Alexandre Rocha
São Paulo – A primeira fase do estudo de viabilidade de um projeto de irrigação que o governo da Líbia está interessado em investir na Bahia deverá estar pronta em 90 dias. Conforme a ANBA noticiou na sexta-feira (08), a Companhia Árabe-Líbia de Investimentos Estrangeiros (Lafico, na sigla em inglês) assinou recentemente um acordo com a construtora Norberto Odebrecht para a realização do trabalho de pesquisa.
"Nesta primeira fase será feira a modelagem preliminar do projeto, vai se definir qual será o seu real tamanho e qual deverá ser a participação do setor público e da iniciativa privada", disse Júlio Perdigão, superintendente da Codeverde, empresa controlada pela Odebrecht que é responsável pelo negócio.
O projeto em questão é o de Baixio de Irecê, no Vale do São Francisco, localizado na região noroeste do estado. O empreendimento compreende uma área de 60 mil hectares e já foi iniciado pelo governo federal. De acordo com Perdigão, o projeto todo envolve uma rede de 100 quilômetros de canais de irrigação. Segundo ele, até agora foram instalados 13 quilômetros. A idéia é construir o que falta em regime parceria público-privada (PPP).
A Lafico tem interesse também no projeto de Salitre, também no interior da Bahia, que soma mais 30 mil hectares. Os investimentos previstos nos projetos são de US$ 450 milhões, segundo os líbios.
Além dos canais de irrigação, a participação do setor público é considerada essencial em outras obras de infra-estrutura de uso comum, como estradas e rede elétrica. Segundo Perdigão, para tornar o projeto viável serão necessários entre 180 e 200 quilômetros de rede elétrica e praticamente a mesma distância em rodovias secundárias.
"Este estudo está sendo assistido pelo governo federal por meio da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba). O resultado vai determinar se ele é viável e se pode ser passível de PPP", acrescentou o diretor da Odebrecht na Bahia, Alexandre Barradas.
De acordo com Perdigão, para realizar o estudo foram contratados o Banco Santander, que vai cuidar da parte financeira; o escritório de advocacia Machado, Meyer Sendacz e Opice, para desenvolver a parte jurídica; a FNP Consultoria, que atua no setor de agronegócio; e a Magna Engenharia, que presta consultoria na área de engenharia. "Serão verificadas a rentabilidade, a sustentabilidade e o potencial para o desenvolvimento regional", disse.
Potencial
Apesar do clima na região ser semi-árido, Perdigão diz que o solo é muito bom. Hoje, segundo ele, lá se produz feijão, mamona, sorgo milho e algodão. Se o projeto de irrigação for implementado, outras cadeias produtivas poderão ser implementadas "com boa produtividade", como é o caso da cana-de-açúcar para fabricação de açúcar e álcool; da banana para exportação; das frutas tropicais, como maracujá, acerola, caju e abacaxi, para a produção de sucos; e das uvas de mesa e para a produção de vinhos. De acordo com ele, estima-se que poderão ser criados 180 mil empregos.
"O potencial é fantástico. O Brasil tem a única região de semi-árido tropical do mundo", disse. Como exemplo, ele citou o pólo de Juazeiro/Petrolina, também no Vale do São Francisco, que já conta com agricultura irrigada. "Eles estão exportando o equivalente a US$ 280 milhões por ano", declarou.
A Lafico começou a manifestar interesse por projetos no Brasil no início do ano passado, quando diretores da companhia visitaram o Brasil, após a viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o país árabe em dezembro de 2003.

