Roma – A relação da Itália com o Egito é antiga e conhecida. Quem não conhece as tramas proporcionadas por Cleópatra e os romanos Júlio César e Marco Antônio? Amores, amantes, guerras, traições e mortes. Ingredientes de telenovelas, mas que fazem parte da história da humanidade. Dois povos que se encontraram e se confrontaram tantas vezes influenciando-se mutuamente no campo das artes, cultura e costumes. Parte dessa incrível aventura pode ser encontrada na cidade de Turim, no norte da Itália, no Museu Egípcio que, como o do Cairo, é dedicado à arte e a cultura do Egito Antigo. São mais de 30 mil objetos e artefatos.
A coleção do museu é vasta, formada por diversos componentes: peças que foram encontradas em território italiano – mais precisamente romano, pois datam do tempo do império -, fruto de saques e contrabando do século 18 e de explorações de sítios arqueológicos em comum acordo entre os estados, entre 1900 e 1935, quando o país europeu financiava missões na nação árabe. Nessa época, tudo o que era encontrado era dividido entre a Itália e o Egito. Atualmente, as regras mudaram. Os objetos arqueológicos são propriedade do país onde foram encontrados e têm a saída vetada. O que é do Egito agora fica no Egito.
A história do Museu Egípcio começou em 1630, quando o conceito de exposições de arte ainda não tinha surgido – só foi aparecer em 1667, em Paris. O primeiro objeto da coleção foi a Mensa Isiaca, uma espécie de mesa de altar, construída em estilo egípcio e que, provavelmente, foi realizada em Roma no século 1 d.C. para um templo de Ísis, a deusa egípcia do amor. A mesa foi comprada por Carlo Emanuele I, o duque de Savoia, da família real italiana.
Alguns anos mais tarde, em 1724, outro Savoia, Vittorio Amadeo II, fundou o Museu da Universidade de Turim e doou uma pequena coleção de antiguidades da família à nova instituição. Em 1757, a família Savoia continuou investindo no museu. Carlo Emanuele III nomeou o professor de botânica Vitaliano Donati como pesquisador no Oriente. Sua função era viajar ao Egito à caça de objetos antigos, livros e manuscritos que fizessem menção a Mensa Isiaca, exposta no museu desde 1755. Donati retornou cheio de objetos e surpresas, entre elas estátuas de grande porte.
Passando pela França
Outra doação importante para o início do museu partiu de Carlo Felice di Savoia, que adquiriu de um certo Bernarino Drovetti cerca de 5,3 mil novas peças, como estátuas, papiros, sarcófagos, múmias, bronzes e objetos da vida cotidiana. Italiano do norte, Drovetti possuía uma estreita relação com Napoleão Bonaparte e, por conta disso, o governante francês nomeou-o Cônsul da França no Egito. O cargo o aproximou do vice-rei egípcio, Mohamed Ali e, com sua ajuda, Drovetti conseguia transportar para o território italiano objetos do antigo Egito.
Com a junção das coleções, o museu tomou forma e passou a financiar escavações no país árabe no melhor estilo Indiana Jones. Em 1894, os trabalhos estavam a todo vapor. Turim financiava a exploração de sítios arqueológicos em Giza, Vale dos Reis, Assiut, Qau El-Kebir, Deir El-Medina, Gebelein, etc. Os trabalhos continuaram até o ano de 1935 e permitiram à cidade italiana ter um dos mais ricos acervos do Egito Antigo do mundo inteiro. São 6,5 mil objetos expostos ao público e outros 26 mil em depósito, por necessidades especiais de conservação, e peças simplesmente destinadas a estudos e pesquisas científicas.
Caça ao tesouro
Um dos maiores tesouros do museu foi descoberto em 1906, pelo egiptólogo italiano Ernesto Schiapparelli. Trata-se da tumba inviolada de Kha, um arquiteto do Egito antigo. Kha e sua mulher, Merit, viveram em torno de 1.400 a.C. e conheceram pelo menos três faraós: Amenófis II, Tutmés IV e Amenófis III. Morreram com cerca de 60 anos, uma idade boa para época, e justa, como está escrito no papiro: “após 20 anos de juventude, 20 de estudos e 20 de profissão”. Merit morreu primeiro. Kha, num gesto de grande amor, doou-lhe o sarcófago que tinha construído para si. Deixaram três filhos, uma mulher e dois homens.
A tumba de Kha é reveladora de hábitos e costumes do período por conta da quantidade de objetos particulares que guardava: cerca de 500 peças. São móveis como cama, bancos e baús. Há também quadros, peças de vestuário, tecidos e cerâmicas. Frascos de perfumes e, claro, objetos de trabalho de Kha, que permitiram identificá-lo como um arquiteto, como espécies de trenas, para medir distâncias, e material de desenho.
Templo socorrido
A última aquisição importante do museu data de 1970 e é o pequeno templo de Ellesija. A peça tem uma história interessante. Foi doada ao estado italiano pelo país árabe como agradecimento ao suporte técnico e cientifico dado durante a campanha da Unesco para salvar os monumentos ameaçados pela construção da grande barragem de Assuã. O templo estava destinado a ser engolido pelas águas do Lago Nasser.
Serviço
Site: www.museoegizio.it
Endereço: via Accademia delle Scienze, 6, Turim, Itália
Horário: de terça-feira a domingo, das 8h30 as 19h30 (última entrada permitida às 18h30)