São Paulo – A Universidade Federal do Pará (UFPA) está organizando a formação de sua Cátedra de Estudos Árabes (CEÁrabes). O objetivo é promover o estudo de temáticas árabes entre estudantes e a população geral e também realizar intercâmbios culturais e científicos com universidades do Oriente Médio e Norte da África.
“Este ano, recebemos a visita do embaixador da Palestina [em Brasília, Ibrahim Alzeben] e acabou se levantando essa questão de um projeto de intercâmbio e cooperação [com universidades árabes] e tivemos a ideia de formar uma cátedra de estudos árabes”, explica o marroquino Mounsif Said, diretor da Faculdade de Engenharia Naval da UFPA e coordenador do projeto da cátedra.
Said diz esperar que a cátedra comece a funcionar a partir do segundo semestre desse ano. “É um projeto acadêmico que envolve a comunidade. Estamos procurando articulações com clubes e associações árabes da cidade [de Belém], para que as pessoas participem de forma ativa do projeto”, destaca o professor.
Entre as atividades que farão parte da cátedra estão um curso do idioma árabe; a formação de uma biblioteca e de uma midiateca com livros e materiais de áudio e vídeo em português e árabe; a promoção de eventos culturais, como exposições, e também eventos científicos, entre outros.
“Sabemos que há pouca literatura em língua portuguesa em relação à cultura árabe. Queremos também organizar semanas com temas ligados à cultura árabe em Belém”, afirma Said.
Para Said, no entanto, uma das partes mais importantes do projeto é a cooperação com as universidades estrangeiras. “A finalidade da cátedra é viabilizar projetos de intercâmbio com os países árabes”, ressalta o professor. De acordo com Said, a UFPA já está discutindo a possibilidade de parcerias com uma universidade da Palestina e com uma na Arábia Saudita.
A primeira atividade da cátedra será o curso de língua árabe, que já está sendo estruturado dentro da universidade. Ele terá quatro módulos e atenderá até 80 estudantes por semestre.
As aulas serão abertas para alunos e professores da UFPA e também para a população geral. Said, que também é presidente do Centro Islâmico Cultural do Pará, será um dos professores do curso, que contará ainda com professores da Síria, do Egito e da Tunísia.
Árabes na Amazônia
Outro foco da cátedra será o estudo da presença dos árabes na região amazônica. José Cauby, professor de Ciências Sociais da UFPA e co-criador da cátedra, conta que houve uma forte migração de árabes para aquela região no final do século 19.
“No final do século 19 e começo do século 20, o primeiro destino dos migrantes sírio-libaneses era a Amazônia, por causa da borracha. A riqueza do Brasil naquela época era identificada com essa região. Mais da metade dos migrantes [árabes] que vieram para cá [Brasil] no fim do século 19 e início do 20 vieram para a Amazônia”, afirma.
Segundo Cauby, as principais capitais da região ainda concentram grande quantidade de árabes e seus descendentes. “Há cerca de 200 mil descendentes de árabes no Pará, pelo menos metade deles está em Belém. Depois, vem Manaus, Macapá e Rio Branco”, diz.
Além das capitais, o professor aponta que houve uma forte migração também para cidades do interior dos estados. “Talvez tenha havido uma distribuição espacial [dos migrantes árabes] maior na Amazônia do que em São Paulo, devido à atividade do comércio. Quando eles [árabes] chegavam, se espalhavam em barcos por pequenas e médias cidades do interior”, completa.