Omar Nasser, da Fiep*
Curitiba – Entre os dias 21 e 29 deste mês o calígrafo libanês Moafak Helaihel realiza exposição de caligrafia árabe no Centro Cultural Árabe-Sírio, em São Paulo. A mostra terá 20 quadros representando versículos do Alcorão – o livro sagrado dos muçulmanos – pintados de acordo com os mais significativos estilos de escrita decorativa árabe. O Centro Cultural Árabe-Sírio fica na rua Augusta, número 1.053.
Em setembro deste ano, Helaihel pretende realizar a exposição em Curitiba, onde mora e tem seu ateliê. Ele está organizando, no momento, um curso sobre cultura árabe na Universidade Federal do Paraná. Ministrado pelo Centro de Línguas da instituição, o curso tem início programado para 15 de agosto, devendo durar até o final do ano letivo. Mais informações podem ser obtidas no Celin, pelo e-mail direcaocelin@ufpr.br, ou pelos telefones (41) 3254-8715 e (41) 3363-3354.
A exposição é uma oportunidade de entrar em contato com uma expressão artística característica dos árabes muçulmanos. A caligrafia foi elevada à categoria de elemento decorativo por excelência nas mesquitas, uma vez que a religião islâmica proíbe a reprodução artística da figura humana. Ao longo dos séculos, à medida que o Islã se expandia, novos estilos de escrita decorativa foram sendo desenvolvidos, incorporando contribuições de povos e regiões diversas, como Egito, Iraque, Pérsia e Turquia.
O interesse pela caligrafia árabe é crescente, atesta Helaihel. Há dois anos, este imigrante, natural de Baalbek, que está há quase 30 anos no Brasil, criou uma comunidade no Orkut – página de relacionamentos na internet – sobre arte e caligrafia árabes. Hoje, são cerca de dois mil integrantes. "A caligrafia árabe não tem limite", destaca. "Começou na Arábia e foi levada ao mundo", explica, assinalando que o interesse dos brasileiros – descendentes de árabes ou não – pelo tema indica que há um campo fértil para esta arte se desenvolver no país.
Para aperfeiçoar seus conhecimentos, entre janeiro e março deste ano Helaihel fez um curso de quatro meses no Centro de Caligrafia Árabe e Artes Ornamentais dos Emirados Árabes Unidos. Na ocasião, teve oportunidade de conviver com grandes nomes da arte caligráfica árabe contemporânea, como Farouk Haddad e Hassan Jaldi.
"A caligrafia árabe é a alma da alma e o cérebro do cérebro", diz. A frase sintetiza o lugar especial que esta arte tem na cultura árabe e islâmica. Ela conquista não só pelo significado profundo contido nas palavras do Alcorão Sagrado, mas pela beleza das formas. As palmas e meias-palmas, o entrelaçamento das linhas verticais e horizontais das letras, a superposição dos pontos e o registro preciso dos sinais diacríticos da escrita árabe causam um grande impacto estético, elevando o espírito e apontando para dimensões que superam a matéria.
Helaihel explica que há seis estilos básicos de escrita caligráfica árabe: Kufi, Nesukhi, Diwani, Rukai, Farsi e Thuluthi. Cada um deles, contudo, tem um grande número de variações. Por exemplo, do Kufi – originário da cidade de Kufa, no Iraque – derivam 60 formas, conta ele. Por outro lado, na Turquia surgiu um estilo próprio, o Tughra, conhecido como "carimbo do rei", um tipo de escrita decorativa restrita, antigamente, às cortes otomanas.
De acordo com Helaihel, há um despertar dos jovens no mundo árabe e islâmico pela caligrafia. Em sua última viagem ao Oriente Médio – quando fez o curso nos Emirados – ele teve a oportunidade de constatar o surgimento de uma nova geração de calígrafos. Não apenas homens, mas mulheres também. Ele acredita, contudo, que ela não deve ficar restrita ao Oriente Médio e Norte da África. "Temos um caminho grande a percorrer; estou começando aqui, quero plantar isso no Brasil", afirma.
*Federação das Indústrias do Estado do Paraná

