São Paulo – A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) divulgou nesta terça-feira (01) um relatório sobre a assistência que a agência dá ao povo palestino e alerta que a Faixa de Gaza vai se tornar inabitável até 2020, “se as tendências econômicas atuais persistirem”.
O órgão da ONU ressalta que o bloqueio econômico imposto por Israel ao território já dura oito anos, que nos últimos seis anos a área foi alvo de três intervenções militares e que isso resultou na perda de sua capacidade de produção mesmo para o mercado local, na destruição de sua infraestrutura, sem haver tempo para reconstrução, e na aceleração de um processo de retrocesso econômico e social.
A Unctad cita dados como a falta de água potável – 95% dos recursos hídricos são impróprios para o consumo -, o deslocamento forçado de 500 mil pessoas durante o último ataque israelense, em 2014, a destruição de 20 mil residências, 148 escolas, 15 hospitais e 45 unidades de atendimento básico de saúde.
A entidade cita também a destruição total ou parcial de 247 fábricas e 300 centros comerciais, e os grandes estragos causados à única usina de geração de energia do território, que mesmo antes do último ataque só supria 40% da demanda. O texto acrescenta que os palestinos são proibidos de explorar as reservas de gás natural descobertas no litoral de Gaza na década de 1990.
Segundo o relatório, as três operações militares perpetradas por Israel de 2008 a 2014 causaram danos equivalentes a três vezes o Produto Interno Bruto (PIB) de Gaza, sem contar as perdas de vidas humanas. A agência ressalta que só o setor agrícola sofreu perdas de US$ 550 milhões.
De acordo com a publicação, o desemprego no território atinge 44%, número recorde, e o PIB per capita caiu 30% desde 1994. Além disso, a segurança alimentar atinge 72% dos domicílios e o número de refugiados que depende dos alimentos distribuídos pela ONU saltou de 72 mil no ano 2000 para 868 mil em maio de 2015, o que representa metade da população de Gaza.
O levantamento informa que o apoio de doadores internacionais segue essencial, porém, insuficiente para a reconstrução do território e reversão da tendência de empobrecimento da população.
Recessão
A Unctad fala da situação também nos territórios palestinos ocupados como um todo, incluindo a Cisjordânia, Jerusalém Oriental, além de Gaza. Segundo a agência, o PIB palestino recuou 0,4% em 2014, foi o primeiro ano de recessão desde 2006, e a renda per capita caiu pelo segundo ano consecutivo.
A entidade relata que nos quatro primeiros meses deste ano o governo israelense reteve quase US$ 700 milhões em impostos devidos à Autoridade Nacional Palestina (ANP), e que ações semelhantes ocorreram seis vezes desde 1997, represando a liberação de um total de US$ 3 bilhões.
Estes impostos são pagos na importação de produtos pelos territórios palestinos e coletados por Israel em nome da ANP. A taxa representa 75% da arrecadação tributária palestina.
O texto destaca que, quando liberados os recursos, Israel não paga juros pelo tempo em que o dinheiro permaneceu em seu poder. Por outro lado, os israelenses cobram juros altos e multas quando a ANP atrasa pagamentos de água, luz e saneamento.
A Unctad revela que o desemprego na Palestina como um todo cresceu 3% no ano passado e chegou a 30%, e que a insegurança alimentar atinge um em cada três domicílios. As dificuldades econômicas, segundo o relatório, são ampliadas pelo número crescente de assentamentos israelenses na Cisjordânia, e pelas restrições de movimentação de pessoas e mercadorias.
Para a agência da ONU, estas limitações inibem os investimentos na produção local e aumentam a dependência das importações e da ajuda de doadores internacionais. As crises humanitárias na região e as perdas impostas pela ocupação fazem com que os recursos doados tenham que ser utilizados em ações emergenciais e não em iniciativas de apoio ao desenvolvimento.
A Unctad conclui dizendo que a perspectivas econômicas para o restante de 2015 são sombrias dadas as incertezas políticas, a redução das doações internacionais e o ritmo lento da reconstrução em Gaza.


