São Paulo – A paralisação dos caminhoneiros, que entrou no décimo dia nesta quarta-feira (30) no Brasil, prejudica a exportação aos países árabes. A constatação é da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, que está informando os seus parceiros no mundo árabe a respeito da situação pela qual passa o País e conversando com as indústrias brasileiras para que, diante da retomada da produção e embarques, coloquem o mercado árabe entre as prioridades.
A greve dos caminhoneiros iniciou no dia 21 de maio e começou a ser esvaziada na segunda-feira (28), depois que o governo federal anunciou, na noite de domingo (27), uma série de medidas que estavam na pauta de reivindicações da categoria, como a redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel, correspondente ao valor de dois impostos, o fim da cobrança de pedágio sobre o eixo suspenso e o estabelecimento de preço mínimo de fretes.
Nesta quarta-feira, eram bem menores os pontos de protestos pelo País. Os vários dias de bloqueios nas rodovias, no entanto, fizeram com que cargas perecíveis que estavam em caminhões nas estradas fossem perdidas, causando paralisação de atividades nas indústrias por falta de abastecimento de insumos e dificuldade de os produtos chegarem até os portos para embarque.
“As exportações brasileiras, em sua maioria, dependem da infraestrutura do transporte rodoviário”, afirma o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun. Uma das preocupações da entidade é com as carnes bovina e de frango, produtos dos quais o Brasil é um fornecedor essencial para os árabes. As indústrias do setor foram fortemente afetadas pela greve e muitas tiveram que interromper atividades porque os alimentos para os animais não chegaram até as suas unidades . “A produção está sendo penalizada”, afirma Rubens Hannun.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou que havia frigoríficos de aves com atividades interrompidas no País nesta terça-feira (29) e que parte delas planejava retomar as atividades nesta quarta-feira. Desde o início da greve até a segunda-feira, morreram 70 milhões de aves, segundo a ABPA. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) disse que 1.200 contêineres deixaram de ser exportados em carne bovina por dia em função da greve.
Com retomada gradual da produção e embarques, a Câmara Árabe direcionará esforços para que as empresas tenham, entre as prioridades, o abastecimento do mercado árabe. A região não é autossuficiente em alimentos. “Vamos trabalhar para que a decisão de direcionamento da produção pelas indústrias, neste momento, leve em conta os países árabes, que sempre foram fiéis e assíduos compradores e dependem desses produtos”, disse Hannun.
A Câmara Árabe também está informando seus parceiros árabes – embaixadas, associações, câmaras de comércio, ministérios, conselhos empresariais, entre outros – sobre a situação do País e o possível reflexo no comércio com o Oriente Médio e o Norte da África. “Para que eles possam se preparar de alguma maneira”, afirma Hannun.
Os países árabes juntos formaram o quarto maior destino das exportações brasileiras no ano passado, atrás apenas da China, Estados Unidos e Argentina. O Brasil faturou US$ 13,5 bilhões com vendas para a região em 2017, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) compilados pela Câmara Árabe. Açúcar, carne de frango e minério foram os principais produtos comercializados.
O presidente da Câmara Árabe lembra que um fator atenua o problema do fornecimento causado pela paralisação no Brasil: o fato de os países árabes estarem em Ramadã, período religioso muçulmano em que as pessoas jejuam durante o dia e fazem refeições coletivas e festivas assim que o sol se põe. O grande volume de importações da região costuma se dar antes do Ramadã, o que é feito para que os países fiquem com os estoques de alimentos bem abastecidos no período. O Ramadã começou dia 17 de maio e dura cerca de um mês.