São Paulo – Por iniciativa da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) se reuniram na tarde desta quarta-feira (22), em Brasília, com o Conselho dos Embaixadores Árabes para dar esclarecimentos sobre a qualidade das carnes produzidas e exportadas pelo País, após a realização da operação Carne Fraca pela Polícia Federal na última sexta-feira.
“Nós demos informações técnicas, mostramos que até o momento, do ponto de vista da investigação no âmbito do Mapa, não há nenhuma ação que possa indicar riscos na certificação dos alimentos vendidos lá fora ou no mercado interno”, disse à ANBA o secretário de Relações Internacionais do Ministério, Odilson Luiz Ribeiro e Silva.
Ele acrescentou que os problemas identificados dizem respeito à conduta de alguns funcionários da pasta que passaram “informações privilegiadas” para empesas privadas. “Não é possível generalizar, corrupção existe em todos os países”, afirmou Silva, destacando que são investigados apenas 33 servidores, dos 11 mil do ministério.
O secretário ressaltou que houve confusão na divulgação dos dados da operação. “Quando falaram em papelão, confundiram embalagem com ingrediente. Falaram também em ácido, mas é ácido ascórbico, vitamina C, não causa danos à saúde pública, é um produto utilizado pela indústria, principalmente na produção de embutidos”, declarou.
A operação levantou suspeitas do uso de papelão em produtos processados e de ácido para mascarar o cheiro e a coloração de itens vencidos por alguns dos frigoríficos investigados. “É um problema muito localizado”, disse Silva, ressaltando que são somente 21 frigoríficos investigados, num universo de mais de 4,8 mil.
“Do ponto de vista sanitário e da qualidade, nada pode colocar à prova a certificação do ministério, não há nenhuma evidência de danos à saúde até agora”, afirmou. Para ele, a questão tomou proporções internacionais em função de uma “grande ação midiática”.
Segundo o secretário, nenhum país árabe suspendeu as importações de carnes bovina e de frango brasileiras até o momento. “Não recebemos nenhum comunicado oficial”, declarou. “Pelas normas internacionais, não se pode tomar uma medida sem fundamentos técnicos, e não há fundamentos para suspender, pois não há riscos sanitários”, destacou.
O Mapa distribuiu documento com dados técnicos aos diplomatas e se comprometeu a mantê-los informados sobre os desdobramentos do caso. “A maior parte do Conselho foi na reunião e as explicações foram satisfatórias”, disse o decano do Conselho dos Embaixadores Árabes e embaixador da Palestina, Ibrahim Alzeben.
Além dele, participaram do encontro diplomatas da Arábia Saudita, Argélia, Egito, Mauritânia, Iraque, Marrocos, Kuwait, Omã, Líbano, Sudão e Líbia. “Houve debate e perguntas, e o secretário distribuiu um documento confirmando que não existe nenhum risco sanitário nos alimentos”, afirmou Alzeben.
Ele confirmou que nenhum dos países do bloco suspendeu as importações do Brasil. “Houve um aumento de fiscalização, o que é lógico, normal, pois se trata da segurança alimentar dos cidadãos”, observou o diplomata.
Para o decano, a reunião foi positiva. “É um reflexo da importância que damos a este assunto e às excelentes relações que temos com o Brasil. Foi até uma mensagem de solidariedade ao Brasil”, destacou. Os embaixadores esperam que em breve o governo brasileiro apresente informações esclarecendo totalmente o caso.
Comunicação
A abertura de um canal de diálogo direto entre o Mapa e os embaixadores árabes foi vista como um dos grandes trunfos da reunião. “É papel da Câmara Árabe promover esta integração, criando esta ligação direta”, disse o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, que também esteve no encontro.
Segundo ele, o ministério ficou de manter a entidade e as embaixadas constantemente informadas do desenrolar do caso. A Câmara se comprometeu a traduzir os documentos para o árabe e os repassará às representações diplomáticas. “Não tínhamos esta ligação [direta], os embaixadores estavam repassando [aos seus governos] o que saía na mídia”, observou o secretário Silva.
De acordo com Hannun, a Câmara Árabe sugeriu a realização do encontro pois havia se comprometido a buscar esclarecimentos sobre a questão e manter seus associados e parceiros informados.
Participaram da reunião também o vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara Árabe, embaixador Osmar Chohfi, e o diretor-geral da entidade, Michel Alaby. “A reunião foi muito importante, pois permitiu ao Mapa dar ao Conselho informações detalhadas de primeira mão sobre o que as autoridades estão fazendo, sobre a investigação e sobre a importância do mercado internacional, especialmente o árabe, ter certeza de que não há dúvidas sobre a qualidade e a segurança das carnes que o Brasil exporta”, destacou Chohfi.
Assim como Hannun, ele ressaltou que foi aberto um “importante canal de comunicação”. “E a Câmara Árabe teve um papel significativo no estabelecimento deste canal”, afirmou. “Eles (os embaixadores) ficaram satisfeitos com as informações recebidas e para o ministério foi muito importante a reunião, pois trata-se de um dos principais mercados do Brasil”, acrescentou.