São Paulo – Com o intuito de contribuir com países em desenvolvimento e levar conhecimento a outros países, a Fundação Dom Cabral (FDC), em parceria com a Africa Business School (ABS), fará uma pesquisa sobre a internacionalização de empresas no Marrocos. A ABS é a escola de negócios da Universidade Mohammed VI, e fica em Rabat, capital marroquina. A FDC é considerada a melhor escola de negócios da América Latina pelo Financial Times e tem sede em Nova Lima, Minas Gerais (foto acima).
A ANBA entrevistou a professora doutora da fundação, Lívia Barakat, que contou que a FDC já vem olhando para o mercado africano há algum tempo. “Temos algumas similaridades em termos de nível de desenvolvimento, dos desafios que enfrentamos em função de sermos países em desenvolvimento. A fundação considera que temos uma missão de contribuir para a expansão e a maior competitividade de outros mercados que são similares aos nossos, de levar o conhecimento que geramos, as metodologias que possuímos para outros mercados que possam se beneficiar”, disse.
Criado em 2006, o estudo feito pelo Núcleo de Estratégia e Negócios Internacionais da FDC avalia a internacionalização das empresas brasileiras. “À medida que as empresas se capacitam para atuar no mercado internacional, elas ganham força, competitividade, atraem mais talentos, contribuem para o desenvolvimento do país como um todo”, disse a docente de ascendência síria. A pesquisa no Brasil já foi anual e hoje é bienal, e tem patrocínio da Agência Brasileira de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
A pesquisa da FDC já foi realizada em outros países, como Portugal e Índia. A ideia é, a partir de análises comparativas, que seja possível traçar paralelos entre os casos de sucesso das empresas do Marrocos e as brasileiras para inspirar novas formas de atuação no exterior.
A Pesquisa Trajetórias de Internacionalização de Empresas Marroquinas é inédita e contemplará empresa de todos os portes e setores, em diversos níveis de maturidade da internacionalização, inclusive exportadoras. “Até porque com as novas tecnologias, a digitalização que a pandemia trouxe, as empresas mudaram um pouco a forma de se internacionalizar, por essas facilidades de comunicação, tudo isso tem facilitado a entrada de empresas em outros mercados, as fronteiras estão mais fluidas”, disse Barakat.
A professora responsável pelo estudo no Brasil contou que a fundação foi procurada pela Africa Business School, uma escola de negócios relativamente jovem do Marrocos que está se expandindo e tem contribuído para o desenvolvimento das empresas do país árabe. “E ao mesmo tempo, o Marrocos está tentando se posicionar como um centro de desenvolvimento de tecnologias, tem tentado também estimular mais as empresas para que elas se internacionalizem, diversifiquem sua atuação para outros mercados e que o país se torne uma referência, um líder de mercado para o Norte da África”, contextualizou.
Esse panorama, segundo Barakat, casa com o objetivo da pesquisa, que é sensibilizar as empresas, criar consciência, criar e proporcionar ferramentas para que as empresas avaliem seu processo de internacionalização e identifiquem dificuldades para que elas possam avançar.
Com a metodologia da Fundação Dom Cabral, a Africa Business School irá realizar a pesquisa com empresas marroquinas e em contrapartida, a fundação terá acesso aos dados, e assim poderá realizar análises comparativas e conhecer cases de sucesso de empresas marroquinas que possam inspirar empresas brasileiras e vice-versa. “É uma parceria de ganho mútuo, de troca de conhecimentos, em que a gente pretende ajudar as empresas a avançarem nas suas estratégias de internacionalização”, disse Barakat.
Ao participar da pesquisa, cada empresa receberá um relatório individual com seu resultado em relação à média das companhias que participaram. “Essa é a nossa forma de retornar algo de valor para a empresa que cede seus dados”, informou.
O que é a pesquisa
O estudo será realizado por meio de uma plataforma online que traz uma série de questões que servem como indicadores do grau de maturidade no processo de internacionalização da empresa em seis dimensões, contou a professora. “Utilizamos o Modelo FDC de Criação de Valor Internacional, que é um modelo que considera os objetivos de internacionalização, a proposta de valor da empresa para mercados externos, o modelo de negócios que ela utiliza, o modelo organizacional, que é como ela se estrutura internamente, a gestão de talentos e liderança da empresa, e a gestão de stakeholders, que é a questão de ao ir para o exterior, não se relacionar somente com os clientes e fornecedores, saber quem são os stakeholders, como a empresa se relaciona com a comunidade, com entidades empresariais, governos, com a mídia local desses novos mercados” contou.
A partir dessas seis dimensões, a empresa vai responder questões objetivas, com base em dados e números, e questões mais subjetivas, com base na percepção. O número de pessoas que fala inglês na empresa em relação ao total de funcionários e o investimento em internacionalização em relação ao investimento total da empresa são exemplos de questões objetivas que indicam o grau de maturidade da internacionalização.
A pesquisa será lançada na terça-feira (07) durante webinar aberto ao público, às 10 horas. Da Africa Business School, quem coordena a pesquisa é o professor Márcio Amaral-Baptista. O estudo será divulgado no fim deste ano.
As empresas do Marrocos
Sabe-se que no mercado marroquino, os fertilizantes representam 15% do PIB. Empresas de fertilizantes estarão presentes na pesquisa, bem como de outros setores como tecnologia, turismo, agricultura, indústria têxtil, mineração e construção naval. Segundo Barakat, o país vem investindo muito em energias renováveis, tecnologia da informação, turismo sustentável e agricultura orgânica.
“Em países menores, as empresas não têm muito mais por onde crescer no mercado doméstico e para continuar crescendo, precisam se internacionalizar. Para algumas é questão de sobrevivência mesmo, de encontrar mercado para os seus produtos. Aqui no Brasil, o mercado é tão grande que a maioria das empresas nem pensa em se internacionalizar”, disse a professora doutora. Ela acredita que o estudo mostrará que o Marrocos tem muito mais empresas internacionalizadas que o Brasil, proporcionalmente.
Lívia Barakat é professora da Fundação Dom Cabral, pesquisadora do Núcleo de Estratégia e Negócios Internacionais, coordenadora da Pesquisa Trajetórias FDC de Internacionalização das Empresas Brasileiras, doutora em Negócios Internacionais pela Copenhagen Business School, mestre e bacharel em Administração pela Universidade Federal de Minas Gerais.