São Paulo – Apresentado na terça-feira (07) em Brasília, o relatório “Contribuição das unidades de conservação para a economia nacional” é um dos primeiros estudos nacionais que mostra o quanto é possível ganhar de dinheiro com unidades de conservação. O levantamento estima que a extração de madeira, borracha e castanha-do-pará do bioma Amazônia pode render entre R$ 32,7 bilhões e R$ 57,7 bilhões em 25 anos (período de concessão previsto pela legislação).
Poucos, no entanto, obtêm lucros com as unidades de conservação. Segundo Helena Pavese, coordenadora geral do levantamento pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), isso ocorre porque só agora começa a aparecer a renda que a preservação pode trazer.
Helena, que é gerente de política ambiental da Organização Conservação Internacional, afirma que R$ 57,7 bilhões ainda é uma previsão tímida diante do potencial financeiro das unidades de conservação. “Esse dinheiro ainda não apareceu, não foi evidenciado. O propósito deste levantamento é mostrar o valor da biodiversidade e, a partir daí, a importância da conservação”, diz.
Mas há casos que já colhem lucros, e não só com a extração de matéria-prima. De acordo com o técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) que participou do estudo, Jorge Hargrave, o lucro por meio da visitação hoje é maior em regiões com grande população, como a Mata Atlântica e o Cerrado.
“Os parques nacionais de Foz do Iguaçu [no Paraná] e da Tijuca [no Rio de Janeiro] são exemplos. O Parque Nacional de Foz do Iguaçu é o melhor modelo de unidade de conservação que gera renda, pois oferece uma estrutura razoável aos visitantes”, observa. Parques nacionais recebem turistas, que atraem restaurantes e pousadas e geram renda em seu entorno.
Para que o Brasil passe a ganhar dinheiro com as unidades de preservação, diz Helena, é preciso efetivamente implantar as unidades que são criadas. E essa tarefa, afirma, é uma das mais difíceis. De acordo com o relatório divulgado na terça-feira, o Brasil é o quarto país com mais unidades de conservação. Fica atrás de Estados Unidos, Rússia e China. Mesmo assim, é o que menos investe nelas. “Implementar uma unidade de conservação significa elaborar um plano de manejo, concursar funcionários e alocar recursos. As áreas públicas são responsabilidade do governo.”
Outro exemplo de unidade de conservação que já entrega resultados é a Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia. A unidade foi privatizada a três empresas, que podem extrair dela sementes, madeira e resinas. De acordo com o levantamento, esta floresta pode render até 2,2 bilhões de reais por ano com a extração de madeira.
O potencial financeiro nacional pode ser ainda maior do que mostra o relatório. Esta primeira edição do estudo não mostrou quanto se pode obter com a pesca, que será contemplada em outros estudos. Mas se governo e iniciativa privada demorarem a avaliar e investir no potencial da costa nacional, poderão não obter lucro nenhum.
Segundo Helena, em partes da costa no Sul e no Sudeste a quantidade de peixes está caindo rapidamente por causa da pesca descontrolada. “O peixe nasce, cresce, se reproduz e morre. Mas está sendo pescado antes de se reproduzir. A criação de unidades de conservação marinha dá a oportunidade de recuperar o estoque”, diz.

