São Paulo – O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, disse nesta segunda-feira (01) que ainda é cedo para avaliar qual será o impacto nas relações econômicas e comercias do Brasil com os países árabes da decisão do governo Jair Bolsonaro de abrir um escritório comercial em Jerusalém para fomentar negócios com Israel. Ele acrescentou, porém, que a iniciativa aponta para um desequilíbrio no tratamento que o País dá para Israel e Palestina.
“Como país atuante no comércio internacional e uma das dez maiores economias do mundo, o Brasil tem que abrir escritórios comerciais onde estão os negócios, mas esta decisão não deixa de apontar para um desequilíbrio nas relações”, disse Hannun à ANBA. “Para ter equilíbrio, o governo poderia anunciar escritórios também nos países árabes, inclusive na Palestina”, acrescentou.
Em visita a Israel neste domingo (31/03), Bolsonaro anunciou a abertura de um escritório em Jerusalém para incentivar o comércio, os investimentos e a troca de experiências em áreas como inovação, ciência e tecnologia. Na campanha eleitoral e após ser eleito, em outubro de 2018, ele havia dito que iria mudar a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, reconhecendo a cidade como capital de Israel.
Desde que assumiu a Presidência, no entanto, Bolsonaro recuou e disse que a decisão de mudança ainda não estava tomada, e na visita a Israel anunciou a abertura do escritório. Mesmo sem ter oficialmente caráter diplomático, a iniciativa do escritório foi recebida negativamente por autoridades e diplomatas palestinos.
Para Hannun, a abertura de escritórios comerciais do Brasil em outros países não é algo negativo – a própria Câmara Árabe adota esta prática em sua estratégia de internacionalização, sendo que a primeira base da entidade no exterior foi inaugurada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no mês de fevereiro. Pender para um lado no conflito entre israelenses e palestinos, no entanto, é desaconselhável.
Ele não espera um impacto negativo imediato nos negócios com as nações árabes, mas avalia que isso pode ocorrer ao longo do tempo. “Isso pode começar a abrir as portas para nossos concorrentes [no mercado árabe], pois mexe com um tema muito sensível e que dá um sinal que o equilíbrio [do Brasil na questão Israel/Palestina] está pendendo para um lado”, afirmou. “Não deixa de ser um ruído, [o governo] tomou uma medida que não aponta para a neutralidade que o Brasil sempre teve”, declarou.
Hannun destacou que a Câmara Árabe manterá contatos constantes com os embaixadores árabes no Brasil, com a União das Câmaras Árabes de Comércio e com a Liga Árabe para avaliar a questão.