Por Heloisa Schurmann*
Tendo o oceano como lar – literalmente – por 41 anos, ou seja, já superando metade da minha vida, posso me considerar uma cidadã oceânica e do mundo. Afinal, o oceano não tem fronteiras. Com três voltas ao mundo completas, a quarta em andamento pela Voz dos Oceanos e muitas aventuras pelos mares do planeta, desde o final dos anos 1990 venho testemunhando a crescente invasão de plásticos descartáveis em nossas águas e areias litorâneas. Diante desse cenário, assumi – ao lado da minha família e da equipe da Voz dos Oceanos – a missão de conscientizar e mobilizar a sociedade para, juntos, revertermos essa realidade.
Nessa jornada, há cerca de um ano, nosso time, baseado em São Paulo, iniciou uma troca importante com a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, avaliando possíveis parcerias de apoio à nossa iniciativa e o intercâmbio de conhecimento e expertises sustentáveis. As conversas sempre foram muito animadoras e, este ano, cruzaram oceanos. Navegando pela Indonésia com a expedição Voz dos Oceanos, dei uma “escapada” do veleiro sustentável Kat e, antes de chegar ao Brasil, fiz uma escala fascinante nos Emirados Árabes Unidos.
Dubai sempre me intrigou, mas vê-la de perto foi ainda mais impressionante. Grandiosa, limpa, organizada, com aquela arquitetura ultramoderna e a areia branca da praia banhada pelo Mar da Arábia. Porém, foi outro lado da cidade que começou a me encantar: o lado ambientalista. Conheci, por exemplo, a World Green Economy Organization (WGEO) e o Jumeirah Al Naseem Turtle Rehabilitation Project. E, em Abu Dhabi, tive a honra de apresentar a Voz dos Oceanos na Embaixada do Brasil, fortalecendo ainda mais a representatividade brasileira na defesa dos oceanos nos Emirados Árabes Unidos.
Desse encontro surgiu uma aproximação com a Sorbonne University Abu Dhabi, que este ano criou seu Instituto do Oceano e, há poucas semanas, marcou presença na Conferência dos Oceanos da ONU (UNOC). E foi justamente em Nice, na França, que participei como uma das painelistas convidadas da universidade. Tive a alegria de compartilhar o palco com o Dr. Ameer A. Eweida, consultor da MENA Oceans Initiative e do Goumbook, integrante do comitê executivo da IUCN World Commission for Protected Areas, e professor de Biologia Marinha da University of Miami, e a Dra. Julia Motte Baumvol, professora Associada de Direito, chefe de Relações Internacionais da Sorbonne University Abu Dhabi.
Além de compartilhar a história e missão da Voz dos Oceanos, tive a oportunidade de conhecer a estratégia de economia circular dos Emirados Árabes Unidos no combate à poluição plástica, que busca promover a cooperação regional e ampliar soluções inovadoras em prol da saúde dos oceanos e de um futuro verdadeiramente sustentável. O painel “Tackling Plastic Pollution in the Middle East & Beyond: Experiences in Policy and Action”, promovido pela Sorbonne University Abu Dhabi na UNOC, foi mais um capítulo de uma promissora parceria entre nossa iniciativa e os Emirados Árabes Unidos em defesa dos nossos oceanos, do meio ambiente… do nosso Planeta Água.
De volta ao veleiro Kat, zarpamos para concluir a primeira volta ao mundo da Voz dos Oceanos, em Belém, no Pará, com uma série de ações especiais para destacar a causa oceânica durante a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) – entre elas, a Casa Vozes do Oceano. Será um espaço democrático e acessível, que contará com uma programação coletiva, conectando – ou reconectando – a sociedade civil com os oceanos. Uma casa para encontros e reencontros felizes… Será que teremos novamente ao nosso lado as vozes oceânicas dos Emirados Árabes Unidos nesse momento tão importante e impactante?
O combate à poluição plástica ultrapassa fronteiras. Idiomas diferentes se unem em uma voz que se entende e ecoa mais forte por todo o planeta. Então, que venham mais encontros, mais diálogos e uma parceria cada vez mais sólida. Porque somos todos a Voz dos Oceanos!
*Heloisa Schurmann é líder da Voz dos Oceanos


