São Paulo – O diretor geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Khan, disse nesta sexta-feira (04) que as políticas de estímulo lançadas pelos governos mundiais para combater a crise financeira só devem ser encerradas quando a recuperação econômica se firmar. Ele afirmou, em discurso em Berlim, que a economia global está reagindo, mas recomendou cautela.
“A economia global parece estar finalmente emergindo da pior queda em nossas vidas. Várias economias avançadas, incluindo a França e a Alemanha, já voltaram a crescer, e países emergentes estão se recuperando com mais força ainda”, disse Strauss-Khan.
Ele ressaltou, no entanto, que a retomada deverá ser lenta e que, nas nações desenvolvidas, esse processo é impulsionado por políticas de estímulo e recomposição de estoques, sendo que a demanda privada continua em baixa. Para as economias emergentes, o diretor do Fundo ressaltou que “as previsões são muito melhores”.
“Dada a fragilidade da recuperação, existem riscos de recaída”, afirmou. “O término prematuro de políticas de acomodação monetárias e fiscais é uma grande preocupação”, declarou. “Os formuladores de políticas devem pecar pelo excesso de cautela ao decidir sobre o fim de medidas de combate à crise”, acrescentou.
Como ocorreu no caso da formulação das ações anticíclicas, Strauss-Khan recomenda que os governos tomem decisões coordenadas sobre a suspensão de políticas de estímulo. Para ele, nesse caso a coordenação internacional será tão importante quanto foi na tomada de medidas anticrise, ou até mais.
Strauss-Khan afirmou que sua principal preocupação é com o alto nível de desemprego no mundo. “Eu estou preocupado com os custos sociais e econômicos do alto grau de desemprego, que vai persistir mesmo com a estabilização dos mercados e da produção”, disse. Daí a preocupação em manter as políticas de estímulo até a retomada de fato da demanda privada e do crescimento do mercado de trabalho.
No discurso, o diretor do FMI destacou três áreas essenciais para garantir a sustentabilidade da retomada: a identificação de novas fontes de crescimento; a reforma do sistema financeiro; e o fortalecimento do sistema monetário internacional.
No primeiro item, ele ressaltou que, sob o ponto de vista da demanda, “eventualmente o bastão terá de ser passado do setor público para o privado”. Strauss-Khan recomendou uma readequação da demanda em escala global, com o acerto do sistema financeiro nos países desenvolvidos e a ampliação do mercado interno nas nações emergentes da Ásia.
Do lado da oferta, o diretor do Fundo defendeu reformas para ampliar a produtividade, por meio da flexibilização trabalhista e do aumento da concorrência. Nessa seara, ele citou como exemplo também o apoio ao desenvolvimento de tecnologias verdes.
“Alguns países já adotaram medidas de estímulo ‘verde’ para melhorar sua eficiência energética, que estão ajudando a sustentar uma demanda agregada e os empregos. Tais medidas podem ter também um forte efeito indutor de inovação tecnológica. Os avanços na tecnologia ‘verde’ podem até resultar na ‘revolução dos microprocessadores’ do amanhã e, ao mesmo tempo, ajudar a enfrentar o aquecimento global.”