São Paulo – O economista José Roberto Mendonça de Barros fez projeções positivas para a economia mundial nos próximos dois anos, em palestra realizada na noite desta terça-feira (09) no auditório da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo. Para ele, este ano será melhor do que o passado e 2014 vai ser melhor do que 2013. Barros já ocupou diversos cargos nos setores público e privado, tem pós-doutorado em Economia pela Universidade de Yale, dos Estados Unidos, e foi professor da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar da crise que atinge a Europa, o economista vê sinais positivos nos horizontes das três maiores economias do mundo: Estados Unidos, China e Japão. Nos EUA, o mercado imobiliário voltou a crescer; há um enorme potencial de avanço na área de energia, com as previsões que dizem que o país pode se tornar autossuficiente em petróleo até 2020; e a questão do “abismo fiscal”, que assuntou tanto os analistas na passagem do ano, não gerou efeitos graves.
“Está sendo o novo ‘Bug do Milênio’”, disse o economista sobre o abismo fiscal, ou “fiscal cliff” em inglês. “Os cortes automáticos no Orçamento [norte-americano] já estão acontecendo e a economia vai na direção do ajuste fiscal sem que tenha voltado a haver recessão”, acrescentou.
Em sua avaliação, a economia dos EUA vai crescer “moderadamente” este ano e deverá avançar de 3% a 3,5% no próximo. “Quem vai puxar [a economia mundial] desta vez são os Estados Unidos”, declarou.
Isso não quer dizer que China, motor econômico dos últimos anos, vá ter desempenho fraco. “Não haverá ‘crash landing’ na China, que deve crescer 8% [este ano]”, ressaltou, referindo-se ao termo usado por analistas para designar uma eventual desaceleração forçada do PIB (Produto Interno Bruto) pelo governo chinês.
No caso do Japão, que vem de um longo período de estagnação, Barros ressaltou que o governo promete usar a política monetária para incentivar a atividade econômica, como já fizeram os Estados Unidos e o Banco Central Europeu com a chamada “quantitative easing”, eufemismo para a injeção de moeda em circulação com o objetivo de provocar desvalorização e incentivar as exportações.
A desvalorização do iene, como ocorreu com o dólar e o euro, em tese poderá fazer avançar as vendas externas japonesas. “Com isso, a primeira, a segunda e possivelmente a terceira economia do mundo vão continuar ou recomeçar a crescer”, destacou.
Na Ásia, em sua opinião, a “decepção” vem da Índia, uma economia “complexa, bastante fechada e que está desacelerando”. “A Índia não é mais candidata, junto com a China, a crescer perto dos dois dígitos”, disse. “O país está um pouco mais apagado no mundo dos Brics”, acrescentou ele, referindo-se à sigla que designa o grupo formado por Brasil, Rússia Índia, China e mais recentemente a África do Sul.
A Europa, com um país atrás do outro apresentando problemas, sendo o Chipre o exemplo mais recente, também pode estar ficando para trás, na opinião de Barros. Nada impede que outras nações pequenas venham a chacoalhar ainda mais a Zona do Euro, isso sem falar nas incertezas que ainda cercam o futuro de grandes economias como a Itália e principalmente a Espanha.
Com a perspectiva dos EUA se tornarem autossuficientes em petróleo, quem poderá enfrentar problemas ainda é outro dos Brics, a Rússia, país que tem na exportação de hidrocarbonetos uma de suas principais atividades.
Isso, porém, não deverá afetar de maneira tão sensível os países árabes exportadores de petróleo, pois eles têm como conquistar mais mercados especialmente na Europa e na Ásia. Como exemplo disso, Barros informou que em fevereiro deste ano pela primeira vez a China ultrapassou os EUA como principal importador mundial da commodity.
Brasil
Para o Brasil, o cenário não é ruim. Ele acredita que a demanda externa por produtos brasileiros, principalmente os do agronegócio, “vai continuar boa”, as taxas de juros internacionais permanecerão baixas e o dólar deverá se valorizar.
Na seara interna, porém, o economista avalia que houve uma piora no ambiente de negócios, principalmente no que diz respeito à “qualidade da regulação” feita pelo governo em determinados setores, como o de energia.
Ele destacou, no entanto, que o País tem grandes vantagens, que são seu amplo mercado interno e a situação de pleno emprego que vive. Nesse sentido, negócios voltados para o mercado doméstico têm grandes chances de prosperar. “O Brasil tem um mercado interno grande e vai continuar a ter, e o que for ligado isso vai bem. O que falta no [resto do] mundo hoje é consumo interno”, observou. Vale lembrar que o que fez o PIB brasileiro crescer nos últimos anos foi o consumo das famílias.
Nessa linha, ele listou setores que têm boas perspectivas de avanço no País, como o comércio, serviços, de bens de consumo, construção civil e o agronegócio. São áreas que ele recomenda aos investidores estrangeiros, inclusive aos árabes.
O que falta para o Brasil ter um crescimento mais vigoroso e sustentável é aumentar a taxa de investimentos. “O problema central é retomar os investimentos de forma consistente”, afirmou. Principalmente na área de infraestrutura, o investimento público patina e o privado anda tímido, e a saída, em sua opinião, são as concessões. “Se o País continuar a derrapar nisso, vai continuar a derrapar no crescimento”, declarou.
Essa questão está diretamente ligada a outra que o preocupa, que é a inflação. Com demanda em alta e investimento em baixa, a tendência é que a oferta não atenda ao mercado e o resultado é o aumento de preços.
Para este ano, Barros acredita que o PIB brasileiro crescerá até 3%. Em 2014, a projeção é de até 4%. Suas estimativas de inflação são de 6% e 6,5%, respectivamente.
A palestra foi acompanhada por empresários, consultores, profissionais liberais e diretores de entidades setoriais. A abertura foi feita pelo presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, pelo ex-diretor da organização Mário Rizkallah, responsável pela organização de palestras, e pelo decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil, Ibrahim Alzeben, que é embaixador da Palestina.


