Rio de Janeiro – Apesar das inúmeras especulações sobre o futuro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que passará o seu cargo para Dilma Roussef no dia 01 de janeiro, o próprio afirmou, em coletiva de imprensa a correspondentes estrangeiros nesta sexta-feira (3), no Rio de Janeiro, que ainda não tem planos para o ano que vem. Lula fez, na oportunidade, um discurso emocionado sobre a sua saída da presidência e falou que, pelo fato de ter sido operário e sindicalista, teve que provar a cada dia que podia ser presidente da República.
"Quando você pertence à elite do país, você é governante, se você errou ou não errou ninguém está ligando. Você vai passar seis meses fazendo um retiro em Harvard, você vai para a Sorbonne. Ninguém se preocupa em te cobrar. Passados alguns meses, você volta, se candidata novamente. Mas eu, pelo fato de ter saído de dentro de uma fábrica, de ter sido dirigente sindical e virado presidente da República, eu tinha que provar a cada dia que seria capaz de governar este país", afirmou Lula.
Lula disse que ao se deitar, à noite, ao lado de Marisa (a primeira-dama Marisa Letícia), falava: "Se nós errarmos nunca mais um trabalhador poderá ser presidente da República neste país". E complementou dizendo que a inteligência não está ligada à quantidade de anos num banco escolar, já que administrar um país não se aprende na escola. "Eu consegui provar que os brasileiros, cada um deles, podem fazer o que eu fiz por este país", disse o presidente. Lula afirmou, porém, que precisa deixar o tempo passar para fazer uma avaliação mais distanciada da sua gestão.
Apesar de não ter um rumo definido, Lula falou que voltará a ser um militante do seu partido e que trabalhará para fazer a reforma política no país. "Vou trabalhar para fazer a reforma política, agora que não sou mais presidente da República, que sou militante do meu partido. Reforma política não é presidente que tem que fazer, são os políticos", disse Lula.
Sobre a sua saída, o presidente afirmou ainda que deixará o Brasil andando a 120 por hora para Dilma. "Ela não vai pegar um carro parado, estragado na garagem. Se ela quiser, poderá apertar um pouco, acelerar, só não pode sair da pista", disse o presidente.
Como já vinha declarando à imprensa nos últimos dias, Lula afirmou que precisará de um tempo para "desencarnar" da presidência do Brasil. "Entregamos um Brasil sólido", disse sobre sua gestão, complementando que em seis anos o país poderá ser a quinta maior economia do mundo. Lula destacou a importância que o país ganhou no mundo nos últimos anos e afirmou que o Brasil é responsável, atualmente, pela construção de três das maiores hidrelétricas do mundo, três das maiores ferrovias e quatro das maiores refinarias.
E disse ainda que se surpreendeu com a ausência, na coletiva de imprensa, de perguntas sobre economia. "Antes a maioria das perguntas era sobre economia. Agora, como nossa economia está boa, ninguém pergunta", brincou. No final da entrevista apareceram, entre os jornalistas estrangeiros, muitos fãs de Lula. A fila para fotos com o presidente foi parecida com a fila de espera para fazer perguntas. Acompanharam a entrevista o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins.

