Geovana Pagel
São Paulo – A Sadia S.A., uma das maiores empresas de alimentos da América Latina e uma das principais exportadoras do país, é um exemplo de sucesso brasileiro no mercado internacional. A empresa vende seus produtos para 60 países, incluindo sete nações árabes. As exportações têm representado, ao longo dos últimos anos, mais de 40% do faturamento da companhia.
Em 2002, as vendas externas, no valor de R$ 1,96 bilhão, significaram 42% do faturamento total. Nesse mesmo ano, os países árabes do Oriente Médio responderam por 28% da receita de exportação. Só no primeiro semestre de 2003, o total de exportações, no valor de R$ 1,22 bilhão, representou 45,4% do faturamento da empresa e as vendas para os árabes 24,7% da receita de exportação.
O diretor de Vendas Internacional da Sadia, Guillermo Henderson, que fica baseado no escritório da empresa em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, conta que os primeiros contratos de exportação da empresa foram assinados em 1967, com o então Mercado Comum Europeu. Serviram, principalmente, para a empresa "aprender a exportar".
"Na virada dos anos 1960 para os 1970, seguiram-se viagens de observação, contatos diretos com clientes potenciais e prospecção de países importadores de alimentos", diz Henderson.
Em 1975 a empresa iniciou as vendas de frango congelado para o Oriente Médio. "Os executivos da empresa responsáveis pelas exportações na época, Mário Fontana e Natale Motta, visitaram a Arábia Saudita e em seus contatos, pessoais e diretos, receberam amostras do produto que aquele mercado demandava e exigia", explica Henderson.
No retorno ao Brasil, providenciaram o ajuste dos processos para atender a todas as especificações e realizaram a primeira venda. "Depois disso, as exportações para os países árabes não pararam mais de crescer, numa relação intensa de amizade e fidelidade às especificações do mercado", conta.
O intercâmbio deu tão certo que três anos depois a Sadia já era grande exportadora de frangos para o Kuwait, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã, Yêmen e Arábia Saudita. Dos US$ 6,5 milhões em 1975, a receita das vendas externas aumentou para US$ 21 milhões em 1976 e US$ 106 milhões, em 1980.
Henderson ressalta que nos países árabes as negociações são feitas entre pessoas, muito mais do que entre organizações ou empresas impessoais, o que implica um relacionamento de confiança mútua e transparência.
"O diálogo é direto, acessível, ágil e tão importante quanto a vocação exportadora do parceiro. A competitividade da empresa em preço, qualidade do produto, condições sanitárias e serviços são avaliadas com muito mais apuro e dedicação", diz.
Atendimento às exigências
Segundo Henderson, o contínuo intercâmbio de informações, a adoção de padrões internacionais de qualidade e sanitários, além do forte comprometimento com as necessidades reais dos consumidores árabes, têm sido fundamentais para os bons resultados da Sadia no comércio com o Oriente Médio.
As exigências específicas são atendidas pela Sadia, desde o início das exportações como, por exemplo, o abate de acordo com a Lei Islâmica: o abate Halal. O ritual é realizado em todas as unidades da empresa habilitadas para exportação para os países árabes. Os animais são pendurados com o peito voltado para Meca (cidade saudita sagrada para o Islamismo) e degolados. O sangue deve escorrer enquanto eles ainda estiverem vivos.
Os inspetores religiosos dos países árabes presenciam as linhas de abate e produção para validar o ritual. Além disso, freqüentemente há o intercâmbio de missões árabes nas fábricas para validar a inspeção, solicitar novas especificações para atendimento do consumidor árabe e comprovar as exigências sanitárias.
Sala de orações
Na unidade fabril de Dois Vizinhos, no estado do Paraná, destinada exclusivamente a produzir para os países árabes Oriente Médio, uma sala localizada dentro do escritório da Junta Islâmica, é utilizada pelos sangradores muçulmanos como espaço adequado para a realização de suas orações diárias. A sala tem cerca de 10 metros quadrados e é equipada com um tapete apropriado para esse uso e com um indicador da direção de Meca.
A Sadia também se antecipa às tendências da região. “Em 2001 introduzimos no mercado árabe a Garantia do Selo Verde, certificando que o frango é alimentado com 100% ração vegetal e espontaneamente estendemos essa iniciativa para todo o Golfo”, ressalta Henderson.
Hoje a Sadia exporta frangos inteiros e em partes, embutidos de frango, assim como peru e carne bovina para a Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã e Yêmen.
Potencial de crescimento
De acordo com o diretor Henderson, mesmo colhendo excelentes resultados em seus negócios com os países árabes, as vendas da empresa para este mercado – que engloba 22 países – têm condições de crescer ainda muito mais.
Ele diz que uma prova disso é o trabalho que vem sendo desenvolvido pelos ministérios do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Agricultura e Abastecimento, pelas embaixadas brasileiras na região, pela Agência de Promoção e Exportações no Brasil (Apex) e pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), e que já tem como resultado o aumento das relações comerciais bilaterais entre Brasil e os países árabes.
“Especialmente neste ano, há uma meta governamental específica voltada para os países árabes e acreditamos que estão no caminho certo”, avalia.
Henderson ressalta ainda que as missões comerciais organizadas pela Câmara Árabe-Brasileira têm surtido resultados positivos e crescentes, em vários setores produtivos e exportadores. Como a Sadia já está há muito tempo na região árabe, com relacionamentos diretos e sedimentados, não tem participado diretamente de feiras, mas dá todo suporte necessário às missões do setor comercial de carnes e alimentos.
“O relacionamento de muitos anos com nossos distribuidores e a instalação de uma filial em Dubai, em 2000, nos permitem afirmar que nos sentirmos à vontade e com trânsito suficiente nos países onde atuamos”, conta.
O diretor de Vendas Internacional da Sadia mora em Dubai há quatro anos e garante que se sente lá como se estivesse no Brasil: “O Oriente Médio pode estar distante geograficamente, mas aqui (nos Emirados Árabes) sinto-me em casa, pois apesar de ser cultura diferente, é uma cultura na qual é visível o coração, a emoção e o sentimento. Sinto-me totalmente integrado, contagiado também pela alegria de viver do povo árabe”.
Contato
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Endereço: Rua Fortunato Ferraz, 659
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Fone: 55 11 3649.1534
Site: www.sadia.com.br
Sadia Dubai
Endereço: Al Tawhidi I Building, office 503
Khalid Ibn Al Waleed Road – Dubai – UAE
Fone: (+971) 4 352.0410