São Paulo – O Grupo Parlamentar Brasil-Países Árabes foi lançado nesta quarta-feira (29) no webinar ‘Como incentivar e desenvolver as relações bilaterais entre o Brasil e os países árabes’ promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em parceria com a certificadora Fambras Halal. O presidente do grupo (foto acima), o senador Jean Paul Prates (PT-RN), falou que o trabalho terá três pilares, o comercial, o político-diplomático e a cooperação técnica. Ele também ressaltou a importância de parcerias socioambientais, em cultura, dos fundos de investimento árabes e no mercado de petróleo e gás.
Para ele, o grande desafio do grupo parlamentar é de liderar dentro do Congresso Nacional a busca por uma agenda que promova as relações comerciais e também as relações políticas e culturais entre os países. “São três os pilares que sustentam essa relação do Brasil com o mundo árabe. O pilar comercial, o pilar político-diplomático e a parte da cooperação técnica. O parlamento brasileiro tem estado vigilante às ações do executivo que possam colocar em risco os interesses das relações com os países que compõem esse arco diplomático importante”, disse Prates.
O pilar comercial, para o grupo, é o mais importante. “Nós compramos fertilizantes, petróleo, são 80% das nossas importações (dos árabes), e exportamos carne, frango, milho, açúcar de cana, minério de ferro, entre outros produtos importantes”, disse o senador. Prates afirmou que os países árabes são uma importante porta de entrada para outros mercados muçulmanos, na África, Oriente Médio e Ásia.
Em relação às oportunidades de investimento no Brasil, ele disse que os setores de tecnologia e agropecuária, além das parcerias público privadas (PPPs) têm se mostrado como alternativas para os árabes. “O Brasil se coloca como um terreno interessante para um investimento nessas áreas. Temos muitas carências e temos os setores de infraestrutura, de energia, relativamente bem regulados e com marcos regulatórios muito firmes”, avaliou.
O senador afirmou que o Brasil tem um grande potencial a desenvolver e consolidar como líder mundial da economia verde na capacidade produtiva, na disseminação de conhecimento técnico, na gestão de agricultura e da biodiversidade, e no desenvolvimento e metodologia de produção de produtos halal, área que ele diz estar atrelada à produção sustentável. “O produto halal é um produto sustentável e o Brasil tem no mercado muçulmano uma via aberta para exploração e expansão das exportações para esse mercado”, declarou. Ele alertou que a manutenção de boas relações diplomáticas entre os países é fundamental, visto o aumento da concorrência mundial. “Há concorrentes em potencial na Austrália, Estados Unidos, Argentina e Paraguai para esse mercado”.
O segundo pilar é o político-diplomático. “É sabido que o atual governo por vezes tem atuado de forma a ameaçar ou minar a excelente relação construída nos últimos anos, com posturas e declarações às vezes politicamente incorretas. A importância do congresso na vigilância do comportamento do executivo é fundamental para manter justamente essas boas relações culturais, comerciais, políticas. O congresso é capaz de fortalecer as relações dos países em nível parlamentar, criando outros níveis de cooperação e relação, de incentivar novas relações, robustecer as já existentes”, afirmou.
Em terceiro, vem o pilar de cooperação técnica. “Podemos cooperar, inclusive, no que diz respeito à covid-19, com o desenvolvimento de vacinas, tratamentos, remédios, equipamentos pra proteção individual, e por aí vai”, disse. Além disso, Prates disse que podem ser criadas parcerias técnicas para que os países aperfeiçoem o uso dos produtos que compõem a balança comercial entre eles, e desenvolvam novas tecnologias nas áreas de combustíveis fósseis, agropecuária, fertilizantes, entre outros.
O senador também falou sobre parcerias socioambientais entre os países, especificamente em projetos de irrigação no Nordeste brasileiro e na facilitação das exportações de pequenos produtores da agricultura familiar.
Prates falou ainda sobre as consequências da pandemia para o setor de petróleo e gás, no turismo entre os países e dos fundos de investimento árabes, além da importância dos intercâmbios educacionais e culturais. “Esses são os objetivos do grupo parlamentar, a tramitação de matérias legislativas de interesse da relação do Brasil com os árabes, esse intercâmbio é importantíssimo porque isso promove também a vinda de entidades da sociedade civil para dentro desse debate, instituições públicas e privadas. E sempre lembrando do segmento de cultura e arte, extremamente importantes, que não podem ser deixados à míngua, principalmente agora com esse período onde principalmente os artistas e artesão estão muito ameaçados porque suas atividades econômicas estão interrompidas”, disse.
A vice-presidente do grupo e deputada federal Angela Amin (PP-SC) também participou do webinar. Ela afirmou que o grupo tem o papel de identificar e propor a tramitação de matérias legislativas, atuando como facilitador de uma pauta conjunta, e destacou a importância do agronegócio, da segurança alimentar, da logística, de parcerias estratégicas, do intercâmbio de conhecimento e cultural e de investimentos necessários entre os países. “Para que nós possamos fortalecer esse intercâmbio e que todos possamos ganhar, em todos os sentidos, nas mudanças que se fazem necessárias a partir das análises da pandemia”, disse.
O webinar contou com a participação de mais de 800 ouvintes não só do Brasil e do mundo árabe, mas também das Américas, África, Europa e Ásia, com representantes de setores públicos e privados. “A covid-19 nos mostra que por mais que tenhamos novas tecnologias sendo descobertas e criadas diariamente, é necessário pensar um futuro cada vez mais humano. Discutir, planejar e construir políticas públicas, parcerias e ações conjuntamente”, disse o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, na abertura do evento virtual.
A criação do grupo parlamentar, para Hannun, é de extrema importância. “Há muito a ser trabalhado para aumentar ainda mais as relações comerciais, sociais e culturais entre os países, principalmente quando falamos da desburocratização ao comércio exterior, da quebra de barreiras alfandegárias, acordos comerciais entre o bloco do Mercosul e países árabes. Temos um exemplo bastante positivo, que é o acordo de livre comércio Mercosul-Egito, e outros que estão em negociação como o acordo com a Palestina, Líbano e Tunísia”, declarou.
O presidente da Fambras Halal, Mohamed Zoghbi, também falou no webinar e afirmou que o halal brasileiro é um dos mais confiáveis do mundo. Segundo ele, o processo tem cerca de 50 anos no País. “Investimos fortemente para estar sempre na vanguarda da certificação. Temos o melhor halal do mundo, mesmo não sendo um país islâmico. Temos mais de 50 anos trabalhando pelo respeito, confiabilidade e legislação sanitária”, disse. Ele falou sobre a importância da segurança alimentar e da certificação halal, e sobre a possibilidade de haver um banco que atue com finanças islâmicas no Brasil para garantir mais investimentos de fundos árabes.
Também participaram do webinar o embaixador da Palestina em Brasília e decano do Conselho de Embaixadores Árabes no Brasil, Ibrahim Alzeben. Para Alzeben, o grupo parlamentar servirá para manter e cuidar das relações. “O Brasil sempre manteve excelentes relações com o mundo árabe. Fico feliz em dizer que estamos fazendo todo o possível para manter as relações entre o Brasil e os países árabes”, declarou. O evento virtual teve mediação do secretário-geral da Câmara Árabe, Tamer Mansour, e participação também do secretário-geral da Arab Investors Award, Natheem Sabbah, e de Jamal Fariz, da Câmara de Comércio da Jordânia.
Dados
Os países árabes são o terceiro principal destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China e Estados Unidos. Em 2019, a corrente comercial entre o Brasil e os 22 países árabes foi de mais de US$ 19 bilhões, pouco mais de US$ 12 bilhões em exportações, e quase US$ 7 bilhões em importações. “Esse comércio, baseado boa parte em commodities, faz do agronegócio brasileiro a peça-chave dessas relações. Produtos como carnes, açúcares e grãos estão entre os cinco produtos mais exportados para o bloco árabe. Os setores de cosméticos, maquinário agrícola, médico-hospitalar, tecnologia e inovação possuem grande potencial de intercâmbio. A parte de investimentos também é um ponto forte do povo árabe, principalmente na região do Golfo. E os países árabes podem ser considerados parceiros estratégicos no crescimento da economia brasileira nos próximos anos”, avaliou Hannun.