São Paulo – A presença de falcões em solo brasileiro foi analisada por uma pesquisa feita exclusivamente de forma online. A graduanda Louise Mamedio Schneider e sua orientadora Erika Hingst Zaher contaram com a colaboração de observadores de aves, ilustradores especializados como Fredy Pallinger, e uma gama de imagens disponibilizadas na plataforma Wikiaves.
Na foto acima, um exemplo de registro feito pelo brasileiro Hudson Martins em Valença, no estado do Rio de Janeiro. Muitas fotos são feitas por amadores, mas há os que têm trabalhos ligados à atividade. Martins, por exemplo, guia ‘passarinhadas’, termo utilizado para os passeios que visam observar pássaros.
O falcão é uma ave distribuída globalmente, porém em diferentes subespécies. Encontrada no Oriente Médio, ela tem importância simbólica e é muito utilizada na arte da falcoaria. Apesar de ser muito visada pelos falcoeiros, em entrevista à ANBA Schneider explica que não encontrou registros desse tipo de atividade no Brasil.
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A pesquisadora explica que das 19 subespécies de falcão-peregrino, há algumas na América Latina e outras na América do Norte. “Uma das coisas que analisamos foi a hipótese de que havia migração de subespécies de países vizinhos para cá. Porém, descobrimos que não há registros disso. As espécies que encontramos em todos os estados brasileiros foram a tundrius, que vive nos Estados Unidos, e anatum, do Canadá e Alasca”, afirmou Schneider.
As duas cientistas analisaram cerca de 1.600 imagens disponibilizadas na Wikiaves por observadores de pássaros. Com fotos e dados, elas descobriram que os falcões chegam ao Brasil a partir de outubro até abril. O motivo da migração é o inverno na América do Norte.
Outros hábitos analisados no estudo foram a dieta, e se as aves viajam em casal. “Os falcões são monogâmicos e territorialistas. Estudos diziam que eles se encontravam apenas na época de acasalamento, mas notamos alguns casais juntos aqui também. Outro dado interessante é que os falcões jovens migram a partir de novembro, depois dos mais velhos. Isso foi uma descoberta da nossa pesquisa”, disse.
Falcões na cidade
Outro termo usado pela pesquisadora é a chamada ‘fidelidade do sítio’, que significa que os falcões retornam sempre para os mesmos poleiros, locais de descanso. “Por isso, é possível encontrar um falcão-peregrino que esteve na sua cidade anteriormente, porque ele provavelmente vai estar lá novamente no mesmo ponto no ano seguinte”, contou ela.
Entre os poleiros dos falcões peregrinos, há prédios e postes. “A presença dessas subespécies nas cidades aconteceu por uma certa intervenção humana. Há algumas décadas, essas aves sofreram com o uso de um pesticida, que afetou a reprodução delas. Para resgatar as aves, cientistas começaram a colocar ninhos em locais mais próximos, onde pudessem observá-los. Então, a reinserção dos peregrinos aconteceu nas cidades”, explicou Schneider.
Ave de porte médio, o falcão-peregrino se alimenta de aves menores. O fato de serem generalistas na alimentação também ajudou na adaptação a novos locais. “No Brasil, eles se alimentam de periquitos, aves que não existem na América do Norte. Eles também comem pombos comuns e morcegos”, exemplifica a pesquisadora.
O estudo agora está em fase de análise para possível publicação em veículo especializado. Enquanto isso, Schneider segue com outro projeto, o Escalas da Biodiversidade, no qual faz parte da equipe de produção de uma exposição virtual sobre serpentes brasileiras. Já sobre Erika Hingst Zaher, é possível acompanhar as novas pesquisas da estudiosa no laboratório do Museu Biológico do Instituto Butantan, onde ela atua, através do Instagram @mbiolab.