São Paulo – Nascido em Tinghir, no sul do Marrocos, o engenheiro Youssef Morghi estuda há anos sobre a prevenção de acidentes nucleares. Mas foi no Brasil que ele decidiu dar sequência a sua carreira, se dedicando ao doutorado e pós-doutorado.
Da pequena cidade, se mudou para o município de Fez, se graduou em engenharia industrial pela University of Moulay Ismail, no Marrocos, e fez mestrado em engenharia nuclear pela Sidi Mohamed Ben Abdellah University, também no Marrocos.
Mas no país africano o pesquisador sentiu falta de ter trabalhos diretamente dentro de usinas. “Não tem usina no Marrocos, só centros de pesquisa. Por isso, comecei a procurar oportunidades no exterior. O primeiro contato que achei foi no México, mas sem bolsa. E então, descobri o Capes pela internet”, contou Morghi à ANBA. O Capes é a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, que oferece bolsas de pesquisa para ensino superior no Brasil.
Depois de ter feito duas inscrições, o pesquisador ingressou na Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), em Minas Gerais. “Deu certo, porque eles tinham também convênio com alguns países da África”, explicou ele.
Inspiração em casa
O pai do marroquino é professor e foi ele quem incentivou a carreira acadêmica e os estudos. “A minha inspiração está na minha casa. Tenho outros dois irmãos que fizeram mestrado, doutorado. Meu pai sempre nos disse para não parar de estudar após a graduação”, revelou.
Com o resultado da bolsa no Brasil, em fevereiro de 2015, no início, a família ficou receosa, mas o pesquisador decidiu apostar na mudança. Já em março do mesmo ano ele começava seus estudos em solo brasileiro. “Quando cheguei só falava inglês, mas foi tranquilo porque os professores e alunos falavam inglês também. Comecei a aprender português na própria UFMG”, conta o pesquisador sobre o curso para estrangeiros na Universidade Federal de Minas Gerais.
Segurança nuclear
Os estudos do marroquino consistiram principalmente em simulações para tentar prever e evitar acidentes nucleares dentro das usinas. “Fazemos simulações para que quando o reator tiver um acidente de perda de refrigeração, por exemplo, entre na hora um sistema de emergência para colocar água no núcleo do reator”, explicou Morghi. O trabalho inclui simulações, códigos, ferramentas e o desenho de geometrias.
O pós-doutorado aconteceu na mesma instituição mineira e ele seguiu usando o conhecimento do estudo anterior, mas se aprofundou mais na análise probabilística de segurança. Além disso, o pesquisador teve etapas de estudo realizadas dentro da Usina de Angra I. Ele concluiu o pós-doutorado no final de 2021.
Futuro no Brasil
Agora, o pesquisador quer se desenvolver na carreira de engenheiro. “Nessa área, eu acho que tem mais oportunidade aqui, de nuclear”, contou à ANBA. Para ele, além do fator de espaço para trabalhar, ele conta sobre sua boa recepção no Brasil. “No ambiente do trabalho não tem tanta diferença [com relação ao Marrocos], mas eu sou um pouco tímido e aqui em dois meses, já estava jogando futebol no time deles. Se fosse em um local onde as pessoas não fossem simpáticas, talvez não tivesse [me enturmado]”, lembrou.
Outro diferencial que o marroquino viu no Brasil foi a equipe diversa. “O time de um dos projetos foi todo estrangeiro”, contou ele sobre um dos trabalhos que desenvolveu como engenheiro na Usina de Angra dos Reis I.
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