Randa Achmawi, especial para a ANBA
Cairo – Para o ministro das Relações Exteriores do Egito, Ahmed Aboul Gheit, "o estabelecimento de um diálogo no plano cultural representará a espinha dorsal sobre a qual se apoiarão as relações comerciais e econômicas". Em entrevista exclusiva à Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBA), ele falou que é preciso restabelecer e fortalecer as conexões com os "artistas da imigração", que vieram para a América Latina.
Essas relações, segundo Gheit, vêm antes mesmo do plano político. O ministro estará no Brasil na próxima semana para a Cúpula América do Sul–Países Árabes, que acontece em Brasília nos dias 10 e 11 de maio. Ele chefiará a delegação egípcia.
De acordo com Gheit, que vem chamando o encontro de "cúpula das boas intenções", o trabalho de aproximação entre os dois blocos tem de começar pela cultura. "Na América do Sul existem importantes comunidades, sobretudo imigrantes que vieram da região do Levante (Síria, Líbano e Palestina). São escritores e poetas de origem árabes. Isso siginifica que existem conexões antigas entre nós e este grupo de pessoas. Nosso objetivo é restabelecer essas relações e, de alguma forma, fortalecê-las", afirmou.
O ministro disse que o Egito fará "de tudo" para que esse estreitamento cultural aconteça. Depois de resgatadas essas afinidades, então, será possível partir para o plano econômico e político. Segundo Gheit, há muita boa vontade do lado egípcio para que estas trocas ocorram. "Estaremos extremamente satisfeitos com o aprofundamento das relações entre árabes e sul-americanos", disse ele.
Ausência e expectativa
A delegação egípcia na cúpula terá mais de 20 membros. São cinco representantes do Ministério das Relações Exteriores, seis do Ministério do Comércio Exterior e Indústria, 12 empresários e alguns jornalistas. O presidente Mubarak não virá e incumbiu Gheit de representá-lo no encontro. A ausência é justificada pelo momento que o país atravessa. "Estamos num período difícil no Egito, é ano eleitoral, o presidente não pode se ausentar. A presença dele no Cairo, agora, é fundamental", justificou o ministro.
As expectativas da delegação, no entanto, são positivas. A intenção, segundo Gheit, é estabelecer um diálogo "contínuo e regular" daqui por diante para discutir questões culturais, comerciais, econômicas e políticas. Fala-se, inclusive, em novas edições do evento. "Atualmente existe um projeto neste sentido, que será discutido durante a reunião de ministros de Relações Exteriores que antecede a cúpula. Mas não há ainda nada concreto".
Exportações
O ministro falou ainda sobre as exportações do Egito para os países sul-americanos. Disse que o Brasil e a Argentina precisam comprar mais produtos dos egípcios. Para ele, o Egito importa um volume grande e exporta muito pouco para esses países. "Gostaria que a América do Sul importassem mais nossas matérias-primas como o gás, o fosfato e o petróleo". Gheit acredita que a cúpula é uma boa oportunidade para tratar desses negócios. "Por isso estamos levando 12 empresários egípcios na delegação. O objetivo principal deles é descobrir maneiras de aumentar as nossas exportações", afirmou.
O Brasil, no entanto, não é o principal foco dos egípcios. "Precisamos trabalhar nossas relações com a Argentina. O atual volume do nosso comércio com os argentinos é de US$ 500 milhões. Nossas compras deste país representam US$ 495 milhões enquanto nossas vendas para eles são mínimas – US$ 5 milhões", contou Gheit. Outra parceria que os egípcios estam costurando é com os chilenos, que também estão planejando comprar fosfato do país para usar na agricultura.
O fortalecimento das relações comerciais tem um objetivo maior: a formação de uma zona de livre comércio entre o Egito e a América do Sul. O assunto ainda está em estudo, pois existem várias questões para serem debatidas e acertadas, mas, um acordo, segundo o ministro, está próximo.
Pauta Brasil
Para Gheit, existem inúmeras possibilidades na troca entre o Egito e o Brasil, no que diz respeito a investimentos. Indústria e turismo, por exemplo, são setores que podem receber dinheiro egípcio. "No entanto, temos que ser realistas e admitir que, tanto o Brasil quanto o Egito, são países que tentam atrair investimentos estrangeiros", afirmou.
Outro assunto na pauta com o Brasil é a reforma das Organizações das Nações Unidas (ONU). A intenção de Gheit é que as conversas sobre esse tema evoluam durante a cúpula. A situação no Oriente Médio, em especial no Iraque, também estará nos debates.