Alexandre Rocha, enviado especial
Argel – O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, acredita que as exportações do Brasil para a Argélia podem aumentar em US$ 500 milhões nos próximos dois anos, o que significa mais do que dobrar o volume embarcado atualmente. "E ainda haveria mais espaço para crescer", disse ele ontem (21), após seminário sobre oportunidades de negócios entre os dois países em Argel.
Há espaço para crescer, na avaliação do ministro, porque a pauta do comércio entre as duas nações está concentrada em alguns poucos produtos e ela pode ser diversificada. Do lado brasileiro, mercadorias como açúcar e carne têm enorme peso na pauta, do lado argelino, o petróleo e seus derivados. "Tudo o que a Argélia compra de outros países, o Brasil produz", disse Furlan no seminário e em vários dos encontros que teve durante o dia.
Além disso, há espaço para crescer porque a balança comercial entre as duas nações ainda é muito deficitária para o lado brasileiro. Entre janeiro e outubro deste ano, o Brasil exportou o equivalente a US$ 340 milhões para a Argélia, enquanto importou US$ 2,3 bilhões.
Para promover o comércio, Furlan citou uma série de propostas que estão na mesa, como a criação de um vôo entre a Argélia e o Brasil, passando por Lisboa; a reativação da comissão bilateral mista que já foi criada pelos dois países; a abertura de linhas de crédito mútuas; a abertura de linhas marítimas; e a realização de uma missão comercial argelina ao Brasil no início do próximo ano.
As próprias autoridades argelinas reconhecem que a balança é muito favorável para o país árabe e deixaram claro que é preciso um equilíbrio maior. O ministro das Participações e da Promoção dos Investimentos da Argélia, Abdelhamid Temmar, que estava ao lado de Furlan no seminário, disse que, após um período muito difícil, o país voltou crescer na base de 5% ao ano desde 1999 e que o poder de compra do povo argelino vai dobrar até 2009. "Aqui existe uma sociedade de consumo", declarou.
Infra-estrutura
Mas mais do que comprar, a Argélia está preocupada em consolidar sua transição para uma economia integrada no cenário internacional e, para isto, precisa investir pesadamente em infra-estrutura. Tanto que o governo pretende investir US$ 60 bilhões nos próximos cinco anos, dinheiro alavancado pelo aumento do preço do petróleo. "Hoje temos muito dinheiro. Somos bons muçulmanos e Deus decidiu pelo aumento do petróleo", brincou Temmar.
Entre os projetos em andamento no país estão a construção de um milhão de casas populares, mil quilômetros de estradas, 850 quilômetros de estradas de ferro, seis portos e 15 barragens. Os argelinos querem formar parcerias com empresas brasileiras em diversas áreas.
Durante os encontros que teve com seus colegas argelinos, Furlan levantou uma série de outros setores onde é possível estabelecer cooperação. Do ministro das Finanças, Mourad Medelci, com quem ele se encontrou no domingo à noite, Furlan ouviu que o governo local tem interesse na tecnologia de automação bancária existente no Brasil, nos sistemas de governo eletrônico, na cooperação agrícola e na experiência brasileira com a reforma da economia.
De mais de um colega, Furlan ouviu falar do interesse da Argélia em se tornar um parceiro estratégico do Brasil. Foi o caso com o secretário-geral do Ministério do Comércio, Chelgham Mohamed Kamel. Durante esta reunião, o ex-presidente e atual tesoureiro da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Paulo Sérgio Atallah, sugeriu a criação de uma comissão para sistematizar todas as propostas apresentadas durante a viagem e colocá-las em prática. O ministro indicou a Câmara Árabe como interlocutora sobre esta questão junto aos empresários brasileiros.
Ontem, no segundo dia da missão comercial à Argélia, Furlan ainda se encontrou com o primeiro-ministro do país, Ahmed Ouyahia, e com o Ministro da Indústria, Mahmoud, Khoudri. Hoje está prevista uma audiência com o presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika. Logo depois a delegação retorna ao Brasil.

