São Paulo – A festa de comemoração da imigração árabe no Brasil, que será realizada nesta quarta-feira (25), irá premiar os vencedores do concurso de cinema “Os Árabes e a 25 de Março”, organizado em parceria pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e o Instituto da Cultura Árabe (Icarabe). Quatro produções concorrem ao prêmio Júri Popular, que vai dar R$ 10 mil ao vencedor. O prêmio Júri Oficial é de R$ 15 mil e será dado ao filme escolhido pelo júri formado pela Câmara Árabe e pelo Icarabe. Outro prêmio, Jovens Realizadores, irá premiar com R$ 6 mil a melhor produção feita por menores de 18 anos.
O concurso de cinema foi criado para a formação de um acervo que recuperasse a história da Rua 25 de Março e seu entorno, região que recebeu imigrantes árabes desde o fim do século 19. Embora aquela parte do Centro de São Paulo seja famosa pelo comércio popular e por ter recebido imigrantes árabes, o acervo conhecido sobre esta história ainda é pequeno. Cópias dos curtas-metragens serão guardadas pela Câmara Árabe e pelo Icarabe.
Para a diretora de Cultura da Câmara Árabe, Silvia Antibas, o objetivo do concurso foi atingido. “O objetivo era formar um acervo sobre a história da região, ampliar a pesquisa de fotos, filmes, histórias de famílias. Houve uma busca, houve o encontro de coisas inéditas que não se conhecia. Essas histórias e registros saem dos baús das famílias e agora passam ao conhecimento da sociedade”, afirmou. Ela disse que o projeto gerou mobilização da sociedade e mostrou aos mais jovens um pouco da história da região.
“A 25 de Março é um ícone que pertence, acima de tudo, à comunidade paulistana. Ela remete à cidade e nem todos têm o conhecimento da sua história. Hoje, por exemplo, é muito conhecida por ser uma rua de comércio popular. O concurso foi bom para os mais jovens inclusive terem conhecimento da história e origens da região”, disse.
Desafios
O concurso de cinema recebeu 28 inscrições de curtas-metragens e todos os inscritos foram convidados para a premiação. O Júri Oficial já escolheu, mas ainda não anunciou o vencedor nesta categoria e na de Jovens Realizadores. Assim como o vencedor do Júri Popular, eles só serão conhecidos no coquetel desta quarta-feira, no Esporte Clube Sírio, em São Paulo. Todos são documentários.
"Eu assisti a todos os filmes e, sem dúvida, temos uma preciosa coletânea de testemunhos, e uma visão direta sobre o que é hoje a 25 e o que ela foi [no passado]", destacou o presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum.
Autor de outros cinco curtas-metragens, o diretor de “25 de Março: A memória do mundo árabe”, Gustavo Brandão, afirmou que fazer este filme foi um “desafio”, pois foi preciso criar um roteiro sobre um tema pré-determinado. Ele optou por narrar a história da região nas palavras do desenhista Paulo Sayeg, que passou a infância ali e busca na sua memória e nos seus desenhos retratar aquela realidade. “Esse curta é um desafio. Eu gosto muito da história da imigração árabe, gosto do centro de São Paulo, acho que a região da 25 de Março é um universo à parte”, afirmou Brandão à ANBA.
Beatriz Le Senechal passou a se interessar pela cultura árabe ainda na faculdade de jornalismo, em 2004. O trabalho de conclusão de curso foi um documentário em que ela entrevistou personagens da região. Com aquele material, mais de oito horas de entrevistas, ela escreveu um novo roteiro e fez uma nova edição para “Arabescos – do mascate ao doutor”. A chegada dos imigrantes ao Brasil, muitos fugindo da miséria, e a prosperidade que conquistaram naquela região são retratados no filme. “Para mim, saber que ajudei a fortalecer o acervo sobre essa história é muito gratificante. Tive a sorte de contar com o relato de pessoas que tinham o conhecimento daquela região”, afirmou.
Filmar “Ao mundo novo” foi uma oportunidade para Pedro Jorge resgatar as memórias da sua família a partir da história de seu avô, um filho de libaneses que morava no interior de São Paulo, mas abastecia sua loja com produtos que encontrava na 25 de Março. “Ele vinha a São Paulo e ficava alguns dias aqui. Ele dependia da 25 de Março, era fascinado pela rua, e vir para São Paulo, para aquela região, era um evento para o meu avô, porque era uma forma de se reunir com os amigos, com os ‘brimos’, como eles se chamavam”, diz.
Zeca Miranda utilizou como “protagonista” de “O cheiro de zattar” o Empório Akkar, na Rua Comendador Afonso Kherlakian. “Encontrei o empório Akkar, que está na terceira geração. Foi o avô do Daniel (Nasser, que administra a loja) que criou. Ele era libanês. Depois o pai e agora o Daniel cuidaram da loja. Ao mesmo tempo que ele ainda mantém uma relação muito forte com a cultura, ele precisa se adaptar aos tempos e às mudanças pelas quais também passa a 25 de Março. Eu tento mostrar isso no filme”, disse.
O vencedor do prêmio Júri Popular foi escolhido pelo público que assistiu às quatro produções em cinemas da região metropolitana de São Paulo. Todos os filmes foram exibidos juntos. Ao fim das sessões, os espectadores assinalaram em uma cédula qual havia sido seu preferido. As cédulas foram depositadas em urnas e depois contadas. Venceu o filme com mais votos, que será conhecido nesta noite.
O Júri Oficial escolheu os vencedores das outras duas categorias. Ele foi formado por Silvia Antibas, pelo diretor de Cultura do Icarabe, Geraldo Adriano Godoy de Campos, e pelos cineastas Lina Chamie, Otávio Cury e José Roberto Sadek.
*Colaborou Alexandre Rocha


