos. É muito mais acessível”, explicou ele, lembrando que entre os clientes da Valmont estão, inclusive, investidores estrangeiros. “Já temos clientes com essa característica, fundos de investimentos que contratam os serviços [e depois vendem aos produtores]. Eu acredito que seja um novo player no mercado”, finalizou.