São Paulo – Um burro viajante que aprende novas lições por onde passa, um lobo mau que tem o coração amolecido pelas ovelhas e um senhor brincalhão que desafia até a morte. Todos são personagens criados pelo egípcio Habib Zahra, que mora no Brasil desde 2005 e se dedica a escrever livros infantis.
“Eu tinha um diário de viagem que se tornou uma fábula, que é um gênero que gosto muito desde pequeno e que é muito comum no Egito”, explica Zahra sobre como criou seu primeiro livro O burro errante, lançado em 2012. As ilustrações das obras são feitas por sua mulher, a espanhola Valeria Rey Soto.
Perguntado se suas histórias têm muita influência árabe, ele diz que alguns elementos de suas fábulas são herança de histórias que ouviu no Egito. “O Egito tem uma cultura oral muito grande e há muitas fábulas que as pessoas contam em que o protagonista é um burro”, exemplifica.
Nascido no Cairo, Zahra saiu de sua terra natal aos 16 anos e foi morar nos Estados Unidos. Depois de um tempo por lá, resolveu buscar novos ares e acabou em Olinda, Pernambuco. Lá, ele conheceu Soto e fez da cidade nordestina o seu novo lar.
Ele diz que para criar as obras discute as ideias com a mulher, em um processo em que o casal trabalha a história e as ilustrações do novo livro ao mesmo tempo. Acostumado a escrever desde jovem, Zahra diz não ter problemas ao criar suas obras em português. “Fui alfabetizado em francês. O árabe veio depois, e como o português é muito parecido com o francês, me sinto bastante confortável”, aponta.
A publicação dos livros é financiada com apoio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura PE), principal mecanismo de fomento e difusão da produção cultural naquele estado. Com o financiamento, Zahra e Soto também montam peças de teatro com as histórias de seus livros.
O burro errante e O último golpe do lobo mau tiveram peças montadas com atores e músicos amigos do casal. O próximo livro, O dia em que a morte sambou, que será lançado no final de novembro, terá sua encenação feita com bonecos de sombra. No teatro de sombra, os bonecos são manipulados e têm sua sombra projetada em uma tela.
Em abril deste ano, Zahra teve ainda a oportunidade de mostrar seu trabalho em seu próprio país. “Voltei ao Egito para visitar minha mãe e fui convidado para ir ao departamento de Língua Portuguesa da Universidade de Assuã conversar com os alunos, que já conheciam meu livro”, diz.
Por aqui, os livros do egípcio são vendidos na Livraria Cultura e em diferentes livrarias em Pernambuco. As obras também podem ser adquiras pela internet, no site http://habib-valeria.com/loja/.