São Paulo – O geógrafo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Luis Antonio Bittar Venturi, fará duas palestras no Líbano nesta e na próxima semana. Mestre e doutor em Ciências, o brasileiro falará em ambientes acadêmicos sobre a geografia da América do Sul e sobre a água no Oriente Médio, seus temas de pesquisa e de um livro.
Na próxima sexta-feira, dia 23 de março, Venturi falará na Universidade Saint-Esprit de Kaslik (Usek), em Jounieh-Kaslik, sobre a formação da América do Sul. Ele vai contar como a questão histórica, e principalmente a geográfica, determinaram a divisão da América do Sul em vários países pequenos, de idioma espanhol, e em um país maior, com idioma português, o Brasil.
A influência histórica se dá pelo domínio da Espanha nos países que hoje falam a língua espanhola e da coroa portuguesa sobre o Brasil, que fala português. Mas o professor da USP conta que também a geografia teve influência. No caso do Brasil, a presença de recursos naturais como cana-de-açúcar, pau-Brasil, borracha, entre outros relacionados à biomassa, implicaram em uma maior ocupação do território e consequentemente a formação de um grande país.
Já os demais países sul-americanos se formaram principalmente em torno de minas de prata e ouro, de centros de mineração, o que fez com que se fizessem principalmente urbanos. “Por isso a América espanhola é mais urbana, e isso favoreceu os movimentos revolucionários”, afirma o geógrafo, explicando que esse fato também gerou uma maior fragmentação.
Na Usek, Venturi vai falar com os universitários sobre esses e outros detalhes da formação da América do Sul, às 11 horas, na Sala de Conferências do Campus Principal. O geógrafo foi convidado pelo diretor do Centro de Estudos e Culturas da América Latina (Cecal) da Usek, Roberto Khatlab, após uma conversa sobre o tema. “A vinda do professor Luis intensifica nosso intercâmbio acadêmico entre o Brasil e o Líbano, dentro dos objetivos do Cecal-Usek”, diz Khatlab. A palestra é gratuita.
Venturi falará também no dia 26 de março, no Institute for Strategic & Communication Studies (Isticharia), em Beirute, capital libanesa. O encontro será voltado para professores e especialistas e abordará a questão da água. Venturi defende a ideia de que a água não vai acabar e não será motivo de guerra. Ele fez pesquisa de quatro meses sobre o tema, entre dezembro de 2010 e abril 2011, na Universidade de Damasco, na Síria, como trabalho do seu pós-doutorado.
A pesquisa desenvolvida pelo brasileiro na Síria virou tema de um livro publicado em 2016. Com o título “Água no Oriente Médio – o fluxo da paz”, a obra traz um estudo do paradigma escassez hídrica e conflito. O autor diz que a teoria de que a escassez hídrica causa conflito é amplamente difundida sem que haja fundamentação científica, empírica e conceitual.
Venturi escolheu o Oriente Médio como foco porque na região ocorre essa associação direta dos dois elementos. No livro, porém, ele mostra a bacia do rio Eufrates com seu compartilhamento de recursos por países como Turquia, Síria e Iraque e outros. O estudo conclui que tanto o compartilhamento como a tecnologia tornam insustentável a hipótese da guerra pela água. O brasileiro pesquisou em Damasco com a parceria de Bahjat Mohammad.
Nascido na capital paulista, Venturi tem avô libanês e fala um pouco de árabe. Ele é mestre e doutor pela USP, instituição onde também fez a graduação. Atualmente é professor do Departamento de Geografia da universidade. Além do livro sobre a água no Oriente Médio, o geógrafo tem outras obras publicadas. Os seu trabalhos e pesquisas são norteados principalmente pela tese de que não existe uma crise hídrica no mundo, mas sim uma crise de gerenciamento hídrico.
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