São Paulo – Participantes do Fórum Econômico Mundial na América Latina, realizado na quarta-feira e ontem (16) no Rio de Janeiro, concordaram que o fluxo de comércio e investimentos entre a região, o Oriente Médio e a Ásia vai continuar a crescer apesar da crise financeira mundial, segundo comunicado da organização do evento. O Fórum reuniu empresários, analistas, representantes de governos e entidades internacionais e teve a crise como tema central.
“A explosão dos investimentos e do comércio Sul-Sul é uma grande mudança histórica que a crise não vai parar”, disse o diretor e economista-chefe da área de desenvolvimento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Javier Santiso. “Os países da OCDE não são mais o centro do mundo e a periferia não é mais a periferia”, acrescentou, de acordo com a nota do Fórum. A OCDE conta hoje com 30 membros, em sua maioria nações desenvolvidas.
Na mesma linha, o presidente da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex), Alessandro Teixeira, que também é presidente da Associação Mundial de Agências de Promoção de Investimentos (Waipa, na sigla em inglês), declarou o fluxo de investimentos do Oriente Médio e da Ásia para a América Latina deverá continuar forte, apesar da própria Waipa prever uma redução entre 20% e 30% no movimento global de investimentos estrangeiros diretos (IED) em 2009. “Há, neste momento, uma janela de oportunidade histórica para a América Latina no que diz respeito aos investimentos diretos da Ásia e o Oriente Médio”, ressaltou.
O Brasil é o país que mais recebe IED entre as nações latino-americanas e do Caribe. No ano passado, a entrada desse tipo de recurso no mercado brasileiro bateu a marca recorde de US$ 45,1 bilhões. No primeiro bimestre de 2009, o ingresso de IED ficou em US$ 3,9 bilhões. O Banco Central estima que o volume total de IED que o país vai atrair este ano é de US$ 25 bilhões. Se o número se confirmar, mesmo com a redução em comparação com 2008, será a terceira melhor marca desde o ano 2000.
Ainda de acordo com a nota do Fórum, Daniel Brennan, membro do conselho do escritório britânico de advocacia Matrix Chambers, ressaltou que, para que os países latino-americanos possam aproveitar as oportunidades de investimentos da Ásia e Oriente Médio, eles precisam melhorar sua infraestrutura, e seus sistemas legal e educacional. “Os jovens da região precisam aprender que [a cooperação] Sul-Sul é o futuro”, disse Brennan, que faz parte do painel de consultores do Banco Mundial para a América Latina e as regiões sul e leste da Ásia.
Complementaridade
Segundo análises publicadas no site do Fórum, o foco das nações latino-americanas na atração de investimentos asiáticos e do Oriente Médio esbarra nos problemas que essas duas regiões também estão enfrentando por causa da crise.
Ao citar pronunciamento do ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, o site destaca, porém, que a demanda na Ásia por matérias-primas e a necessidade do Oriente Médio de garantir acesso a fontes estáveis de alimentos, dos quais a América Latina é grande fornecedora, faz das três regiões blocos econômicos complementares.
Um exemplo prático e recente disso é a compra de 19% da Companhia de Alumina do Pará (CAP) pela Dubai Aluminium (Dubal), dos Emirados Árabes Unidos, anunciada esta semana pela Vale do Rio Doce, controladora do empreendimento. A Dubal informou ontem em seu website que entrou no negócio para “assegurar a matéria-prima necessária para abastecer a estratégia futura de crescimento da companhia”.
As oportunidades, no entanto, vão além das áreas de insumos e alimentos, uma vez que, no caso do Brasil, por exemplo, as empresas nacionais investem cada vez mais no exterior e, segundo o site do Fórum, companhias do Oriente Médio e Ásia têm aplicado recursos nas áreas de serviços e tecnologia na América Latina.
Furlan acrescentou que experiências bens sucedidas de países latino-americanos no ramo de energias limpas podem representar uma oportunidade de aumento dos negócios, especialmente com a Ásia. “Nós temos muitas oportunidades na região, mas a maioria dos países não sabe delas”, declarou o ex-ministro, que hoje é presidente do Conselho de Administração da Sadia.

