Dubai – As relações dos países da América Latina com os Emirados Árabes Unidos têm muito a crescer, e por extensão com as demais nações árabes do Golfo. Essa foi a conclusão dos participantes do primeiro dia do Fórum de Negócios Globais da América Latina 2018 (GBF, na sigla em inglês), nesta terça-feira (27), no Hotel Atlantis the Palm, em Dubai.
Chefes de estado, ministro e empresários debateram as oportunidades nas duas regiões no evento organizado pela Câmara de Comércio e Indústria de Dubai (Dubai Chamber), com patrocínio do vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados, o emir de Dubai Mohammed Bin Rashid Al Maktoum. Segundo eles, estas oportunidades podem ser encontradas em vários setores da economia, de alimentos a energia sustentável, passando pelo turismo e até pelas fintechs, empresas de tecnologia voltadas ao setor financeiro.
<
O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Roberto Jaguaribe, foi um dos palestrantes do dia e destacou o trabalho que o Brasil e o Mercosul vêm fazendo no comércio exterior.
“Temos bom relacionamento com os países da Aliança do Pacífico. Nos acordos comerciais, estamos concluindo negociações com Europa e conversando com Canadá, Coreia do Sul, Japão e outros países”, destacou o executivo, que salientou a histórica relação entre Brasil e países árabes. “Milhões de brasileiros têm ascendência árabe. A DP World adquiriu o [terminal Embraport no] porto de Santos e temos a One Foods, a maior fabricante de proteína halal do mundo”, disse. A One Foods é marca de produtos halal da BRF, holding dona das marcas Sadia e Perdigão.
Outro brasileiro a se apresentar no primeiro dia, o diretor do BRICLab da Universidade de Columbia (EUA), Marcos Troyjo, observou que os governos da América Latina avançaram na luta contra a corrupção, um dos principais desafios na região. Segundo ele, Brasil e Argentina mudaram para o liberalismo econômico nos últimos anos e passaram a figurar no radar dos investidores internacionais.
Os alimentos são destaque no comércio exterior atual entre as regiões. Segundo um estudo divulgado pela Dubai Chamber no evento, 9% das importações de produtos agropecuários dos países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC, na sigla em inglês) em 2016 foram em gêneros alimentícios da América Latina. O GCC é formado por Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados, Kuwait e Omã.
Dos R$ 4,3 bilhões importados pela região no período, 80% ficou na Arábia Saudita e Emirados. Segundo a Dubai Chamber, Brasil e Argentina são os maiores fornecedores, sendo que 98% da carne e 91% do açúcar comprados pelos países do GCC são brasileiros. Já a Argentina fornece principalmente cereais e forragem animal.
<
O ex-presidente do México, Vicente Fox, falou sobre a tendência de protecionismo pela qual o mundo passa atualmente, em contraponto com a globalização tão propalada na década passada. Citou como exemplos a saída do Reino Unido da Zona do Euro, os movimentos de independência da Catalunha, na Espanha, e o principal parceiro comercial do México, os Estados Unidos, que desde a posse do atual presidente Donald Trump vêm fechando suas fronteiras a produtos do exterior.
“Oitenta e cinco por cento da balança comercial mexicana é com os Estados Unidos. Foi um erro depender tanto de um só país”, lamentou Fox, que fez algumas críticas ao atual presidente norte-americano. “Negociávamos muito cereal com nossos vizinhos. Agora, passaremos a olhar mais para o Brasil e a Argentina”, disse, lembrando que essa diversificação de mercados abre espaço para mais negócios com os países do Golfo.
Do lado contrário, os Emirados têm interesse em seguir investindo na América Latina. A ministra de Cooperação Internacional dos Emirados, Reem Ebrahim Al Hashimy, disse que o país, que hospedará a Expo 2020 dentro de 137 semanas, acredita em novas parcerias e oportunidades de negócios. “Juntos, podemos chegar mais longe”, afirmou.
O chairman e CEO da DP World, Sultan Ahmed bin Sulayem, citou o aporte de US$ 1,2 bilhão em um porto de águas profundas em Posorja, no Equador. A operadora portuária de Dubai tem presença forte na região: possui terminais na Argentina, Brasil, Peru, República Dominicana e Suriname.
Canais
Por conta de sua ampla diversidade e riqueza ambiental, a América Latina pode dar uma ampla contribuição no desenvolvimento de energia sustentável. Mohamed Al Ramahi, CEO da Masdar, companhia de energias limpas de Abu Dhabi, disse que a empresa e os Emirados desejam investir em países cujo governo pense na energia de forma sustentável. “Até 2050, queremos que 25% da energia consumida nos Emirados seja limpa, a maior parte renovável”, disse, destacando a energia solar como uma opção natural pelas condições climáticas do país.
<
O chairman do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, Gerald Lawless, lembrou que 10% do PIB global vem do turismo, setor que emprega mais de 252 milhões de pessoas em todo o mundo. “Dubai tem três milhões de habitantes e recebe anualmente 16 milhões de turistas”, afirmou. Segundo ele, existem cidades cuja capacidade de receber visitantes está saturada, o que abre opção para novos destinos – e é onde a América Latina pode se destacar.
A edição de 2018 do GBF recebeu uma delegação grande do Panamá, inclusive seu presidente, Juan Carlos Varela. Ele comparou seu país com Dubai: dois pontos de encontro mundiais de pessoas e mercadorias. O país centro-americano, graças ao Canal do Panamá, é um importante polo de distribuição de produtos na América.
Varela confirmou a presença do Panamá na Expo 2020 e assinou, junto com o príncipe-herdeiro de Dubai, Hamdan Bin Mohammed Al Maktoum, um memorando de entendimento para abrir um escritório da Dubai Chamber na cidade do Panamá.