Cláudia Abreu
São Paulo – O Morumbi Fashion, atual São Paulo Fashion Week, sacudiu o mundo da moda brasileira em 1995. Surgiram tops como Gisele Bündchen, Isabeli Fontana e Ana Cláudia Michels. Todas, hoje, com fama internacional. Nomes de estilistas como Glória Coelho, Reinaldo Lourenço, Ricardo Almeida e Ronaldo Fraga também viraram palavrinha fácil na boca de jovens fascinados com o glamour dos desfiles. Foi também em meados dos anos 90 que grifes importantes, como Chanel e Versace, aportaram por aqui.
E a combinação desses fatores refletiu na indústria têxtil. Os empresários se viram obrigados a reformar seus parques industriais, investiram em maquinário e tecnologia para competir com os concorrentes estrangeiros, fornecedores de matéria-prima para a indústria da moda. "As mudanças trouxeram uma outra necessidade: a de formar profissionais para trabalhar no setor", afirma Ivan Bismara, coordenador do curso seqüencial de Moda da Fundação Armado Álvares Penteado (FAAP). As escolas de Moda entraram no circuito.
Segundo os dados do último censo do Ministério da Educação (MEC), de 2003, existem 35 cursos de graduação na área de moda no Brasil. Isso sem contar outros tipos, como os seqüenciais, que duram dois anos, e modalidades especiais, de três anos, como o curso de Design de Moda (Fashion Design), oferecido pelo Istituto Europeo de Design (IED), conhecida escola italiana na área de Design (Industrial, Gráfico e Digital e Moda) recém chegada a São Paulo.
E todos os cursos de formação têm o seu público, as salas de aula estão sempre cheias, e eles estão espalhados por todo o país. De cidades pequenas, como Passos, no Sul de Minas, à capital paulista. Só na cidade de São Paulo estima-se que cerca de 5 mil alunos estudam Moda atualmente. E tem espaço para todo mundo? Bismara acredita que sim. "O mercado brasileiro ainda é carente e está absorvendo bem esse pessoal".
Três anos
O curso de Moda do IED começou a funcionar este ano, em São Paulo, com um número recorde de inscritos, são 90 alunos nas turmas de Design de Moda e 26 na de Design de Jóias e Acessórios. "A procura pelos cursos nos surpreendeu", afirma a italiana Francesca Attisano, professora do IED. No primeiro ano, os alunos têm aulas de Arte, Cor, Tendências, História da Roupa, Costura, etc.
No Istituto, a maior parte das disciplinas é ministrada por profissionais que trabalham na área. Francesca explica que essa é uma postura da escola tomada, justamente, para desmistificar o mundo da Moda para os alunos.
"Boa parte dos estudantes são jovens, têm 18 anos, e estão na primeira faculdade, então, às vezes chegam com uma visão equivocada. Para mudar isso, a gente trabalha com profissionais que vivenciam o dia-a-dia da profissão", afirma a professora. Um exemplo: no mês passado diretores da grife Valentino vieram ao Brasil para um workshop de uma semana com os alunos do IED. A escola também tem parcerias com empresas de tecidos como Santista e Santa Constância.
No curso do Senac, bacharelado em Design de Moda, com duração de quatro anos, acontece o mesmo fenômeno do mito da moda. "Alguns alunos chegam fascinados, mas com a visão de consumidores e aí, quando têm de cortar tecidos, costurar peças, mudam de idéia", afirma Marisa Durante, coordenadora do curso.
O Senac tem, atualmente, 340 estudantes na faculdade de Moda. Assim, como o Istituto Europeo, a escola também tem influência européia na formação dos profissionais, trabalha em parceria com a Esmode, tradicional instituição de ensino de Moda francesa, onde foi criada a fita métrica. "Adaptamos a metodologia de modelagem e estilismo da Esmode à realidade brasileira", afirma Marisa.
Diferença
Um comportamento europeu que tanto Senac quanto IED querem trazer para os estudantes brasileiros é a valorização dos costureiros. "Na Europa, os grandes estilistas nasceram na área de costura", afirma Francesca. "Aqui a costureira ainda não é vista como peça tão importante na indústria da moda, muitas vezes não fala a mesma a linguagem do estilista. E isso é fundamental para a qualidade do produto final", completa.
Se por um lado ainda falta um pouco de cultura de base aos alunos de moda no Brasil, na ponta da cadeia, esbanja-se criatividade. "Os estudantes daqui têm a mente mais livre para criar, não têm o peso dos grandes mestres como os italianos têm, por exemplo. A relação com a Moda é diferente", afirma Francesca.
"E quanto mais investirem na brasilidade, melhor, principalmente para quem quer se tornar conhecido no exterior", acredita Bismara, da FAAP. Ele cita estilistas como Jun Nakao, Ronaldo Fraga e a novata Adriana Barra, que têm o Brasil estampado nas peças, sem esteriótipos. Mas alerta que os cursos devem direcionar o aluno para não criar só o conceitual. "Tem de criar coleções reais", explica.
O valor das mensalidades dos cursos varia de acordo com as escolas e os tipos de curso. No Senac, a mensalidade da graduação custa cerca de R$ 950, os cursos livres, de poucos dias, custam a partir de R$ 340. No IED e na FAAP, as mensalidades estão em torno de R$ 1.400.
Mais cursos
Para o próximo ano, a FAAP deverá lançar o curso de bacharelado em Moda, com quatro anos de duração. O que existe agora é seqüencial, dura dois anos. "Estamos aguardando os tempos técnicos do MEC", afirma Bismara. Em outubro a faculdade inaugura um curso de pós-graduação em parceria com Instituto Brasil de Arte e Moda. Jun Nakao coordenará o curso.
O IED também está investindo nos pós. A primeira turma de masters começa no próximo dia 15. São quatro cursos diferentes – Design de Moda, Relações Públicas para Moda, Edição de Moda e Compras para o Varejo (Fashion Retail and Buyer). A duração depende do aluno: cada curso pode ser feito em 15 ou 22 meses.
A coordenação dos cursos também está a cargo de figurinhas do mundo fashion como a colunista Érica Palomino, a estilista Cris Barros e os badalados consultores de varejo Emanuel Bernini e Ricardo Minelli, que têm no currículo clientes como Daslu e Clube Chocolate.
Contato:
IED: www.iedbrasil.com.br
Senac: www.sp.senac.br
FAAP: www.faap.br