Alexandre Rocha
São Paulo – O governo de Goiás vai organizar em março do próximo ano uma missão comercial para os países árabes, que deverá seguir mais ou menos o mesmo roteiro da visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará à região em dezembro.
A viagem deverá ser chefiada pelo governador de Goiás, Marconi Perillo, e contará com a participação de empresários de diversos setores da economia local, segundo informou o assessor de relações internacionais do estado, Elie Chidiac.
Lula vai passar pela Síria, Líbano, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Líbia. O cronograma goiano talvez inclua o Marrocos e não passe pela Síria.
Chidiac, libanês de nascença, é um entusiasta dos mercados árabes e levou em outubro representantes do agronegócio goiano para Dubai e Abu Dhabi, nos Emirados, na esteira da delegação do estado que participou da feira do setor moveleiro Index.
O entusiasmo com a viagem foi tanto que os empresários querem fazer uma nova visita para "desbravar aqueles mercados". Membros da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), que participaram da ida aos Emirados, voltaram até espantados com o tamanho da demanda apresentada pelos comerciantes árabes, e agora procuram mobilizar os produtores locais para atendê-la.
Mercado livre
“O mercado dos Emirados é realmente livre, não existem barreiras tarifárias e eles não têm preferência por fornecedores, querem qualidade e preço”, disse Chidiac. “Nós vimos que podemos competir em todas as áreas. O Brasil tem tudo o que eles precisam”, acrescentou.
De acordo com o assessor, é preciso lembrar que as exportações para os Emirados não são exclusivamente para o mercado local, já que o país reexporta muito do que compra para outros países da região e até para fora dela.
“Além dos países do Golfo Arábico, os Emirados atingem a Índia, Malásia, Indonésia, África, o Paquistão, Afeganistão e o Irã. Realmente atingem um horizonte muito grande de países e consumidores”, ressaltou Chidiac.
Na viagem de outubro, os árabes demonstraram interesse em comprar grandes quantidades de carne bovina, frango, couro, leite em pó, açúcar, café e soja.
Ouro, irrigação e vidros
Mas a demanda, explica Chidiac, não se restringe apenas a produtos agrícolas. Segundo ele, surgiram oportunidades para venda de pedras preciosas, equipamentos para irrigação, vidros e até ouro. “Houve um pedido de 70 quilos por dia de ouro, mas isso Goiás não tem”, afirmou.
O assessor conta, porém, que um empresário do setor moveleiro, que também produz equipamentos para irrigação, ficou interessado em obras locais e acredita na possibilidade de fornecimento de material.
“Na área de vidros, para aqueles prédios magníficos que existem em Dubai, poderíamos competir com os europeus com preços muito mais competitivos”, declarou. “Até água mineral nós podemos exportar”, acrescentou.
Mudança de cultura
Chidiac lembrou, porém, que, por ser livre, o mercado dos Emirados é também muito competitivo. Para ele, os empresários brasileiros têm um trunfo, que é a boa receptividade que os árabes têm das coisas do Brasil e, “por tabela”, dos produtos goianos.
No entanto, ele disse que é preciso uma mudança de cultura por parte dos empresários e produtores para que possam realmente competir.
Para o assessor, os empresários precisam ser “mais audaciosos” e ter a cabeça mais voltada para o comércio exterior. “Se você pede uma cotação de determinado produto para um chinês, por exemplo, em um segundo ele já está com ela na mão”, comparou.
Chidiac acrescentou que as iniciativas empresariais têm de ser encorajadas pelo governo, especialmente pelo Itamaraty. “O que dá respaldo para a ação empresarial é a ação política”, afirmou.