Isaura Daniel
São Paulo – Nos corredores da Escola Islâmica Brasileira, no bairro da Vila Carrão, em São Paulo, é possível ver crianças e adolescentes conversando em árabe durante o intervalo. Ali, regras gramaticais, ditados, interpretação de texto e redação não são assuntos só dos professores de português. O colégio, que tem cerca de 400 alunos, dos quais quase 300 são muçulmanos, oferece aulas de idioma árabe desde o jardim até o terceiro ano do ensino médio.
"O ensino de árabe e religião é voltado aos estudantes muçulmanos, mas se os demais alunos quiserem também podem participar das aulas", explica o xeque Mohamad Amame, coordenador de ensino das duas disciplinas. Aos não muçulmanos, porém, são oferecidas aulas de espanhol, filosofia e informática, enquanto os colegas estão na classe de árabe.
O idioma já era ensinado anteriormente, mas passou a integrar a grade curricular da escola no ano passado. Os alunos do ensino fundamental têm quatro aulas de árabe por semana e os do ensino médio duas horas. Já na pré-escola, metade da carga horária é dividida entre religião e árabe.
Assim como na Escola Islâmica da Vila Carrão, há uma série de outras instituições de ensino do país que ensinam o árabe aos seus alunos. A maioria delas é ligada de alguma maneira à religião muçulmana. A Escola Islâmica Brasileira, por exemplo, é mantida pela Sociedade Beneficente Muçulmana de São Paulo.
O Instituto de Ensino Barão de Mauá, da cidade paulista de São Bernardo, também vai passar a oferecer o ensino em 2005. As aulas serão coordenadas pela Sociedade Islâmica de São Bernardo. Mas, nesse caso, elas vão ser dadas em horário extra-classe para os alunos interessados.
Na Escola Islâmica Brasileira, o ensino do árabe é levado adiante por oito professores, todos eles nascidos em países do Oriente Médio ou norte da África. "São árabes que moram no Brasil", explica o xeque. O colégio não traz professores diretamente dos países árabes, mas todos os anos contrata profissionais da região para treinar docentes e avaliar o trabalho desenvolvido na escola.
Para ler o Alcorão
O xeque conta que vários alunos não islâmicos acabam se interessando pelo aprendizado do árabe. Têm maior facilidade, porém, os que são filhos de árabes ou descendentes e praticam o idioma em casa, com os pais. "Quem tem pai e mãe árabes normalmente já vem para a escola com uma noção, mas para quem tem pai árabe e mãe brasileira é mais difícil", diz Amame.
Uma das dificuldades no aprendizado, de acordo com o xeque, é a falta de espaços para a prática do idioma, o que acaba sendo minimizado para os alunos que falam o árabe em casa.
Também os que são de religião islâmica e acompanham a leitura do Alcorão nas mesquitas acabam tendo maior facilidade. O ensino do árabe é diretamente ligado ao de religião na escola, já que, dependendo do grau de fluência da turma, as aulas de islamismo são dadas em árabe.
O xeque diz que um dos benefícios do árabe é justamente o entendimento maior da religião muçulmana. "Quem quer se aprofundar na religião muçulmana tem que saber árabe", afirma. Apesar de existirem traduções para o português, grande parte das edições do Alcorão disponíveis no mercado é em árabe.
Amame afirma que o domínio do idioma acaba sendo muito útil também quando as famílias resolvem retornar ao seu país de origem. "Muitas vezes as famílias resolvem voltar para lá (países árabes) em função dos negócios. Se a criança souber o árabe vai ter mais facilidade de acompanhar os estudos lá", explica. Segundo o xeque, o material didático utilizado na escola é o mesmo que nos países da região.
Foz do Iguaçú
Na Escola Árabe Brasileira, em Foz do Iguaçu, no estado do Paraná, onde os alunos são filhos de árabes ou descendentes, também é comum os alunos retornarem com suas famílias aos países de origem ou viajar para a região em visita aos parentes, de acordo com a diretora Sandra Spangoni. A escola é outra que tem o ensino de árabe na grade curricular. "Os pais fazem questão que os filhos aprendam a falar árabe", diz Sandra.
O colégio tem cerca de 300 alunos e todos têm entre seis e sete horas de aulas semanais do idioma. A Escola Árabe Brasileira, que é privada e existe desde 1998, oferece desde a pré-escola até o sétimo ano do ensino fundamental.
No Instituto Barão de Mauá cerca de cem alunos deverão freqüentar as aulas de árabe a partir do ano que vem, de acordo com informações da Sociedade Islâmica de São Bernardo. Será uma hora e meia por dia de classe, no período da manhã. Poderão participar das aulas alunos da escola com idades a partir de três anos. O Instituto oferece desde o ensino infantil até o médio.
Contatos
Escola Islâmica Brasileira
Tel.: +55 (11) 6781-0659
Vila Carrão – São Paulo
Escola Árabe Brasileira
Tel.: +55 (45) 573-1906
Foz do Iguaçu – Paraná
Instituto de Ensino Barão de Mauá
Tel.: +55 (11) 4122-2400
São Bernardo – São Paulo

