Cairo – A recente estratégia de diversificação das fontes de aprovisionamento de gás natural e de energias renováveis, adotada pela União Européia, em consequência da crise entre a Rússia e a Ucrânia, poderá beneficiar os países do Oriente Médio. A questão foi abordada em matéria publicada na última edição do semanário egípcio, Al Ahram Iktissadi (Ahram Econômico).
Este é atualmente um dos tópicos prioritários na agenda de trabalho do bloco europeu e está sendo discutido, formal e informalmente, com especialistas, jornalistas e representantes do público em geral. Para que a crise no fornecimento de gás à União Européia não se repita no futuro, o bloco deseja diminuir sua dependência em relação a países como a Rússia, hoje responsável por 40% do aprovisionamento de gás destinado aos países europeus.
Segundo a vice-diretora dos setores industriais, na direção geral do comércio da Comissão Européia em Bruxelas, Madeleine Tuininga, citada pela matéria do Al Ahram Iktissadi, a intenção dos países do bloco hoje é o de procurar novos fornecedores, especialmente os países árabes, que possuem importantes reservas de gás natural.
Segundo Tuininga, os principais pontos do plano de ação que irá tratar das questões de energia na União Européia foram anunciados no início de 2008 e apresenta como horizonte o ano de 2013. “Em 2010, a Comissão Européia deverá ser consultada sobre como a realização deste objetivo está sendo planificada”, explica ela.
A comissária européia de relações exteriores, Benita Ferrero Waldner, também demonstra uma grande preocupação com esta questão e explica, em um comunicado emitido pela delegação da Comissão Européia no Cairo, que os europeus notaram, há dois anos, que seria necessário diversificar suas fontes de gás e de energia de modo geral.
Em um comunicado, Waldner disse que, em 2008, esteve em uma conferência regional em Charm Al-Cheikh, no Egito, já com a intenção de introduzir os países árabes no plano de ação da comissão européia. Egito, Jordânia, Síria e Iraque estariam nessa listagem. Os países petroleiros do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC, em inglês) também estarão envolvidos.
A nota da comissária informa ainda que o primeiro pilar dos trabalhos de coordenação com estes países está baseado nos acordos bilaterais mantidos entre cada um deles e o bloco europeu. “Trata-se de harmonizar os regulamentos que dominam este setor, caracterizado por monopólios e por um importante papel exercido pelo estado, nos países do Norte e Sul do Mediterrâneo”, diz o documento.
O Egito, que já é signatário de um acordo de associação com a União Européia desde 2004, assinou recentemente um acordo de cooperação na área de energia. O documento prevê reformas neste setor. “Estamos extremamente interessados no Egito, visto que este país é o sexto maior exportador mundial de gás natural”, afirmou Tuininga à Al Ahram Iktissadi. “Sabemos que neste país se encontram também duas grandes usinas de liquefação”, acrescentou.
Mesmo estando relativamente distante da bacia do Mediterrâneo, o Iraque também faz parte do plano europeu. Segundo Waldner, existe hoje em Bruxelas uma tendência que encoraja os projetos de transferência de gás dos países do Sul à Europa. Esta mesma tendência diz respeito ao Iraque. Por isso, diz ela, discutir com este país um acordo de comércio bilateral e intercâmbio no setor de energia é um assunto que faz parte da pauta da comissão européia.
Gasodutos
Mas para que o gás árabe possa ser transferido à Europa, serão necessários grandes investimentos em infraestrutura. Sobre esta questão, a reportagem do Al Ahram Iktissadi ressalta que dois projetos importantes estão previstos nos países do Sul do Mediterrâneo. O primeiro é o de um gasoduto que passa pela Tunísia, Marrocos e Espanha. Trata-se de um projeto do setor privado, mas que recebe o apoio político da União Européia. Um acordo com um banco de investimento europeu também está sendo cogitado.
O segundo projeto é o do gasoduto árabe, que começa no Egito e atravessa a Jordânia, Líbano e a Síria – países membros da União para o Mediterrâneo. Os trabalhos de construção não estão ainda terminados, mas o gasoduto poderá transportar aos países europeus, não somente o gás egípcio, mas também o que vem do Iraque.