Alexandre Rocha
São Paulo – A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) está mobilizando os produtores do estado para atender a demanda dos Emirados Árabes Unidos por produtos agrícolas e da pecuária. A entidade pegou carona na delegação goiana que foi à feira da indústria moveleira Index, em Dubai, ocorrida no início do mês, e enviou o seu assessor técnico, o veterinário Luiz Belchior, e o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes de Goiás, José Magno Pato, que acompanharam o assessor de assuntos internacionais do estado, Elie Chidiac, na viagem. “Antes nós vendíamos o Brasil lá fora, agora estamos vendendo Goiás”, disse Belchior.
De acordo com ele, o grupo visitou vários empresários em Dubai e Abu Dhabi, capital do país. O presidente da Faeg, Macel Caixeta, disse que o interesse dos árabes foi tão grande que agora a entidade está articulando seus diretores, funcionários, cooperativas e produtores locais em uma espécie de “força-tarefa” para conseguir dar conta das oportunidades de negócios surgidas.
“Estamos trabalhando para viabilizar os negócios. O volume de compras não é pequeno e a indústria não está assim tão preparada para atendê-los de uma hora para outra”, afirmou Caixeta. “Nossa idéia é aproximar o produtor do comprador para que eles negociem diretamente, sem intermediários”, acrescentou.
Segundo ele, os árabes demonstraram maior interesse na compra de carne bovina, couro, frangos, leite em pó, açúcar, café e soja.
Carnes
No caso da carne, eles querem comprar 500 toneladas de cortes especiais da parte traseira do boi, 200 já em novembro e 300 em dezembro, além de 2 mil toneladas da parte dianteira desossada a partir de janeiro.
“Goiás produz carne em grandes condições de competitividade, temos o maior rebanho livre de febre aftosa do país, qualidade – temos o boi verde -, além de bom preço”, afirmou ele. O chamado “boi verde” é criado basicamente no pasto, sem a ingestão de hormônios ou outras substâncias químicas.
De acordo com Belchior, Goiás abate por ano 4,2 milhões de cabeças de gado e exporta 15% disso. A carne bovina e o frango são dois itens que o estado pode fornecer em grandes quantidades e rapidamente, segundo ele.
Na mesma linha, Belchior disse que exportar couro não será um problema. “Nós abatemos em Goiás cerca de 4,2 milhões de cabeças de gado por ano, podemos encher os Emirados de couro”, afirmou Belchior.
Já de frango, de acordo com Caixeta, os árabes querem importar 130 toneladas imediatamente e depois cerca de 200 toneladas por mês. Ele disse que a federação está negociando com a Perdigão, que tem uma unidade no estado, para atender a essa demanda, já que o frango consumido nos países árabes é menor do que o comercializado no Brasil e em outros mercados tradicionais, como a Europa, além de ter de ser abatido conforme as regras islâmicas, o chamado abate halal.
A Perdigão já é uma grande exportadora da ave para a região e todas as suas fábricas produtoras de frango têm certificação halal. “Mas acho que provavelmente só poderemos exportar em janeiro, porque até dezembro a produção já está toda comprometida”, acrescentou Belchior.
Soja
No caso da soja, de acordo com Caixeta, os empresários dos Emirados querem comprar 60 mil toneladas por mês. Ele disse, porém, que só será possível fechar o negócio na próxima safra, porque agora não há mais grãos disponíveis nessas quantidades.
Segundo ele, Goiás produz em média 6,3 milhões de toneladas de soja por ano, e a expectativa é que o volume chegue a 7 milhões de toneladas em 2004. Os árabes, diz Caixeta, poderiam comprar entre 700 mil e 1 milhão de toneladas por ano.
Belchior acrescentou que, durante a viagem, o grupo fez contato com um empresário local que está interessado em construir uma indústria para esmagar soja na zona franca de Jebel Ali, em Dubai, e que ele poderá vir ao Brasil no início do próximo ano para tratar de negócios, quando poderá “ver” a soja plantada.
Leite
Quanto ao leite em pó, não foi definida ainda qual é demanda dos Emirados, mas é para dezembro. Goiás produz, segundo o presidente da Faeg, seis milhões de litros por dia de leite “in natura”. O problema nesta seara, de acordo com Belchior, é que os árabes exigem que o produto seja embalado em latinhas, em vez dos sacos de alumínio utilizados pela indústria goiana. A justificativa é que o leite em sacos “empedra” por causa do clima local.
“Falamos com um grupo que tem 35 hipermercados em vários países da região, mas eles não gostaram das embalagens”, afirmou Belchior. Ele disse que a Faeg estuda a possibilidade de fazer uma parceria com alguma empresa local para que o produto possa ser “reembalado” por lá. “Estamos conversando com nossa indústria para ver se ela tem condições de fornecer”, acrescentou Caixeta.
Açúcar e café
No tocante ao açúcar, Belchior disse que os árabes ainda não informaram quanto gostariam de comprar. Mas, segundo ele, a preferência é pelo açúcar cristal e em grandes quantidades. “Ouvi dizer por lá de que cada 20 árabes, cinco são diabéticos, de tanto que eles gostam de doce”, entusiasma-se.
Belchior disse ainda que os empresários dos Emirados demonstraram interesse no café do cerrado, que segundo ele é produzido na região de Cristalina, a 1,2 mil metros de altura e é “o melhor do Brasil”.
“Os árabes querem preço e qualidade, são grandes negociadores”, afirmou Belchior. “É um universo de 2 bilhões de pessoas, porque os Emirados reexportam para toda a região e para a Índia, Filipinas e o norte da África”, completou.
Ele acredita, porém, que só mais para frente será possível dizer com certeza se os números das transações entre Goiás e os Emirados serão realmente grandes. “A partir do momento em que a gente colocar o pé lá e eles aqui esses números serão modificados. No início nós ficamos até meio espantados”, disse.