São Paulo – O Grupo Pinesso pretende triplicar as suas lavouras no Sudão, país árabe do Norte da África, onde atua desde 2010. Neste ano, a empresa brasileira plantou 10,5 mil hectares com algodão, milho, sorgo, feijão e girassol, mas pretende chegar a 30 mil no ano que vem, segundo o presidente do grupo, Gilson Pinesso. O empresário, entusiasta por levar agricultura para a África, viaja para o Sudão nesta semana para fazer o plano da próxima safra.
A empresa pretendia chegar a 20 mil hectares em 2013, mas o atraso das chuvas no país a fizeram rever os planos. As precipitações, que normalmente começam em maio no Sudão, neste ano deram as caras apenas lá pela metade de julho e pararam na mesma época de sempre, início de outubro. “Tivemos um problema mais sério, de chuvas mais escassas”, afirma Gilson, complementando que os índices pluviométricos foram atípicos.
Mesmo assim, o empresário brasileiro não perdeu a crença no potencial do Sudão para a agricultura. Em 2013, foram plantados 5,5 mil hectares com algodão, dois mil hectares com milho, dois mil hectares com sorgo, 500 hectares com feijão e 500 hectares de girassol. Os planos de Gilson são manter a extensão de algodão e aumentar as lavouras de milho, sorgo e feijão.
Enquanto que a pluma de algodão tem perspectiva de preços baixos nos próximos anos e é exportada pelo Grupo Pinesso do Sudão para a China, Indonésia, Turquia e Egito, os outros três produtos encontram um mercado interno forte. O milho é usado para fazer ração para o frango e como matéria-pirma do óleo de milho, o feijão é bastante consumido no país e o sorgo é usado na alimentação cotidiana, para fazer produtos como pães e uma espécie de polenta.
Gilson lembra que o Sudão é um grande produtor de sorgo, mas o milho tem um nível de proteína melhor e por isso tem grande procura. “Se tivéssemos mais milho, atenderíamos melhor [o mercado local]”, afirma o empresário. Enquanto a tonelada do milho está cotada a US$ 90 no Mato Grosso, no Sudão ela custa US$ 350 atualmente.
O que forma esse quadro no país, de alta demanda e preços elevados para os alimentos, é um conjunto de fatores, entre eles a produtividade baixa do Sudão e o consumo grande da população. Somado a isso, segundo Gilson, o Sudão enfrenta problemas de divisas cambiais já que, com a divisão do país ao meio, ele perdeu grande parte das suas receitas de exportação de petróleo. Com isso, deixaram de entrar dólares no mercado.
“E ainda tem essa desgraça do embargo norte-americano que prejudica principalmente a população mais pobre”, afirma o empresário. O embargo dos Estados Unidos dificulta principalmente a obtenção de financiamento junto a bancos internacionais, para setores como comércio internacional e investimentos. “Quem sofre é a população”, afirma Gilson.
Apesar dos problemas climáticos, o Grupo Pinesso está satisfeito com o desempenho encontrado nas lavouras sudanesas. O algodão deve ter produtividade de 2.700 kg por hectare. “Este ano esperávamos uma produtividade espetacular de algodão”, afirma Gilson, lembrando que a empresa aprendeu a lidar com as características do solo sudanês, a terra está mais fertilizada e as variedades são mais adequadas. A falta de chuvas, no entanto, impediu atingir o objetivo de 3.600 kg por hectare. A colheita começará em 10 de dezembro.
Mas o feijão foi colhido em meados de outubro e rendeu 1.500 kg por hectare, um volume que, segundo Gilson, é considerado bom para a tecnologia empregada. O milho está em colheita, assim como o sorgo, e deve render 5.500 kg por hectare. “O custo de produção é baixo e o preço interno do milho muito bom”, disse o empresário. O sorgo deve ter produtividade de 2.400 kg por hectare e o girassol de 1.200 kg por hectare.
O Grupo Pinesso trabalha no país com apoio do governo. Ele tem concessão para usar 100 mil hectares de terras e por isso tem possibilidade de ampliar a área. Atualmente, trabalham 23 brasileiros para a empresa na nação africana. “Já foram mais brasileiros, mas estamos usando mão de obra sudanesa capacitada”, afirma Gilson. Os sudaneses foram treinados por técnicos brasileiros e também vieram ao Brasil treinar nas lavouras dos Pinesso.
Alguns profissionais que se formam em uma escola agrícola no Sudão são capacitados, com a prática, nas lavouras cultivadas pelos Pinesso. O grupo brasileiro costuma receber produtores sudaneses para acompanhar o cultivo e assim repassar conhecimento na área. “Com a nossa presença já melhorou a agricultura sudanesa”, afirma Gilson.
O empresário esteve recentemente na África do Sul para um seminário sobre projetos brasileiros no continente africano e voltou bastante entusiasmado. Gilson espera que no futuro outras empresas agrícolas brasileiras implementem projetos no Sudão e África e assim ajudem a gerar renda no continente.
O Grupo Pinesso é uma das grandes empresas agrícolas do Brasil. Além de atuar na agricultura, ele também tem negócios na área de pecuária, máquinas agrícolas e logística, entre outras.