São Paulo – Imagine viver em uma cidade sustentável, que gasta menos energia elétrica e é voltada ao bem-estar das pessoas, que podem acessar com facilidade e a curtas distâncias, em até 15 minutos, sua casa, seu trabalho, mercados, farmácias, entretenimento e todas as atividades do cotidiano a pé ou de bicicleta. Essa é a proposta do Distrito 2020, o legado da Expo 2020 Dubai, que começa a se transformar em um bairro-cidade assim que a feira terminar, no final de março de 2022. O plano é que o distrito continue crescendo ao longo de suas fases, e que em até 30 anos, ele tenha uma população de 150 mil habitantes.
A ANBA entrevistou o vice-presidente sênior da unidade de transição da Expo 2020, Sanjive Khosla (foto acima). Ele é responsável pela gestão da transição do local do megaevento para o modo legado. “Somos responsáveis por supervisionar a transição, colocar em prática todos os planos e garantir que eles sejam executados”, disse.
Cidade voltada para as pessoas
Distrito 2020 é uma cidade do futuro centrada nas pessoas, contou Khosla. “Ele foi projetado para ser uma 15-minute city, (cidade de 15 minutos, em tradução literal), que significa que tudo que você precisa diariamente, semanalmente e até mensalmente está a quinze minutos a pé ou de bicicleta. Você não deveria precisar de um carro só para fazer compras ou ir ao médico, ou até mesmo para entretenimento. Aqui, você terá tudo que precisa”, disse.
Outro aspecto de ser uma cidade centrada no ser humano é a sustentabilidade. “No geral, investimos muito tempo, dinheiro e esforço para garantir que todo o evento fosse sustentável. Todos os edifícios que construímos têm certificação LEED Gold ou LEED Platinum (os mais altos da certificação de práticas de construção sustentável)”, disse o vice-presidente. Isso significa que, normalmente, eles consomem 80% menos eletricidade e 51% menos água que um prédio comum.
A Expo gera 22% da própria eletricidade por meio de painéis solares nos telhados dos prédios. “Alguns de nossos prédios são prédios com net zero (emissão zero), como o Terra, que gera sua própria eletricidade por painéis solares e toda sua água vem do céu e é reciclada, é realmente um grande exemplo do que é possível, e no legado continuaremos fazendo isso para garantir que essa se torne uma cidade realmente sustentável”, disse.
Ter uma cidade voltada para as pessoas também significa olhar para a saúde e o bem-estar, informou Khosla. “Queremos promover um estilo de vida saudável e teremos pistas de corrida, ciclovias, para que as pessoas possam se divertir e ser um só com o meio ambiente, com a natureza e se manter saudáveis. É assim que queremos que o Distrito 2020 seja um modelo de cidade para o futuro”, disse.
O Distrito 2020 incluirá instalações de saúde e bem-estar comunitárias, com 10 quilômetros de ciclovias, cinco quilômetros de pistas de corrida; 45 mil metros quadrados de parques e jardins incorporando elementos de água e passagens de pedestres totalmente conectadas em todo o projeto.
A Expo termina em 31 de março de março de 2022, e a transição começa em seguida, segundo o vice-presidente. Após um curto período de reaproveitamento e transição, o distrito começa a ser transferido para os futuros ocupantes no quarto trimestre de 2022 e continua em fases. Serão mais de 115 mil metros quadrados de área comercial construídos e disponíveis para movimentação a partir de outubro de 2022, e mais de 800 unidades residenciais a serem entregues a partir de janeiro de 2023.
Khosla afirmou que todas as pessoas de todas as origens e nacionalidades são bem-vindas a morar e trabalhar no Distrito 2020, mas que as residências serão principalmente de estúdios de um quarto, o que possivelmente deverá atrair uma população mais jovem.
O Distrito 2020 pretende ter 150 mil habitantes até 2050. “Eu vivo em Dubai há 20 anos, eu vi esse lugar se transformar de uma população de 400 mil para 3,5 milhões de habitantes. Eu posso estar estimando 30 anos hoje, mas não vou me surpreender se alcançarmos essa visão em metade do tempo, em 15 anos. A forma como Dubai segue crescendo, e mesmo a forma como estamos lidando com a pandemia, e ainda assim conseguimos sediar esse evento incrível. A ambição e a forma como a cidade e as pessoas daqui respondem aos desafios é incrível, então eu não me surpreenderia”, disse Khosla.
A ideia é que o distrito se torne o quinto centro urbano da cidade de Dubai, ao lado de Downtown, Dubai Marina, Silicon Oasis e Old Dubai (Deira).
Estrutura que permanece
Além dos bairros residenciais e comerciais, ativos construídos na fase de transição da Expo 2020 Dubai, Khosla contou que pelo menos 80% da estrutura atual da exposição permanecerá no Distrito 2020. Os pavilhões Terra, Mobilidade, Missão Possível – Oportunidade, o parque Jubilee e a praça Al Wasl são algumas das atrações que permanecem no projeto.
Quanto aos pavilhões de países, Khosla disse que eles têm autonomia para decidir se ficam, se são desmontados e reciclados, ou se voltam para seu país. Entre os que já confirmaram que ficam no Distrito 2020 estão os pavilhões dos Emirados Árabes, da Arábia Saudita, da Índia e de Luxemburgo.
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“Luxemburgo está nos presenteando seu pavilhão, ainda vamos decidir o que fazer com ele. Alguns pavilhões se tornarão atrações culturais, e outros terão diferentes usos. A Índia, por exemplo, se tornará a India House (ou Casa da Índia), um local para reuniões de negócios, eventos culturais, uma mistura de utilidades. Outros pavilhões podem se tornar hubs de inovação para startups daquele país, funcionando como uma porta de entrada para essas companhias. Isso vai ajudar a manter todo o local funcionando e eles amam o que fizemos aqui na Expo e querem fazer parte do legado”, declarou.
Outros pavilhões podem ser enviados de volta para o seu país. Os Emirados Árabes levaram os pavilhões da Expo de Milão e de Xangai para Abu Dhabi, Khosla mencionou. A França já anunciou que pretende fazer isso com seu pavilhão da Expo Dubai para instalar em alguma cidade no país.
“É importante assegurar que tudo será reciclado ou reutilizado. A Holanda anunciou que vai reciclar, eles fizeram o pavilhão com partes de navios usados. Estamos incentivando os países menores que estão com pavilhões nos distritos temáticos a ficar, mas aqueles que não quiserem, iremos converter as instalações em escritórios e residências”, disse.
Khosla mencionou ainda que está incentivando alguns dos restaurantes da Expo a manterem suas estruturas. “Talvez não precisemos de todos eles, mas queremos manter os mais populares, com certeza”, disse.
Serão removidas algumas partes da infraestrutura como as áreas de entrada e venda de ingressos, que não terão mais utilidade no distrito.
Há dois hotéis planejados no projeto do legado, incluindo o Rove Expo 2020 Hotel, que já está funcionando durante a exposição. No lobby do hotel Rove (fotos), é possível conhecer mais sobre o Distrito 2020.
A estação de metrô Expo 2020 permanecerá, talvez com outro nome, e há um projeto de extensão da linha vermelha para uma nova parada no Aeroporto Internacional Al Maktoum.
Assim como na exposição, o distrito manterá uma infraestrutura digital altamente conectada e resiliente, que inclui uma rede local de alta velocidade, ampla cobertura 5G e WiFi, sensores ambientais e capacidade de IoT, entre outras.
O distrito fica próximo ao porto de Dubai e a 12 quilômetros do novo aeroporto internacional Al Maktoum, a ser inaugurado. Khosla contou que o Aeroporto Internacional de Dubai deve ficar apenas com a companhia aérea Emirates, e o Al Maktoum fará os voos das demais companhias aéreas.
Negócios
Além de ser uma cidade do futuro voltada para as pessoas, o Distrito 2020 quer ser um centro de inovação, em que startups, pequenas e médias empresas, universidades e laboratórios trabalhem juntos para criar inovações e soluções para problemas e desafios globais. “Queremos focar em logística inteligente e na indústria 4.0, cidades inteligentes e tecnologias limpas”, disse o executivo.
Metade dos edifícios vai ser transformada em prédios empresariais e a outra metade, em residenciais. Khosla contou que já foram vendidos 15% dos edifícios para alguns patrocinadores da Expo. “A Siemens terá um prédio para a Siemens Industrial (indústria 4.0); a Siemens Energy terá outro prédio voltado para tecnologias limpas; a Terminus Group, que fez os robôs da Expo (Opti, concièrge e segurança), vai estabelecer sua sede internacional aqui, serão três edifícios em um dos distritos temáticos”, disse Khosla.
O distrito ainda terá um programa chamado Scale2Dubai, em que startups podem se inscrever para participar para obter dois anos de aluguel gratuito para até quatro pessoas para startups nos setores de inovação e tecnologia. A ideia é facilitar a entrada de startups e pequenas e médias empresas a esse mercado, e fazer do distrito um local onde elas possam testar seus produtos em um ambiente real.
Os principais setores da indústria que devem olhar para o Distrito 2020 em um primeiro momento são o de construção, infraestrutura e painéis solares. “Vamos precisar de todos eles enquanto estivermos construindo todas as novas fases”, disse. Empresas do Brasil e de todo o mundo poderão se inscrever para participar da construção das novas fases, bem como estabelecer um escritório no distrito.
Convite
“Estamos verdadeiramente abertos não só da perspectiva do legado, mas queremos que o público venha visitar a Expo, porque uma vez que você visita o evento você se dá conta do quão especial é este lugar. Não há melhor hora para visitar do que agora, durante o evento, para ver esse lugar vivo, de dia e de noite – não visite só durante o dia, venha à noite também porque é mágico”, ele convidou.
Os lugares preferidos do vice-presidente na Expo 2020 Dubai são a praça Al Wasl, a Water Feature, os pavilhões Visão, Mobilidade e Missão Possível, e entre os pavilhões de países ele destacou os dos Emirados, da Arábia Saudita, Alemanha, Rússia, Paquistão e Índia.
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