São Paulo – O escritório internacional da Câmara de Comércio Árabe Brasileira em Dubai completou dois anos nesta sexta-feira (19) e desde sua abertura contribuiu para a formação de uma nova dinâmica nas relações do Brasil com os países árabes, baseada em uma proximidade maior de empresários e instituições das duas regiões. Na foto acima, lideranças da Câmara Árabe no escritório em 2019.
O lançamento da base internacional marcou o início da associação de empresários árabes à Câmara Árabe, o que possibilitou trazê-los mais para perto do mercado brasileiro como fornecedores e também como compradores. O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, conta que quando a instituição planejou o escritório, um dos motivos foi abrir a associação para empresários árabes, para o que era importante ter uma base física em país árabe.
A Câmara Árabe também fazia cada vez mais visitas à região em função das demandas para conversar com empresários locais, instituições e governos e para estar presente em eventos e discussões que interessavam ao Brasil. “Fomos percebendo que essas visitas abriam muitas portas e que era uma necessidade estar lá, estávamos sendo muito bem recebidos”, relata Hannun, que já ocupava a liderança da entidade no período.
No episódio da Carne Fraca, por exemplo, lideranças e representantes da Câmara Árabe viajaram aos países árabes, juntamente com o governo federal brasileiro, levando informações esclarecedoras para os importadores e autoridades sobre o fornecimento de carne do Brasil. Esse foi um dos momentos de percepção da necessidade da presença nos países árabes para falar pelos brasileiros e também para ser interlocutor dos árabes no Brasil.
“Nós somos os olhos, os ouvidos e eventualmente até a voz dos brasileiros nos países árabes”, afirma Hannun, lembrando que a expansão internacional também reforçou esse papel da Câmara Árabe como porta-voz dos árabes junto aos brasileiros. Com o escritório em Dubai, a instituição se somou a outras frentes representativas do Brasil na região, como a própria embaixada do Brasil em Abu Dhabi, a Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e o escritório da Investe SP, os dois últimos em Dubai.
Ponto de encontro
Os benefícios de ter o escritório acabaram indo além dos motivos que impulsionaram a abertura naquele fevereiro de 2019. O local virou ponto de encontro de brasileiros que se deslocam aos Emirados e a outros países da região a negócios ou representando associações e governos federal, estaduais ou municipais. A Câmara Árabe disponibiliza a sua sede para que façam reuniões, contatos e eventos com parceiros e com o mercado.
No final de 2019, o escritório serviu de base para a realização de um seminário com a presença da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Tereza Cristina. Foi a abertura da agenda de eventos no auditório da sede. No local, além de falar aos presentes no seminário, a ministra teve encontros com lideranças árabes com as quais tinha pautas e também os árabes puderem conversar com ela sobre questões pertinentes ao agronegócio.
Outro marco da atuação do braço internacional se apresentou na pandemia de covid-19, quando governos árabes procuraram o escritório para garantir que suas demandas de alimentos fossem atendidas. O período se mostrava de insegurança nas entregas internacionais. Com o protagonismo da equipe de Dubai, a Câmara Árabe formou um comitê estratégico em parceria com associações brasileiras para atender essas buscas. Hoje esse comitê segue atuando desdobrado por segmentos.
“Está dando certo, fomos completando o escritório com novos recursos, com mais pessoas, e percebendo que quanto mais a gente faz, mais atrai novas demandas e possibilidades, é um crescimento natural”, afirma Hannun. O escritório tem como chefe Rafael Solimeo, que nasceu no Brasil mas cresceu nos Emirados Árabes Unidos, e uma equipe diversa, formada tanto por brasileiros quanto por árabes. Recentemente um consultor sênior, Shaheen Ali Shaheen, dos Emirados Árabes Unidos, se somou aos esforços de trabalho.
Solimeo, que está na função desde a implantação do escritório, se mostra bem satisfeito com os resultados desses dois anos. “Conseguimos nosso objetivo primário de aproximar os brasileiros dos árabes, a ponte que construímos entre o Brasil e o mundo árabe foi sólida”, afirma. Ele vê que a presença em Dubai tem aberto portas e gerado oportunidades para brasileiros no mundo árabe e para árabes no Brasil. Segundo Solimeo, a aproximação ocorreu por meio do comércio e dos investimentos, mas também pela amizade, com os laços que foram reforçados.
Mais árabes
Hannun conta que quando a associação de árabes foi planejada, se imaginava que seriam atraídos empresários interessados em vender ao Brasil. Isso de fato ocorreu e é um papel da Câmara Árabe ajudar a ampliar a exportação árabe ao Brasil, mas muitos árabes se associaram à entidade para encontrar fornecedores no Brasil. “Passamos a ser um canal para os compradores que não sabiam como chegar até os brasileiros”, relata.
Esse leque de empresários árabes mais próximos da Câmara Árabe, o comitê estratégico e o maior conhecimento recíproco das regiões têm plantado as sementes para a diversificação da pauta exportadora do Brasil para o mundo árabe. Hoje ela é formada principalmente por commodities. “Estamos trabalhando não apenas pelas commodities, mas também com segmentos de maior valor agregado, inovação, tecnologia, produtos novos”, diz Solimeo.
O presidente da Câmara Árabe destaca como um dos maiores valores da presença internacional o conhecimento mais profundo dos mercados locais. Além de saber de novas medidas, fatos, rumos e tendências dos negócios, estar in loco permitiu, principalmente antes da pandemia, maior participação em eventos e a interlocução direta com as pessoas. “Se descobre oportunidades que daqui a gente não percebe”, afirma Hannun.
Dois anos de muita ação
Nestes dois anos, o escritório participou e protagonizou uma série de ações e atividades, como a aproximação com organismos mundiais com base nos países árabes, a realização de reuniões com representantes de associações e governos árabes, o apoio a missões brasileiras aos Emirados – como a do governo de Tocantins e da Prefeitura de Jaboatão do Guararapes -, a intermediação para cooperação entre organismos no Brasil e países árabes, e para a assinatura de acordos de instituições árabes com a Câmara Árabe.
O escritório também participou de projeto de apoio à promoção da moda brasileira no Golfo, de divulgação do café brasileiro no mercado local, esteve presente em eventos escolares para falar do Brasil, assim como fez apresentações em webinars promovidos no Brasil e exterior, esteve em feiras de vários setores, entre outras tantas atividades. Em muitas das ações a participação ocorreu com a embaixada do Brasil em Abu Dhabi. O escritório da Câmara Árabe em Dubai atua com todos os países árabes, mas o foco principal é o Golfo Arábico.
A equipe do escritório seguiu as determinações dos Emirados de isolamento na pandemia de covid-19, mas se manteve ativa por meio das atividades virtuais. Neste momento atual, em que os Emirados já vacinam a população e retomam as atividades presenciais, o escritório tem sido um braço ainda mais importante da Câmara Árabe. Na próxima semana a equipe estará presente na feira de alimentos Gulfood, no emirado, e na mostra de defesa Idex, em Abu Dhabi, dando assistência a empresários árabes e brasileiros interessados em contatos e negócios entre si.
Novos escritórios
A internacionalização da Câmara Árabe não deve parar por aí. A instituição já anunciou a abertura de um escritório em Riad, na Arábia Saudita, e outro no Cairo, no Egito. A base egípcia deve atuar em toda África. Hannun pretende que os países árabes da África, como o Egito, sirvam de hub para o comércio do continente africano com o Brasil e que o escritório impulsione o fornecimento brasileiro aos mercados halal na região.
A Arábia Saudita vem se desenvolvendo muito baseada no plano estratégico de diversificação econômica Visão 2030. Hannun acredita que haverá muitas novas demandas para serviços, abrindo oportunidades para brasileiros, e que também é importante ter representação no país para tratar de questões de mercado. O governo saudita anunciou recentemente que passará a assinar contratos e trabalhar apenas com empresas com base local a partir de 2024.