São Paulo – Há exatos dois anos, uma explosão devastou o Porto de Beirute. Somada à grave crise econômica e à pandemia de covid-19, o Líbano vem trabalhando para se reconstruir e renascer das cinzas, mais uma vez. Para marcar os dois anos do acidente, a Embaixada do Líbano em Brasília e o Ministério das Relações Exteriores realizaram evento nesta quarta-feira (03), na sede da embaixada, em que foi lançado o Fundo Humanitário de Ajuda ao Povo do Líbano, com o objetivo de prestar auxílio ao povo libanês para se reerguer. Pessoas físicas, jurídicas e entidades poderão fazer doações para colaborar com a retomada do país árabe.
No evento, foi instituído oficialmente o grupo Unidos pelo Líbano como entidade não governamental. O grupo foi criado informalmente por diversas entidades da comunidade árabe-brasileira pouco tempo depois da explosão, em 2020. Um dos projetos do grupo é o Fundo Humanitário, e é ele que fará a supervisão, arrecadação e aplicação dos fundos e a governança dos projetos.
“O projeto do fundo que nos reúne esta noite é, na verdade, uma maneira de traduzir esta enorme influência que a comunidade de ascendência libanesa tem neste País em uma solidariedade tangível, sustentável e institucional com o povo libanês; uma solidariedade que retribuirá ao país dos ancestrais de muitos aqui; que construirá sobre essa ponte humana que conecta o Brasil ao Líbano; e que ajudará de uma forma sistemática que vai além da captação de recursos ad hoc ou da coleta de medicamentos quando necessário”, disse na ocasião a embaixadora Carla Jazzar, encarregada de negócios da Embaixada do Líbano no Brasil.
Cerca de 200 pessoas estiveram presentes no evento, entre autoridades, políticos, diplomatas e membros da comunidade líbano-brasileira. Falaram também o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, o ex-presidente Michel Temer, presidente de honra do fundo, e o presidente da certificadora Fambras Halal, Mohamed Zoghbi, que é o presidente do grupo Unidos pelo Líbano.
Representando a Câmara de Comércio Árabe Brasileira estavam o presidente Osmar Chohfi e o vice-presidente de Relações Internacionais, Mohamad Mourad. “A Câmara Árabe participa do grupo Unidos pelo Líbano desde sua concepção”, lembrou o embaixador Chohfi.
Crise econômica
A embaixada lembrou que o Líbano enfrenta uma das piores crises dos últimos 150 anos, de acordo com relatório do Banco Mundial. A libra libanesa atingiu uma desvalorização histórica, perdendo mais de 100% do seu valor frente ao dólar, a inflação chegou a 300%, os depósitos pessoais estão congelados nos bancos e a falta de reservas de moeda estrangeira limitou as importações de itens essenciais, como gás e óleo diesel. Por consequência, há blecautes que chegam a 23 horas por dia, e faltam alimentos, remédios e combustíveis, além de outros insumos básicos.
Este cenário foi agravado pela presença de mais de um milhão de refugiados sírios, pela pandemia de covid-19, pela explosão no porto de Beirute em 2020 e, mais recentemente, pela guerra entre Rússia e Ucrânia, já que 80% das importações libanesas de trigo se originam desses dois países.