São Paulo – O Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) promoveu nesta terça-feira (04) um evento para discutir os desafios do novo governo brasileiro na política externa. Os painéis ocorreram no Espaço Câmara Árabe, na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na Avenida Paulista, em São Paulo.
Os temas abordados foram “O cenário interno e a percepção externa”, “Buscar um lugar no Brasil no mundo compatível com sua condição de uma das dez maiores economias globais”, e “O Brasil e a luta pela hegemonia entre os Estados Unidos e a China no século 21”. Falaram especialistas como o embaixador Rubens Barbosa, presidente do Irice; o embaixador Osmar Chohfi, vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara Árabe; o coordenador do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP (Gacint), Alberto Pfeifer; a coordenadora do Centro de Estudos de Comércio Internacional e Investimento (CCGI) da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV), Vera Thorstensen; o economista Roberto Luis Troster; e Fabiana D’Atri, economista coordenadora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Banco Bradesco. Entre os ouvintes estavam o embaixador da Bolívia no Brasil, José Kinn Franco, o diretor geral interino da Câmara Árabe, Tamer Mansour, e uma delegação da Câmara de Comércio Árabe-Moçambicana, entre outros. Na foto acima, da esq. p/ dir., Thorstensen, Chohfi e Barbosa.
Para Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington, o novo governo precisa fazer a reforma da Previdência e a reforma tributária para reduzir o “gap” (fenda) de credibilidade perante o mundo. Ele disse ainda que a política externa se “despartidarizou” com o governo Temer, e que “distorções econômicas” foram remediadas nos últimos dois anos.
“Lá fora, estão esperando para ver o que acontece aqui dentro”, afirmou o embaixador. Segundo ele, é uma novidade um político assumir uma posição de direita e de liberalismo econômico no Brasil, e inédito ser eleito presidente. “Esta agenda conservadora de costumes não é uma jabuticaba brasileira, mas um movimento global que está ganhando força nos Estados Unidos, Alemanha, Itália e Polônia, por exemplo”, afirmou, referindo-se ao presidente eleito Jair Bolsonaro.
Barbosa afirmou que o novo governo terá um grande desafio de assumir em um momento de turbulência e imprevisibilidade do cenário internacional, em que a globalização está “sob ataque”. Para ele, o governo tem de pensar em colocar o Brasil no lugar que ele deve ocupar, como uma das dez economias do mundo.
“A tarefa do Itamaraty e do governo brasileiro a partir de primeiro de janeiro se coloca em duas grandes vertentes, a primeira é reinserir o Brasil no fluxo dinâmico da economia e do comércio internacional, e a segunda, fortalecer a voz do Brasil no cenário internacional, nos organismos internacionais, sempre de acordo com os interesses brasileiros”, afirmou o diplomata. Ele explicou que, para fazer isso, o governo tem que definir prioridades e o que espera da relação com Estados Unidos, União Europeia, China, Mercosul e Brics, principalmente.
Sobre a questão da mudança da embaixada brasileira em Israel, Barbosa disse que o momento pede cautela. “Tenho me recusado a falar a respeito de afirmativas feitas durante a campanha e após a eleição, tanto do presidente eleito, quanto de seu filho (Eduardo) e do vice-presidente (Mourão). Ainda não ouvi o futuro ministro de Relações Exteriores (Ernesto Araújo) falar, então eu prefiro aguardar, afinal ele vai ser o chefe da diplomacia brasileira. Uma coisa é você escrever num blog, sobre globalismo, meio ambiente, Trump, como opinião pessoal sua. Outra coisa é traduzir esses conceitos gerais concretamente em atos de política externa; uma coisa é o princípio, outra é a prática”, pontuou.
Conjuntura
Pfeifer fez um panorama do cenário político brasileiro, desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, até o momento atual, com o presidente eleito Jair Bolsonaro. Comentou sobre “a nova forma de Bolsonaro se comunicar”, pelas redes sociais, e sobre a renovação dos políticos nas duas casas do Legislativo, a Câmara dos Deputados e o Senado. Disse que é preciso respeitar os poderes [Judiciário, Legislativo e Executivo], que “o presidente eleito faz a linha antiglobalista neopentecostal”, e mencionou o fato de o novo governo ter nomeado diversos militares para as pastas ministeriais. Também afirmou que o futuro ministro da Economia Paulo Guedes pode interferir nas relações exteriores do País, e falou sobre o alinhamento do presidente eleito com os Estados Unidos e seu presidente, Donald Trump.