São Paulo – O estado de São Paulo está trabalhando para colocar os muçulmanos no radar das estruturas locais de turismo e fazer com que os visitantes dessa religião, vindos de outros lugares do Brasil ou do exterior, se sintam acolhidos em terras paulistas. Há um ano e meio a Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP) lançou o Guia de Turismo Halal, se apresentando como destino Muslim Friendly, ou capacitado para receber bem os muçulmanos, e desde então promove ações nesta direção.
Tudo começou com a assinatura de um acordo, no segundo semestre de 2023, entre a Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) e a Setur-SP, a partir da qual as duas desenvolveram em parceria o Guia de Turismo Halal. Halal quer dizer lícito ou permitido, ou seja, que está de acordo com os preceitos do islamismo e pode ser consumido ou utilizado por seguidores do Islã.
A coordenadora de Turismo da Setur-SP, Ana Clemente, explicou para a ANBA os dois objetivos do guia, um deles fazer com que os visitantes da cidade ou estado de São Paulo conheçam a cultura islâmica local. “Mas também ser capaz de bem receber e de acolher esse público em empreendimentos, estabelecimentos, atrativos da cidade e do estado de São Paulo”, diz sobre a recepção ao muçulmano.
Com essa proposta, o guia traz tanto a indicação de mesquitas e outros espaços ligados à cultura islâmica no estado, para que sejam visitados por todos os perfis de turistas, como comporta indicações de grandes pontos turísticos paulistas, desde estádios até museus, como sugestões de lazer aos islâmicos.
“A gente também colocou os atrativos destaque da cidade e do estado: o que, ao vir para São Paulo, você não pode deixar de conhecer”, explica Ana sobre o guia. Nessa lista, estão, por exemplo, o Parque do Ibirapuera, em São Paulo; a Vila de Paranapiacaba, em Santo André; a Feira de Artes, em Embu das Artes, a Trilha das Sete Praias, em Ubatuba, e outros. Entre os espaços islâmicos que constam no guia estão a Mesquita Brasil, em São Paulo, o Centro Islâmico de Jundiaí e a Mesquita Islâmica de Santos.
A publicação lista também uma série de hotéis e restaurantes. Há desde hotéis mais preparados para atender muçulmanos, com tapetes de oração, indicação da direção de Meca e o Alcorão nos quartos e outras características, até aqueles em estágio mais inicial. Mas segundo Ana, todos passaram pelo menos por sensibilização no tema. Também entre os restaurantes indicados há os mais adaptados e outros em estágio de adequação, mas todos oferecem algo que o visitante islâmico pode consumir, segundo ela.
Treinamentos
Os hotéis passaram por treinamentos em halal oferecidos pela parceria Fambras, por meio da sua Academia Halal, e Setur-SP, com seu programa de qualificação, assim como também foram capacitados no tema ainda outros setores, como prefeituras das cidades paulistas e o trade turístico. De acordo com a coordenadora de Turismo, no setor de hotelaria foram atendidas mais de mil pessoas nas capacitações.
“A gente fez algumas ações de capacitação para orientar sobre o bem receber, o acolhimento, sobre minimização de preconceito, de estereótipo, que muitas vezes são difundidos de forma errônea. A gente tentou mostrar que o turismo é uma atividade que busca a paz, busca a integração, busca mostrar a diversidade cultural que a gente tem no Brasil e em São Paulo”, explica Ana.
Além dos treinamentos e da criação do Guia de Turismo Halal, foram colocadas em pé outras iniciativas voltadas ao turismo de muçulmanos. “Temos um calendário de mais de 60 feiras e eventos em que a gente promove a oferta turística do estado. Em algumas delas fizemos essa divulgação também do turismo halal”, diz a coordenadora de Turismo, explicando que foram feiras no Brasil.
Não existem levantamentos sobre o número de turistas muçulmanos que o estado de São Paulo recebe ou mesmo uma meta sobre quantidade de visitantes a atrair, mas Ana percebe que há resultados do trabalho feito até agora. “Eu tenho realmente recebido muitas perguntas, questionamentos”, afirma Ana, sobre o interesse que o turismo halal despertou. As ações de capacitação e promoção do turismo halal devem ser continuadas e ampliadas no estado, mas esse calendário ainda será definido, segundo a coordenadora.
Para todos
Assim como fez um guia voltado ao turista muçulmano, a Setur-SP também lançou os guias turísticos católico, judaico e evangélico, e pretende o fazer também das religiões de matriz africana e as orientais. “A gente quer que o turista se sinta acolhido em São Paulo, que ele sinta que a gente respeita as diferenças, que a gente respeita a religião, a etnia, o gênero, que a gente respeita todas as características do público que vem”, afirma a coordenadora de Turismo da secretaria.