Cairo – A indústria de alimentos do Egito vem se sentindo ameaçada pela escassez de matérias-primas e pela dificuldade de concessão de cartas de crédito para as importações de insumos necessários à produção. O cenário se instaurou após o segmento ter conseguido manter sua solidez diante de desafios difíceis nos últimos dois anos, como a pandemia de covid-19.
No período, o mercado egípcio se manteve estável, com os preços dos produtos subindo apenas relativamente por fatores como o aumento do custo de produção. As exportações das indústrias alimentares egípcias alcançaram avanço notável nos últimos dois anos, provando a sua capacidade atender tanto o mercado local como o internacional.
O membro da Câmara de Indústrias de Alimentos da Federação das Indústrias do Egito (FEI) e presidente do Conselho Administrativo da empresa Sima Food Industries, Ahmed El Fendi, disse que a Câmara enviou nota ao Conselho de Ministros do Egito para intervir pela abertura de cartas de crédito o mais rápido possível. Segundo ele, o conselho informou que analisaria o documento e responderia em breve.
De acordo com Fendi, há temor de que as reservas de insumos das indústrias de alimentos acabem, paralisando a produção. O empresário explica que a falta de liberação de cartas de crédito causa crise no mercado e escassez de matérias-primas necessárias para a produção, além de medo das empresas de ficarem sem estoques.
Ele estima que exista um vão entre a oferta e a demanda, e que a oferta será prejudicada dentro de meses caso cartas de crédito não sejam liberadas. Fendi defende que a importação seja facilitada para que as empresas possam manter a capacidade produtiva. Segundo ele, o ano atual testemunhou recuo nunca visto antes na demanda, devido à inflação e à queda do poder de compra do consumidor, que adotou a cultura da racionalização.
Fendi afirma que a natureza do consumidor egípcio dificulta prever o volume das vendas durante o Eid. O período marca o final do Ramadã, tempo sagrado de um mês do Islã, no qual os muçulmanos jejum durante o dia e comem apenas depois que o sol se vai, normalmente em refeições coletivas. O Eid é o encerramento desse período, no qual ocorrem celebrações entre as famílias, com farta comida.
O diretor-geral da Câmara de Indústrias de Alimentos, Mahmoud El-Bassiouni, disse que o mercado egípcio sofre atualmente de escassez de algumas matérias-primas necessárias para a produção, de aditivos alimentares e de materiais de embalagens. Ele atribui isso à suspensão das cartas de crédito, ao aumento dos custos de envios internacionais de mercadorias e aos estoques das empresas se esgotando.
Como Fendi, ele também acredita que o problema com as cartas de crédito pode levar à suspensão do funcionamento das fábricas por falta de insumos de produção. Bassiouni defende a necessidade de disponibilização das matérias-primas o mais rápido possível para manter a continuidade do ciclo produtivo e não afetar mais a economia local.
Ele acredita que a continuação da falta dos insumos resultará na escassez da oferta, vácuo entre oferta e demanda, e desestabilização desnecessária ao mercado. O diretor-geral apela ao Banco Central Egípcio para abrir cartas de crédito para a compra de matérias-primas, levando em conta os estoques baixos das indústrias. Ele afirma que o problema logo se refletirá na oferta de alimentos, e o caos pode tomar conta do mercado no período do Ramadã e do Eid, épocas de vendas importantes para as empresas.
*Traduzido do árabe por Ahmed El Nagari