Geovana Pagel
São Paulo – As exportações brasileiras de mel devem crescer 40% em relação ao ano passado. Em 2002 foram vendidas 12.640 toneladas e até o final deste ano serão 17.000 toneladas. Somente de janeiro a julho de 2003 foram embarcadas mais de 8 mil toneladas, gerando receita de US$ 20,5 milhões. Números expressivos e animadores quando comparados ao ano 2000, quando o Brasil exportou apenas 269 toneladas.
“O Brasil começou a exportar depois que a China parou”, explica Joail Humberto Rocha Abreu, presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), referindo-se a problemas de contaminação dos apiários chineses, devido ao uso de antibióticos.
“A China exportava em média 200 mil toneladas, principalmente para a Alemanha e Estados Unidos, os grandes importadores mundiais”, diz Abreu. “Na falta do mel chinês, eles passaram a importar do Brasil, México, Austrália, entre outros”, afirma.
De acordo com o presidente da CBA, o mel da China é classificado como de segunda linha e oferecido a preços baixíssimos. E 90% do mel preferido pelos grandes importadores é justamente este mel mais barato, para ser utilizado na indústria. “Quando os chineses retomarem o mercado nós vamos enfrentar um problema sério”, alerta.
A saída para manter as exportações e tentar ganhar ainda mais espaço, segundo ele, é vender o mel brasileiro que é naturalmente orgânico (não usa nenhum tipo de antibiótico) já envasado. “Assim podemos agregar mais valor ao produto, divulgar e valorizar a marca brasileira lá fora”, acredita.
“Atualmente vendemos mel a granel, misturando todas as cores e sabores”, comenta. No Brasil existem mais de 300 floradas (tipos de flores), o que interfere diretamente no sabor e na coloração do mel. O maior produtor de mel brasileiro é o Estado do Piauí, seguido por Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia e Ceará.
A participação em feiras e congressos internacionais, que permitam a degustação desta grande variedade de cores e sabores do mel brasileiro, também pode ser um dos caminhos para o comércio exterior.
Abreu comenta ainda a possibilidade de apoio da Agência de Promoção das Exportações do Brasil (Apex) para incentivar as vendas, inclusive para novos mercados. “Isto ainda é um trabalho de formiguinha. Leva tempo, mas estamos trabalhando para isso”, destaca.
Os países árabes, por exemplo, podem se tornar futuros compradores. A Argélia é um tradicional importador do produto, que ocupava o sétimo lugar da pauta de importagões globais do país em 2000. “Se eles tiverem interesse em organizar um grupo de empresários para conhecer nossos produtos, estou à inteira disposição para mostrar a excelente capacidade da nossa produção”, garante.
Pequenos produtores
O aumento considerável nas exportações de mel, registrado principalmente nos últimos dois anos, está estimulando o crescimento de pequenos apiários e despertando o interesse de muita gente para o negócio.
A apicultora Rita de Cássia Boito Barion, 53 anos, proprietária do apiário O Doce da Abelha, localizado na fazenda Anhembi, no município de Itu, São Paulo, coletou no ano passado cerca de 10 toneladas de mel silvestre.
“Trabalho com mel há 10 anos, mas levei algum tempo até pegar o timbre comercial”, explica a produtora que agora exporta praticamente toda a produção para Alemanha e Dinamarca. “As exportações pagam melhor, mas eu não esqueço dos primeiros clientes que foram na minha porta comprar um pote de mel”, garante Barion, que sempre reserva uma quantidade para os fiéis compradores.
Rita cultiva aproximadamente 600 colméias do gênero melíficas européias. O mel da fazenda Anhembi é vendido a granel para um entreposto que assume a responsabilidade de todo o processo de análise, homogeinização e envio do produto para o exterior.
Entreposto
Antes de embarcar para a Europa, o mel de Itu segue até Curitiba. No Paraná, a Latsis Indústria e Comércio de Produtos Naturais Ltda. funciona como o entreposto para as exportações de muitos dos pequenos produtores da região Sul e Sudeste do país.
“Temos compradores que vão para o interior em busca de mel e também dão orientação e assistência para os apicultores”, conta a bióloga Leni Purin Schause, 52 anos, que trabalha com mel há mais de 20 anos e anteriormente já exportava própolis para a Ásia – Japão, Taiwan e Coréia.
De acordo com a bióloga as exportações de mel da Latsis ainda são pequenas, um contêiner mensal de 20 toneladas, mas podem duplicar em seis meses. “Temos muita vontade de ampliar as exportações e as possibilidades de conhecer novos mercados”, garante.
Contatos
Confederação Brasileira de Apicultura (CBA)
55 21 2493.9748
Apiário da fazenda Anhembi
55 11 4897.9788
www.odocedaabelha.com.br
Latsis Indústria e Comércio de Produtos Naturais Ltda.
55 41 262.7081

