São Paulo – O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê desaceleração da economia mundial, provocada pela crise fiscal na Grécia e a lentidão da recuperação norte-americana. Por outro lado, o órgão afirma que economias em desenvolvimento, como o Brasil, têm apresentado crescimento vigoroso e até sinais de “superaquecimento”, de acordo com o relatório “Perspectivas da economia mundial”, divulgado nesta sexta-feira (17) em São Paulo. As previsões desta edição do documento, no entanto, são mais modestas do que as divulgadas em abril. Na ocasião, o Fundo previu crescimento de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2011. Agora, reajustou para 4,1%.
Para o FMI, os vilões da recuperação global neste momento são os Estados Unidos e alguns países europeus, principalmente a Grécia. O país está em crise desde 2009 e precisa fazer um ajuste fiscal. O FMI acertou um empréstimo à Grécia e deveria enviar parte do dinheiro nos próximos dias. Mas só garante a liberação da verba se os vizinhos europeus se comprometerem a pagar a dívida se a Grécia der calote. As contas públicas gregas ameaçam contaminar outros países.
Nos Estados Unidos, o governo do presidente Barack Obama enfrenta dificuldades para aprovar no Congresso o aumento do endividamento do país. A taxa de desemprego, atualmente em 9,1%, não se reduz na velocidade esperada. Mesmo assim, o fundo prevê que o país vai conseguir reduzir o seu déficit nominal para 9,9%. A projeção anterior previa 10,8% de déficit. Em abril, o órgão projetou um crescimento de 2,8% da economia norte-americana em 2011. Agora, acredita que ela não crescerá mais do 2,5%.
A situação do Japão também preocupa. De acordo com os dados do FMI, o país asiático deve fechar este ano com PIB 0,7% menor do que o de 2010. A projeção anterior previa crescimento de 1,4%. O motivo para a desaceleração da economia japonesa é o terremoto que destruiu fábricas e afetou a produção do país. O desastre natural no Japão repercute nos Estados Unidos, um dos maiores compradores de produtos japoneses.
Enquanto os países desenvolvidos sofrem para sair da crise, as nações em desenvolvimento vivem outra realidade. Elas precisam conter o aquecimento de suas economias para que a inflação não contamine seus mercados.
"As notícias são boas para o Brasil, mas não são boas para os americanos. Isto é consequência dos ajustes fiscais realizados pelo Brasil, que está mais responsável com suas políticas econômicas”, afirmou o diretor do departamento de pesquisa e economista chefe do FMI, Olivier Blanchard.
O relatório aponta para crescimento forte dos países em desenvolvimento. A China deverá registrar crescimento de 9,6%, a Índia de 8,2%, o Brasil de 4,1% e a Rússia, de 4,8%. O crescimento previsto para a região da América Latina e Caribe em 2011 é de 4,6%. De acordo com a subchefe da divisão de estudos globais do FMI, Rupa Duttagupta, a previsão de crescimento do Brasil foi revisada para baixo por dois motivos: “O governo aumentou os juros e promoveu um aperto financeiro para controlar a inflação, que estava subindo muito”, afirmou.
Inflação não é problema só do Brasil, mas da maioria das economias em desenvolvimento. Para o FMI, o aumento dos preços é resultado de “superaquecimento”, provocando demanda e preços de commodities em alta. A partir de junho, no entanto, o órgão acredita que o preço das commodities irá se estabilizar. Blanchard avaliou que o crescimento das economias emergentes não é fruto somente de fatores externos, mas dependeu também de políticas econômicas adequadas.
Os países do Oriente Médio e Norte da África também deverão crescer neste ano. Segundo Rupa, graças à exportação de commodities, especialmente petróleo, o FMI revisou para cima o PIB da região para 2011: de 4,1% em abril para 4,2% agora. Blanchard, no entanto, afirmou que é difícil traçar previsões de longo prazo para a região, que passa por uma onda de protestos populares e enfrentamentos civis.