São Paulo – A Engeprot, empresa de um engenheiro brasileiro, está participando da construção da Mohammed Bin Rashid Library, biblioteca que é o maior projeto cultural de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A obra tem o formato de um livro, num total de 66 mil metros quadrados, deve abrigar 4,5 milhões de títulos impressos, digitais e de áudio e receber 42 milhões de visitantes por ano, segundo informações publicadas na imprensa dos Emirados.
A Engeprot é de propriedade do gaúcho Omar Khaled Hamaoui e do emirati Suhail Hilal Bin Tarraf, tem sede em Dubai e escritório em Abu Dhabi. A empresa é especialista em projetos e execução de estruturas em concreto protendido. O trabalho da companhia na biblioteca de Dubai está em andamento, segundo entrevista de Hamaoui por e-mail à ANBA.
A construção da obra como um todo começou em setembro do ano passado e deve estar concluída até metade de 2018, de acordo com dados publicados pela Emirates News Agency (WAM). Do total de livros abrigados no projeto, 1,5 milhão serão impressos, 2 milhões serão e-books e 1 milhão serão áudio-livros, o que fará do local a maior biblioteca no mundo árabe, com a maior coleção eletrônica de livros do mundo, de acordo com a WAM.
A Engeprot já executou cerca de 250 obras nos Emirados, o que significa mais de seis milhões de metros quadrados feitos. Várias delas são construções famosas no país árabe e internacionalmente. Além da Mohammed Bin Rashid Library, a companhia participa atualmente da construção de outra obra bem conhecida e importante, o Silicon Park, um projeto de cidade inteligente de Dubai, com espaços comerciais, residenciais e empreendimentos hoteleiros.
A Engeprot entregou seus serviços em projetos como o shopping Oasis Mall, em 2007, o centro econômico e empresarial Business Park North & South, em 2008, e o Rashidya Metro Car Park, um estacionamento para carros junto à estação Rashidya no metrô de Dubai, em 2009, entre outras. Atualmente, a companhia trabalha em obras como as Fattan Towers, um complexo de edifícios, e o hotel Privé by Damac. No total, estão em andamento 18 obras, com área aproximada de 1 milhão de metros quadrados, segundo Hamaoui.
De acordo com o empresário brasileiro, a Engeprot tem por objetivo dobrar de tamanho até o final de 2017. “O mercado dos Emirados é promissor no momento e esperamos ter a nossa quota neste crescimento”, afirmou Hamaoui. A empresa já atuou na Arábia Saudita e trabalha atualmente também em Omã, com duas obras de médio porte. “Queremos ter maior presença no mercado de Omã também”, afirmou o engenheiro. Mas além de Omã, a ideia é focar apenas nos Emirados.
Hamaoui abriu a Engeprot nos Emirados em 2004 e em outubro daquele ano começou uma obra bastante grande, de 100 mil metros quadrados. No começo, eram quatro os sócios, um libanês e um palestino, além do brasileiro e de Tarraf, nas mãos dos quais a empresa segue. Hamaoui acredita que abertura das portas para a Engeprot se deu por uma união de fatores: demonstração de conhecimento e experiência profissional, além de necessidade do mercado e as vantagens econômicas da tecnologia utilizada pela companhia.
Mas, e a sobrevivência no mercado após tantos anos? Hamaoui atribui principalmente à determinação e à persistência, além do fato de a empresa ter algo a mais a oferecer. O brasileiro é descendente de libaneses e fala árabe. Ele afirma que o idioma ajuda nos negócios, mas que todos os contratos e a comunicação são feitos em inglês nos Emirados.
História
Antes do país árabe, Hamaoui tinha empresa de construção no Brasil. Ele começou com a Esbelto Engenharia, em 1989, com um sócio, Gerson Geovani Pozzobon. Na época eles faziam projetos de estruturas em Santa Maria e outras cidades gaúchas. No final da década de 1990, a empresa se mudou para Cascavel, no Paraná, onde passou a trabalhar com obras maiores e mais complexas. Depois veio a especialidade em projetos e execução de estruturas em protendido, a troca de nome para Engeprot – Engenharia e Protensão Ltda, e uma nova mudança de cidade, então para Curitiba, capital do Paraná.
Na época, a mulher de Hamaoui, Dalal Hamdan, trabalhava no Marketing da empresa e percebeu o potencial dos Emirados para a tecnologia com a qual eles atuavam. “Após estudar o mercado por mais de dois anos e descobrir que um xeque colecionador de carros iria construir um edifício garagem para colocar sua coleção, a Dalal teve a ideia de ir em busca de um contato”, conta o brasileiro. Dalal descobriu que a Câmara de Comércio Árabe Brasileira estava planejando a primeira participação na feira de construção Big 5, em Dubai, e selecionando empresas com algo inovador para oferecer na mostra.
A Engeprot foi selecionada e participou da feira. “O grande impulso para a nossa ida foi o apoio total por parte da Câmara Árabe, em especial pelo Michel Alaby e pela Andréa Uhlmann, o qual foi fundamental para nós", diz. Alaby é o atual diretor geral da Câmara Árabe e Andréa, que morreu em 2014, era a gerente de Marketing na época. Na Big 5, o mercado se mostrou bastante promissor e o casal decidiu abrir a empresa nos Emirados.
Vida entre os árabes
Hamaoui completou 13 anos nos Emirados no dia 13 de março e afirma que o país é muito seguro e bom de se viver. Ele destaca o fato de as pessoas terem os mesmos direitos e deveres perante a lei. “Eles têm procurado ajustar as leis e regras de vivência no país para o conforto de quem vive aqui”, afirma, lembrando que por ser um país novo sempre haverá situações com necessidade de ajuste. “Estão buscando o que há de melhor no mundo para aqui adaptarem”, diz.
O brasileiro afirma que se sente parte de Dubai, que tem bons amigos nativos e uma interação justa com eles. “No geral, são pessoas que prezam por valores familiares e pessoais, independentemente de quanto você tem, estão sempre dispostos a ajudar, e adoram tudo o que está ligado ao Brasil”, conta o empresário. Ele faz parte de um grupo de churrasco integrado até por xeques. “O coração continua brasileiro, mas a vontade é de ficar aqui por muitos mais anos, se Deus permitir. Tenho três filhos e incentivo muito eles a, quando estiverem prontos para a vida profissional, que deem preferência a Dubai.”
O engenheiro vê vários motivos que fazem dos Emirados um bom lugar para empresas como a Engeprot, como o profissionalismo do mercado, o volume de trabalho intenso, o contato com empresas e profissionais de todas as partes e de alto nível de conhecimento, as condições de instalação e operação simples e rápidas, o fato de o lugar ser um centro logístico sem burocracia, ter volume alto de investimentos estrangeiros e mercado mobiliário atrativo.
“A internacionalização da empresa lhe garante credenciais para agir em qualquer mercado, até mesmo na Austrália e Europa, sem maiores dificuldades”, afirma, lembrando que quem instala uma empresa nos Emirados deve ter em mente que está no centro de uma região de mais de um bilhão de pessoas e que buscam fazer negócios com o mundo. “O futuro do mundo é entre a China e a Índia, e passa necessariamente pelos Emirados”, afirma.