São Paulo – Custos muito menores, menos deslocamentos e eficiência. Estes são os pontos positivos das feiras virtuais, que, em razão da pandemia, tomaram o lugar das versões “tradicionais” das trade shows. Dificuldade em convencer o cliente e aumento da concorrência são, por sua vez, os desafios que este modelo impõe às empresas participantes.
Em setembro, a Calçados Gonçalves, da cidade de Rolante, no Rio Grande do Sul, participou da edição virtual da Sourcing at Magic, em Las Vegas. A empresa exporta seus produtos para Estados Unidos, França, Canadá, Portugal, Inglaterra e Austrália, entre outros destinos. De acordo com o gerente comercial, Deivis Gonçalves, a redução de custos é o principal ganho com a edição virtual. “Evento virtual é excelente, pois exige baixo investimento, menos gastos com hotel, alimentação, não precisa viajar tanto e nos permite também fazer um networking gigante. É uma grande vitrine”, afirma.
Diretora de Marketing da joalheria Ruth Grieco, Carolina Grieco (foto acima) conta que a empresa participou recentemente da edição digital da JCK de Las Vegas por meio do projeto setorial Precious Brazil, uma parceria do Instituto Brasileiros de Gemas e Metais Preciosos (IBGM) com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). A participação trouxe experiências positivas para a empresa, que até instalou câmeras no escritório para apresentar seus produtos.
“Foi uma novidade para todos, mas, mesmo depois do fim da feira, os contatos continuaram. Acho que muitos mercados foram abertos porque a prospecção de clientes foi grande”, diz Grieco. Ela afirmou que a plataforma virtual da feira proporcionou a todos os participantes a oportunidade de apresentar produtos e fazer contatos. Além disso, como evento paralelo à mostra, o projeto Precious Brazil organizou uma live com o influencer norte-americano de joias Benjamin Guttery.
Diretor da A&R Nutrição Animal e presidente da Câmara de Comércio Exterior da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA), Charbel Syrio conta que neste ano a empresa participou de duas feiras virtuais: uma na Colômbia e outra na China. A empresa exporta gordura animal e farinha óssea, entre outros produtos, para países da África e sudeste da Ásia. Ele afirma que o modelo virtual proporciona eficiência e que em muitos casos inicia uma conversa na feira virtual e marca para visitar o cliente após a pandemia. “Já agendei visitas para o começo do próximo ano”, diz.
“Otimiza o nosso tempo, pois, para participar de uma feira na China, eu gasto dois dias para ir e dois dias para voltar. Desta forma, podemos manter a rotina durante o dia e participar da feira na China durante a madrugada. Por outro lado, essa modalidade dificulta muito a aproximação com o cliente, porque, nós, brasileiros, somos muito bons na negociação cara a cara, no contato com o cliente”, diz Syrio.
O futuro do setor
Deivis observa que as feiras deixaram, já há algum tempo, de ser o local de lançamento dos calçados, espaço que foi ocupado justamente pela internet. Ele afirma, porém, que as feiras virtuais colocam dois desafios.
“A feira é o ponto de encontro, de relacionamento, de contato, de aperto de mão e sem as feiras esse contato esfria um pouco. Na plataforma digital, o custo mais baixo permite que muito mais gente se mostre ali e você corre o risco de se transformar em mais um na multidão”, diz. Por isso, observa Deivis, o bom vendedor, se torna ainda mais importante. Ele não acredita no fim das feiras tradicionais, mas aposta em um “modelo híbrido”, entre presencial e virtual: “As pessoas querem se encontrar. Mas antes se pegava um avião para uma reunião que agora fazemos pela internet”, afirma.
“Muita coisa vai ser revista, não apenas entre feiras, mas também para reuniões, encontros, palestras. Muitos negócios vão continuar com olho no olho, mas muitos outros vão se tornar online. É o futuro e vamos acompanhar esta mudança. Estamos presenciando mudança gigantes no setor do comércio”, afirma Carolina, que exporta os produtos da Ruth Grieco para Estados Unidos, Europa, América Central e do Sul e recentemente para países do Oriente.
Syrio afirma que nada substitui a presença e a visita ao cliente. “Às vezes ele tem uma necessidade que a gente só identifica visitando as instalações da empresa. Acredito que teremos um modelo híbrido”, diz.
* Reportagem de Marcos Carrieri, especial para a ANBA