Alexandre Rocha
São Paulo – As exportações brasileiras de veículos agrícolas (tratores e colheitadeiras), entre janeiro e outubro deste ano, já superaram em muito o total das vendas externas realizadas em todo o ano de 2002. Em 2003, até o mês passado, foram embarcadas 17.227 unidades, o equivalente a US$ 771,54 milhões, de tratores, colheitadeiras e outras máquinas.
Em comparação ao mesmo período de 2002, quando foram exportadas 8.787 unidades (US$ 542,8 milhões), houve um crescimento de 96,1%, em termos de unidades embarcadas, e de 42,1% em termos de valores. No ano passado inteiro foram vendidas 10,4 mil máquinas ao exterior. Os dados são da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
O vice-presidente da entidade para o setor, Pérsio Pastre, diz que o crescimento das exportações vem sendo uma constante nos últimos anos, principalmente após o lançamento, em 2000, do programa Moderfrota do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que concede aos produtores financiamentos para a compra de máquinas agrícolas a juros mais baixos do que os de mercado.
De acordo com ele, em 2000 as exportações do setor geraram uma receita de US$ 465,1 milhões, em 2001 de US$ 547,6 milhões e, em 2002, de US$ 640,8 milhões, após uma fase de vacas magras que começou em meados da década de 1990, no início do Plano Real.
“Essa indústria teve um período de muitas dificuldades no início do Real, nas exportações por causa do câmbio e no âmbito interno houve perda da capacidade de investimento na agricultura e o mercado encolheu”, afirma Pastre.
Apesar disso, segundo ele, o setor acreditava no potencial de crescimento do mercado interno, pois os agricultores precisariam de máquinas para ter competitividade. Além disso, havia uma “tendência natural” de abertura dos mercados internacionais. “Com essas certezas, a indústria investiu em processos produtivos e novas máquinas. Hoje nós temos tecnologias próximas das mais avançadas dos outros países”, garante.
Ele acrescenta que, “com produtos atualizados”, os fabricantes passaram a procurar o mercado externo. “Com o aumento da produção para o mercado interno, o setor ganhou economia de escala, além de um bom nível de redução de custos, e tornou-se competitivo no cenário internacional”, explica o executivo. “O mercado interno ajudou o externo e vice-versa”, acrescenta.
Com isso, afirma Pastre, a indústria de veículos agrícolas conseguiu cativar clientes no exterior e também entrar em mercados não tradicionais. Além do preço e da qualidade, o comprador desses equipamentos também exige assistência técnica de bom nível e imediata.
“O produtor não pode prescindir da máquina, então ele precisa confiar no fornecedor e a assistência técnica imediata é decisiva, e o Brasil conseguiu essa imagem de confiança lá fora”, declara.
Hoje, de acordo com Pastre, os principais compradores do Brasil são os países do Mercosul e a recuperação econômica da Argentina, “um país que investe bastante em tecnologia agropecuária”, ajudou no crescimento das vendas brasileiras. O segundo maior importador são os Estados Unidos.
Novos mercados
O setor também acredita no potencial dos novos mercados, como os dos países árabes. Hoje o principal comprador de veículos agrícolas na região é o Marrocos que, segundo Pastre, já comprou mais de 500 máquinas este ano, seguido da Tunísia (“quase” 300), Iraque (mais de 100) e Egito (mais de 30). Foram feitos embarques também para a Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Omã, Catar, Sudão, Kuwait e Arábia Saudita, porém em menores quantidades.
Pastre divide em três níveis as exportações para estes países: um primeiro em que as quantidades são muito pequenas, para demonstração, o que sinaliza um início de apresentação do produto, como no caso da Arábia Saudita para onde foram embarcadas apenas duas unidades este ano; o segundo nível já apresenta um certo volume de negócios, como no caso do Egito; e o terceiro é representado por compradores mais tradicionais, como é o caso do Marrocos.
Segundo o executivo, a prospecção de novos mercados faz parte de postura corporativa mundial do setor. Isso porque a maioria das fábricas de tratores e colheitadeiras instaladas no Brasil é multinacional. No entanto, segundo Pastre, existe abertura para que as subsidiárias negociem em outras frentes, até “competindo com suas irmãs”. As subsidiárias brasileiras, por exemplo, podem muito bem prospectar mercados “além do Mercosul”.
Queda nas vendas internas
Apesar do crescimento nas exportações, houve uma diminuição das vendas no mercado interno. No acumulado do ano, até outubro, o setor vendeu 33.475 unidades internamente, 9% a menos do que o total registrado no mesmo período do ano passado, quando foram vendidas 36.770 máquinas.
Pastre diz, porém, que essa queda não pode ser considerada uma tendência. Segundo o executivo, ela foi causada por “problemas de financiamento” ocorridos no início do ano. “Depois os financiamentos vieram”, disse. No entanto, em outubro, já no final do ano, o volume das vendas ficou em 3.553 unidades, menos que em setembro (4.149 máquinas) e menos dos que em outubro de 2002 (4.812 unidades).
Ele diz, porém, que a média de vendas registrada de 2000 para cá é muito maior do que a dos anos 1990 (31.059 unidades em 2000, 35.523 em 2001 e 42.564 em 2002, contra uma média de 24.696 na década passada) e os números não podem ser avaliados apenas em um momento específico.
Pastre acredita que até o final do ano serão vendidas entre 40 mil e 41 mil unidades no mercado interno e a perspectiva para o ano que vem é de um crescimento entre 8% e 10%.