Alexandre Rocha
São Paulo – As exportações do agronegócio brasileiro para os países árabes renderam US$ 1,285 bilhão no primeiro semestre deste ano, contra US$ 645,6 milhões registrados entre janeiro e junho de 2003, o que significa um aumento de 99%. O setor foi responsável por 69,11% do total das vendas do Brasil para a região no período, que chegaram a quase US$ 1,86 bilhão, um recorde histórico.
Os principais destinos na região foram a Arábia Saudita (US$ 274 milhões); Egito (US$ 194 milhões); Emirados Árabes Unidos (US$ 193,3 milhões); Marrocos (US$ 152,5 milhões); Argélia (US$ 108,4 milhões); e Síria (US$ 66,1 milhões). Já os principais produtos embarcados foram açúcar, frango, carne bovina, trigo, complexo soja (farelo, grãos e óleo) e café.
Em junho as exportações do agronegócio para os árabes somaram US$ 272,7 milhões, contra US$ 113,9 milhões no mesmo mês do ano passado, o que significa um aumento de 139,28%. Os principais destinos no mês foram a Arábia Saudita, Marrocos, Egito, Emirados Árabes, Argélia e Síria. Os principais produtos embarcados foram açúcar, frango, carne bovina e complexo soja.
"Isso mostra o esforço do Brasil para diversificar os seus mercados", disse o diretor do Instituto de Estudos da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Luiz Antonio Pinazza. "Mostra também o esforço bilateral para aumentar as relações, principalmente após a viagem do presidente Lula, pois essa é uma via de duas mãos", acrescentou, referindo-se à visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez a cinco países árabes em dezembro de 2003.
"Via de duas mãos" porque as importações de produtos árabes também têm crescido. Entre os principais itens comprados pelo Brasil estão fertilizantes e matérias-primas para a fabricação de fertilizantes, essenciais para a agricultura e fornecidos por países como Marrocos, Tunísia, Argélia, Egito e Líbano.
Na opinião de Pinazza, esse aumento no comércio com a região mostra uma "visão mais comercial" da diplomacia brasileira.
Mercadorias
Com relação aos produtos, ele afirmou que o crescimento das vendas de açúcar reflete uma estratégia mais agressiva adotada de uns tempos para cá pelo segmento. Opinião semelhante à de Sávio Pereira, que é coordenador-geral das cadeias de produtos de exportação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.
"O setor de açúcar e álcool no Brasil passou por uma reestruturação extraordinária e se modernizou nos últimos anos. Países como os Estados Unidos e os europeus só conseguem competir concedendo subsídios aos produtores. Sem os subsídios o Brasil tomaria seus mercados", afirmou Pereira.
Pinazza acrescentou que outros produtores da commodity, como a Tailândia e a Austrália, enfrentaram problemas de seca recentemente.
Um dos produtos cujas exportações para os árabes mais crescem é a carne bovina. "É a tendência, já que o Brasil está se tornando o grande fornecedor mundial do produto", afirmou Pereira.
Pinazza acrescentou que o preço médio do produto aumentou muito no mercado internacional, o que causou reflexos positivos nas receitas das exportações brasileiras.
As possibilidades para o Brasil neste segmento se ampliaram ainda mais após a ocorrência de um caso do mal da vaca louca nos EUA no ano passado, o que acarretou no fechamento de mercados para os norte-americanos.
Mas nem tudo corre às mil maravilhas nesta seara. Após o aparecimento de um caso de febre aftosa no Pará, o Egito suspendeu a importação de carne daquele estado. A Jordânia, que comprou pouco mais de US$ 1,86 milhão em carne bovina brasileira entre janeiro e junho, também decidiu suspender as importações do produto.
No caso da soja, Pereira citou a quebra de safra ocorrida nos Estados Unidos no ano passado, o que favoreceu os produtores brasileiros. "Ocorreu um desvio de comércio e o Brasil conquistou espaço", disse.
Em sua avaliação, esse "desvio de comércio" foi um dos grandes responsáveis pelo aumento das vendas brasileiras para a região, tanto por motivos "conjunturais", em função da ocorrência de problemas sanitários ou climáticos em outros países produtores, quanto por razões "estruturais", representadas pela competitividade dos produtos brasileiros e pela promoção comercial.
As vendas de trigo, por exemplo, foram favorecidas por fatores conjunturais. Os agricultores brasileiros começaram a exportar o produto, no final do ano passado, para fugir dos baixos preços praticados no mercado interno.
Com relação ao café, Pereira lembrou que o setor vive uma crise, que atinge fortemente países produtores da América Central e a Colômbia. Embora ela também tenha efeitos no Brasil, a produção nacional continua alta.
Já no caso do frango, os países árabes são tradicionais compradores há anos. O Oriente Médio é o maior mercado do produto brasileiro. Além disso, outros países produtores, principalmente da Ásia, foram assolados recentemente por uma epidemia de gripe aviária.

