São Paulo – Ele vive entre o açaí e o homus, numa mistura de referências que vai da cozinha aos palcos. Filho de mãe libanesa e pai amazonense, nascido em Belém do Pará, o músico Salomão Habib desenvolveu seu trabalho a partir de influências árabes e indígenas. Violonista, Habib prepara um DVD para lançar no início de 2011, quando, a convite da Embaixada do Brasil, deve se apresentar no Líbano, país que, claro, ele sempre sonhou conhecer.
“Pretendo gravar um disco com foco na influência árabe que tive em minha formação”, diz Habib. “Mas quero me preparar mais para isso”, explica. Segundo o músico, que além de violão toca alaúde libanês e alaúde turco, a presença árabe é forte na música brasileira de modo geral. “Basta dizer que o violão descende da chamada guitarra moura e da guitarra romana”, afirma. “A influência moura pode ser sentida no flamenco e no fado, que vieram da Espanha e de Portugal, respectivamente, países que colonizaram a América do Sul”, diz.
De acordo com Habib, outro ponto em comum entre as melodias tupiniquins e os sons das arábias está no caráter emotivo de ambos. Para exemplificar o que diz, ele cita um episódio passado durante uma viagem a Berlim, na Alemanha, a trabalho. “Vi um senhor na rua, parado, com três instrumentos, entre os quais um alaúde”, conta. “Os objetos nem estavam à venda, mas ele aceitou me vender um alaúde por US$ 100”, diz. “Me despedi dizendo que ia estudar para tocar e ele me disse que eu nunca ia escolher tocar um alaúde árabe. Era o instrumento que ia me escolher.”
Habib tem 13 discos gravados, é diretor da Orquestra de Violões do Pará e professor-fundador do Curso de Habilitação em Música da Universidade Estadual do Pará. Hoje, trabalha ainda na composição de “12 Rituais Sinfônicos para Orquestra de Violões”, projeto premiado com bolsa de criação artística da Fundação Nacional de Arte (Funarte) em 2009.
Também no ano passado, no segundo semestre, o músico participou de uma turnê por 88 cidades brasileiras (incluindo todas as capitais), durante cinco meses e meio, dentro do projeto Sonora Brasil, do Sesc. “Foi a maior turnê já feita por um artista solo no Brasil”, conta ele.
No ventre, a paz
Nas horas livres, Habib se dedica a cultivar as raízes árabes. Principalmente na cozinha. “Sei fazer os principais pratos da culinária árabe”, diz. “Mas o carneiro ao molho de figo com arroz de aletria é o meu carro-chefe”, garante. Ele explica que aprendeu tudo com a mãe, Nazaré.
Foi ela, aliás, quem ensinou ao músico valores como o respeito ao próximo e a importância da boa convivência. “Ela quis me chamar de Salomão, um nome muito comum entre os judeus, porque dizia que queria semear a paz no ventre dela”, conta.
Em homenagem à mãe, Habib compôs a música Amassando o açaí, uma de suas composições prediletas. “Me inspirei no som que saía da bacia quando ela preparava o fruto, colhido por mim no pé”, explica. Uma forma de retribuir a lição de paz que recebeu na infância. E a herança árabe que Nazaré lhe deixou.
Serviço
Mais informações sobre Salomão Habib:
www.myspace.com/salomaohabib
Para ouvir a música Amassando o Açaí no You Tube:
www.youtube.com/watch?v=EP3pvltgqcc