Geovana Pagel
São Paulo – O Esporte Clube Sírio, fundado em 1917 na capital paulista por imigrantes sírio-libaneses, deixou sua marca na história do basquete mundial na década de 1970. Mesmo depois de quase 25 anos, o dia – 8 de outubro -, o jogo, cada ponto, erro, acerto, o painel luminoso com o resultado final, tudo ficou registrado na memória dos atletas que venceram o Mundial Interclubes de Basquete.
A data é até hoje uma das mais importantes da história do basquete brasileiro. “Eu lembro muito bem de um fato que marcou bastante. Logo de manhã fomos chamados pela diretoria do clube que queria saber o que nós gostaríamos de ganhar após a conquista do Mundial”, conta um dos jogadores, Renato Elias, o Renatão, hoje com 43 anos.
“Nós pedimos licença, nos reunimos e comunicamos que a única coisa que queríamos era ganhar o Mundial. Se ganhássemos aí eles decidiriam que presente nós mereceríamos”, relata.
Após a vitória, cada dirigente do clube, em sua maioria empresários, colaborou com o que pode. “Ganhamos televisão, relógio, tecido, uma infinidade de coisas”, lembra, rindo.
Eduardo Nilton Agra, o Agra, 47 anos, também mantém viva a lembrança da data da vitória. “Lembro muito claramente daquele dia. Foi a primeira vez que joguei com o ginásio Ibirapuera totalmente lotado (cerca de 18 mil pessoas)”, conta. “Como ficamos hospedados no alojamento do ginásio, passei o dia ansioso, inquieto. Nem dormi direito na noite anterior”.
Para Washington Joseph, o Dodi, a imagem mais bacana que ficou gravada é a de quando acabou o jogo e a torcida invadiu a quadra. “Foi uma loucura. Era gente querendo arrancar calção, camiseta, cada um correu para um lado”, conta. “Não teve nem como realizar a entrega da premiação na quadra”, lembra.
Para Dodi, o título do campeonato foi resultado de uma seqüência de conquistas. “Primeiro o time foi terceiro colocado, depois segundo. Na terceira foi campeão. Éramos um grupo de grandes amigos e todos conviviam unidos pelo mesmo ideal”, explica.
Para comemorar o jubileu de prata da conquista, os dirigentes da entidade já organizaram uma comissão para cuidar de todos os detalhes da festa. “Estamos contando com a presença da grande maioria dos campeões mundiais. Será uma bela comemoração”, garante Dodi.
O chorão
É Renatão quem lembra que foi o Sírio que projetou o mais badalado jogador brasileiro de basquete: Oscar Schmidt, o "mão santa", que fazia parte da histórica seleção. “Estávamos dois pontos atrás do time adversário (Sarajevo-Bósnia) e faltavam poucos segundos para o final do jogo. “Segurei na mão do Dodi e juntos nós rezamos um pai nosso. Acho que deu certo…” (muitos risos).
“O Oscar acertou as duas bolas. O jogo empatou e foi para a prorrogação. Aí ele passou a pedir a bola o tempo todo chorando. Chorava e marcava ponto. Uma beleza. Foi nesse jogo que começou a fama dele de chorão”, garante.
Outros caminhos
Após deixarem o basquete profissional, os campeões mundiais seguiram outras profissões. Dodi é engenheiro civil, Renatão é promotor de eventos esportivos e Agra professor de línguas. A reunião dos três ex-atletas é mais comum do que se imagina e o clube Sírio continua sendo o grande elo entre os amigos.
Dodi jogou no Sírio e nas seleções paulista (1966-1980) e brasileira (1968-1980). Pela seleção paulista conquistou o campeonato Brasil-Juvenil de 1968 e o Decacampeonato Brasileiro de seleções em 1977. Na seleção brasileira conquistou o tetracampeonato sul-americano de seleções(1969, 1971, 1973 e 1977), o Panamericano de 1971 e a quarta colocação na Olimpíada de Montreal em 1972.
O engenheiro civil jogou como profissional até 1982. Em 1985, quando assumiu a diretoria de esportes do Sírio, Dodi começou a jogar campeonatos de veteranos.
Sócio do clube desde que nasceu, Renatão começou a jogar basquete em 1971. “Eu sou prata da casa. Daquela geração eu fui o único convidado para ser atleta da equipe adulta em 1979. Lembro que o técnico Cláudio Mortari me disse: vou te passar a camisa que eu joguei”.
Também em 1979, Renatão passou a integrar a seleção brasileira juvenil. “Naquele ano teve final do campeonato paulista em Franca. Eu era o jogador mais jovem da equipe, com 18 anos”. De 1981 a 1982 jogou no Monte Líbano. Encerrou sua carreira de atleta em 1985, jogando pelo clube Círculo Militar.
Hoje, O ex-atleta, que também é formado em engenharia civil, é sócio de uma empresa de eventos com o bicampeão da São Silvestre, José João da Silva.
Agra conta que a sua ligação afetiva com São Paulo começou no clube. O ex-atleta veio do Recife em 1974 e ficou no clube até 1979. De 1976 a 1984 participou da seleção brasileira; nos anos de 1977, 1978 e 1979 foi campeão brasileiro, sul-americano e estadual, respectivamente. Depois foi para os Estados Unidos onde jogou na Universidade de Kansas durante quatro anos.
Ainda pela seleção, participou das Olimpíadas de Los Angeles, em 1984. No retorno ao Brasil jogou no Corinthians e no Monte Líbano. Encerrou a carreira no Sírio em 1990.
Formado em educação física, Agra é professor de línguas e coordenador de cursos da escola onde trabalha. Desde o ano passado, é diretor de basquete das categorias de base do clube.
Nova geração
A equipe de basquete profissional do Sírio foi extinta em 1994. Há dez anos o clube mantém somente as categorias de base. “O clube sempre trabalhou forte na formação de atletas”, garante o diretor de esportes Dodi.
Quem sabe novos talentos possam ser revelados na mesma quadra que os campeões mundiais treinaram. O filho de Agra, Pedro, de 14 anos, joga na categoria mirim do clube e o filho de Renatão, Luiz Henrique, de 13 anos, no pré-mirim. É torcer para que a trajetória de sucesso seja repetida pela nova geração.
Contato
Clube Sírio
Telefone: 55 11 5584.0011
Site: www.sirio.org.br

