Dubai – A promoção de investimentos entre países em desenvolvimento e o repúdio ao protecionismo marcaram a cerimônia de abertura e os primeiros painéis do Annual Investment Meeting, conferência sobre investimentos estrangeiros diretos (IED) que começou nesta segunda-feira (09), em Dubai. “Queremos conectar países emergentes e em desenvolvimento”, disse o ministro da Economia dos Emirados Árabes Unidos, Sultan Bin Said Al Mansoori, em discurso.
Diante da possibilidade de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, o vice-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Yonov Frederick Agah, que também participou da abertura, destacou: “Nenhum assunto é mais importante hoje do que reavivar a cooperação internacional”.
Os dois temas permearam também os dois primeiros painéis do fórum, cujo objetivo era discutir a indução do crescimento sustentável por meio dos investimentos estrangeiros diretos. “Os investimentos estrangeiros diretos e o comércio foram os motores do crescimento dos países emergentes e em desenvolvimento nas últimas décadas”, observou o ministro da Indústria, Comércio e Energia da Coreia do Sul, Kim Hyun-Chong, em palestra no início do evento.
Ao contrário da economia e do comércio mundiais, que cresceram, o fluxo internacional de IED recuou no ano passado sobre 2016, mas entre os países em desenvolvimento permaneceu estável, segundo Mansoori. O recorde histórico do fluxo foi atingido no longínquo ano de 2007.
“Há uma década o mundo era diferente, os IEDs e o comércio cresciam, o que coincidiu com o crescimento da economia internacional, a diminuição da pobreza e o desenvolvimento da globalização”, disse Agah. “Agora, por vários anos a abertura parou”, declarou.
Hoje as nações emergentes não são apenas recebedoras de IED, mas também emissoras. Representantes de governos e empresas apresentaram seus modelos para atração ou emissão de investimentos.
Modelos
O presidente da indústria aeronáutica Strata, da holding Mubadala, de Abu Dhabi, Badr Al Olama, disse que os Emirados conseguiram atrair negócios das gigantes Boeing e Airbus porque atualmente a região é a principal compradora de aviões de grande porte.
“E somos parceiros leais, esteja o mercado indo bem ou não”, ressaltou Olama. Ele acrescentou que o país costuma realizar investimentos conjuntos com investidores internacionais, o que inspira confiança. “Encorajamos as companhias a investir com os Emirados”, afirmou.
A secretária-executiva da Comissão Econômica das Nações Unidas para África, Vera Songwe, ressaltou que o continente precisa de investimentos estrangeiros para crescer, mas a maioria do capital que vai para a África é investido na produção de matérias-primas, e os africanos precisam de recursos que sejam aplicados em outros setores, que ajudem na diversificação das economias da região.
Ela citou como exemplo a geração de energia elétrica e principalmente a energia solar. “Há 600 milhões de pessoas sem acesso à energia elétrica na África, e isso é uma grande oportunidade de investimento”, destacou. A mediadora do painel comentou que Songwe é uma pessoa que “vê o copo meio cheio”, pois enxerga uma deficiência como oportunidade em potencial.
O secretário-geral do Mercado Comum da África Oriental e Austral (Comesa), Sindiso Ndema Ngwenya, informou que o bloco de 19 países é mais do que uma zona de livre comércio, mas uma área comum de investimentos. “Os Emirados, por exemplo, vêm comprando empresas na região”, contou. “E em 60 dias seremos 21 países, pois a Tunísia e a Somália vão entrar”, acrescentou.
O vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa e ex-vice-primeiro-ministro de Portugal, Paulo Portas, disse que segurança jurídica e eficiência do Judiciário são muito importantes para a atração de IED. “Nenhum país é competitivo em todas as áreas da competitividade, é preciso escolher onde ser competitivo”, declarou. “Estabelecer uma política para os investimentos é decisivo, os IEDs podem enfrentar instabilidades, mas não permanentemente”, afirmou.
Já o vice-ministro da Economia e Desenvolvimento Sustentável da Geórgia, Giorgi Cherkezishvili, destacou que uma história de sucesso na atração de IED inclui vontade política, estabilidade política, regras claras, facilidade de se fazer negócios, liberdade econômica, baixa tributação e combate à corrupção. “A corrupção é a maior barreira aos IEDs”, declarou.
O secretário-geral do Conselho dos Investidores Internacionais dos Emirados, Jamal Saif Al Jarwan, acrescentou o tamanho do mercado como atrativo para os investidores e a assinatura de tratados de proteção de investimentos. “Investimento em infraestrutura é um dos mais complexos”, comentou.
O presidente do grupo supermercadista Lulu, Yussuff Ali, que tem negócios em diversos países, destacou que o investidor tem “responsabilidade social” para com o país em que está se abrindo um negócio.
Plataforma
Na abertura, que teve a presença do emir de Dubai, vice-presidente e primeiro-ministro dos Emirados, Mohammed Rashid Al Maktoum, o ministro Sultan Al Mansoori ainda apresentou uma plataforma online chamada “UAE FDI Dashbord”, onde é possível ver uma série de dados sobre o fluxo mundial de investimentos. Ele ainda defendeu “mais investimentos nos objetivos de desenvolvimento sustentável” da ONU. “Eles são muito necessários”, declarou.